Uma nova mamãe deixou animados os
pesquisadores do Grupo de Biologia e Conservação de Mamíferos Aquáticos da
Amazônia (BioMA), que une pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA)
e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Uma das fêmeas do grupo de
botos vermelhos (Inia araguaiaensis) que vive na orla da cidade de Mocajuba, no
Nordeste do Pará, está grávida e o novo filhote deve nascer em 2019.
“Cara cortada”, como foi batizada a
mãe-boto, já vinha sendo acompanhada pelos biólogos e veterinários há mais de
três anos e já teve um filhote. “Percebemos alguns sinais de que ela poderia
estar grávida e um exame de ultrassonografia confirmou a gestação, que nos
botos dura cerca de dez a onze meses e o filhote anterior, uma fêmea, já esta
emancipada. Ela continua frequentando a orla da cidade, mas agora vem
desacompanhada”, anuncia Gabriel Melo Santos, integrante do BioMA.
A gestação foi comunicada para o poder
público local e comentada com os moradores da cidade. A gravidez de um dos
integrantes “é um bom sinal do ponto de vista que estes animais reproduzem
mesmo nestas condições e porque é mais um indivíduo para o grupo. Mas é
preocupante porque o filhote certamente será mais incomodado pelos humanos. Por
isso, é ainda mais importante as ações educativas que evitem situações que
causem sofrimento a esses espécimes”, explica o biólogo.
Com a palavra, o boto! Do rio para o
imaginário, no último domingo, 8 de julho, durante uma tarde ludicoeducativa na
Praça Matriz da cidade, foi um boto quem explicou a crianças e adultos a
importância dos mamíferos aquáticos e orientou sobre a os cuidados com o meio
ambiente e sobre o convívio com os animais selvagens que já são parte da
comunidade de Mocajuba.
O arteducador Leonel Ferreira, vestido a
caráter como “boto” - o ser mítico que se transforma em homem, seduz e
engravida jovens durantes festas as margens dos rios da região - usou bonecos
de peixe-boi, tartaruga e baleia para explicar mais sobre a fragilidade dos
mamíferos aquáticos da Amazônia. Os botos sempre se relacionaram com os
moradores da cidade e, principalmente, há uma relação com os feirantes do
Mercado de Mocajuba e com as crianças e jovens do município.
(https://goo.gl/M34SK9)
Segurança dos botos ainda é preocupação
– Para os pesquisadores do BioMA a interação entre os botos e os humanos deve
ser preservada e cercada de cuidados. A fêmea grávida, “Cara cortada”, recebeu
esse nome após ter sido cortada no “melão”, num local que é usado para emissão
de sons, que por sua vez, são importantes para a localização dos animais
enquanto nadam. Além dela um macho me machucou no bico após ter sido amarrado
com fios de náilon na orla da cidade. Ambos correram risco de morte.
Outra fêmea, conhecida pelos
pesquisadores como “Viti”, por sua descoloração próximo aos olhos, foi
encontrada com uma ferida recente. “A outra fêmea apareceu machucada, sem parte
da mandíbula. Sabemos que não foi no Mercado de Mocajuba e provavelmente ela se
machucou em artefato de pesca”, conta Gabriel Melo Santos.
Outro incidente também marcou a
expedição. Uma moradora de Mocajuba foi mordida no fim de semana por botos após
tentar dar vários peixes a eles e ter colocado a mão na boca de um dos animais,
o que é desaconselhável pelos pesquisadores. “Estamos alertando sobre como deve
ser a interação e explicando que os animais não são pets, são animais
selvagens, que nunca devem ser tocados, especialmente, próximo a região da boca
e de seu orifício de respiração”, orienta o doutor em teoria e pesquisa do
comportamento pela UFPA.
Serviço:
Expedição do BioMA em Mocajuba para
acompanhar botos
De 7 a 10 de julho
Orla da cidade de Mocajuba
Contato: bioma.ufpa@gmail.com
Leia mais:
Expedição de Grupo de pesquisa grava
“conversas de botos” no Pará (https://ww2.ufpa.br/imprensa/noticia.php?cod=12044)
Entre meninos e botos: um amor pela
Etnobiologia (https://goo.gl/M34SK9)
Pesquisadores viajam a Mocajuba
preocupados com o turismo com botos (https://goo.gl/gf8maJ)
* Colaboração? Assessoria de
Comunicação da UFPA
Foto: Ricardo Calazans e Gabriel Melo
Santos/BioMA.