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Projeto Kuarika Nakuri - Foto Nailana Thielly - Ascom-Uepa |
O Ministério Público Federal (MPF) convidou gestores públicos para uma reunião nesta terça-feira (12/06) de apresentação de projeto educacional para os indígenas venezuelanos da etnia Warao que estão em Belém desde o segundo semestre de 2017. O objetivo é detalhar os principais pontos do projeto e definir as providências necessárias para que as aulas comecem ainda este mês. O evento será realizado às 10h30, na sede do MPF em Belém, no bairro do Umarizal.
Foram convidados o governador do
estado, Simão Jatene, o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, e os titulares das
secretarias estadual e municipal de educação, da Secretaria de Estado de
Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster) e da Secretaria
Extraordinária de Integração e Políticas Sociais (Seips), além do reitor da
Universidade do Estado do Pará (Uepa), Rubens Cardoso.
A elaboração da proposta educacional
foi solicitada pelo procurador da República Felipe de Moura Palha a um grupo de
trabalho coordenado pela Uepa, por meio do Núcleo de Formação Indígena (Nufi).
Integrado por órgãos estaduais e municipais e de organizações não
governamentais, o grupo construiu a proposta com a participação dos indígenas.
‘Vamos em frente’ – Intitulado Kuarika Nakuri, que
significa ‘Vamos em Frente’ na língua Warao, o projeto considerou a Convenção
169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), das Nações Unidas, sobre as
populações indígenas, informa a coordenadora do Nufi, Joelma Alencar.
Também foi levada em conta a
abordagem intercultural, que reconhece valores, saberes tradicionais e práticas
das próprias comunidades, para garantir o acesso a conhecimentos e tecnologias
que viabilizem a interação e a participação cidadã.
A experiência da Uepa
desenvolvida a partir do curso de Licenciatura Intercultural Indígena auxiliou.
“É algo muito novo, apesar de alguns traços culturais se aproximarem lá e aqui.
Os indígenas que estão em Belém não são aldeados nem citadinos, são migrantes.
A participação deles foi decisiva e o nosso papel foi de intermediar o seu
protagonismo”, explica.
Autonomia – Os Warao são o
segundo povo indígena mais populoso da Venezuela e habitam a região do Delta do
Orinoco. Desde 2014 têm empreendido migrações para o Brasil em busca de
melhores condições de vida, entrando no país pela fronteira de Roraima e
seguindo para o Amazonas e Pará, nos municípios de Santarém e Belém. Geralmente,
os homens falam o espanhol e têm dificuldades de se comunicar em língua
portuguesa. Para as mulheres essa questão ainda é mais complexa, pois só falam
a língua própria do povo.
Por isso, os princípios que regem
o projeto buscam o letramento, que é diferente da alfabetização, pois
possibilitará a interação e a autonomia em território brasileiro. As etapas de
elaboração iniciaram com um estudo sociolinguístico. “O levantamento buscou
identificar aspectos como idade, escolaridade, grupos de famílias, língua
materna, conhecimento oral e escrito dos dialetos Warao, espanhol e português”,
destaca a assessora linguística do projeto, Eliete Solano.
Foram mapeados três perfis de
alunos: homens adultos , adolescentes , e mulheres e crianças que estudarão
juntos em uma dinâmica adaptada, conforme a cultura deles.
Aulas – As aulas devem ocorrer
no Bosque Rodrigues Alves e em escolas nas proximidades do principal abrigo em
que os Warao estão alojados, no bairro da Pedreira. O projeto estabelece que o
ideal é que os professores também sejam os próprios Warao, após passarem por
preparações específicas. Está prevista carga horária para docentes da rede
pública de ensino familiarizados com a questão.
O conteúdo das disciplinas está
centrado nas áreas de linguagem e arte; ciências da natureza e matemática; e
ciências humanas e sociais. Os temas abordarão assuntos relacionados aos
interesses dos indígenas, como agricultura, pesca, artesanato, aliados a outros
tópicos necessários para a autonomia deles, como empreendedorismo.