Uma das maiores preocupações de
quem chega à terceira idade é ter conforto, por isso os investimentos em
aposentadorias privadas e planos de saúde estão cada vez mais recorrentes. Esse
comportamento reflete a transformação social que o Brasil está vivendo com o
envelhecimento da sua população. No entanto o médico Yuji Magalhães Ikuta faz
um alerta: ainda são poucos os estudos voltados para a velhice e esse número
decresce quando se fala das doenças infecciosas.
Pensando em quais agravos podem
afetar a população idosa no futuro, Yuji Ikuta escreveu a dissertação Aspectos
epidemiológicos das doenças infecciosas em idosos no Estado do Pará,
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais (NMT/UFPA), orientada pela professora Marília Brasil
Xavier.
O médico conta que a pesquisa
avaliou a incidência das doenças infecciosas ao longo da história e, baseado
nessa avaliação, fez uma projeção da tendência dessas patologias até 2020. “O estudo,
em razão da sua abrangência, demonstra o cenário da realidade do Brasil e suas
especificidades regionais e, neste sentido, serve como um alerta para a
população e para os gestores, pois foram identificadas elevadas incidências de
doenças que já deveriam ter sido erradicadas. A partir disso, é fundamental que
medidas de prevenção e combate sejam tomadas”, avalia.
Para Yuji Ikuta, as doenças mais
recorrentes foram aquelas identificadas entre a população de renda baixa. O
professor utiliza a malária como exemplo desse fato, afirmando que, enquanto
nos centros urbanos ela já foi erradicada; nas cidades do interior do Estado o
diagnóstico ainda é comum. “Toda campanha que é feita tem um resultado, mas
devemos avaliar se ele é o melhor possível. É preciso questionar o ‘controle’ e
verificar o porquê dessa doença ainda existir. Somente aprendendo com os nossos
erros é que vamos poder acabar com essas infecções”, observa.
Alta incidência de AIDS, dengue e
hepatites
O professor informa que utilizou
14 doenças infecciosas de notificações compulsórias, que ocorreram
especificamente em idosos: dengue, tuberculose, hanseníase, leishmaniose
tegumentar americana (LTA), hepatites, AIDS, doença de chagas,
leptospirose, leishmaniose
visceral (LV), meningite, tétano, febre tifoide, malária, esquistossomose. O
estudo contou com a coleta dos dados disponíveis no Sistema de Informações de
Agravos de Notificações (SINAN) sobre essas doenças, entre os anos de 2003 e
2012.
Com essa metodologia, foi
possível verificar o cenário de cada doença. A partir disso, foi realizada a
comparação dos dados com os do Pará e com os da população não idosa. Foi
observada alta incidência de AIDS, LTA, dengue, hepatites, LV e doença de
chagas, manutenção das taxas de tuberculose, hanseníase, leptospirose,
meningite, tétano e esquistossomose, e redução dos índices de malária e febre
tifoide. Enquanto a tuberculose, a hanseníase, a dengue, a LTA e as hepatites
virais em idosos, nos últimos anos, tiveram um aumento em relação à população
não idosa.
De acordo com a pesquisa, até
2020, a tendência da AIDS, da dengue e da tuberculose é aumentar; da malária e
da febre tifoide decrescer; e da hanseníase, se manter. Já no Pará, a
incidência das doenças infecciosas mostrou-se maior que no Brasil, com a dengue,
a tuberculose, a hanseníase, a LTA, as hepatites e a AIDS tendo destaque.
Para Yuji Ikuta, as questões de
saneamento e de educação são fundamentais para o planejamento e a abordagem da
saúde nas comunidades e devem ser prioridade dos governos. Ele explica que
devem existir medidas de curto prazo que eliminem o ciclo de transmissão dessas
doenças e planejamento de ações para expandir e qualificar o sistema de saúde.
“Nós esquecemos que esse grupo
pode ter infecções, como as DSTs, e fazemos políticas que não o alcançam. Nesta
pesquisa, uma das doenças que mais apareceram foi a AIDS, porque esse grupo não
tem por hábito usar camisinha. Então, fazer campanhas que os incentivem e
ensinem a usar o preservativo e preparar o profissional da saúde para lidar com
essa demanda é fundamental”, afirma.
* Colaboração Ascom/UFPA