Outra doença que preocupa os moradores
da região Norte é a doença de Chagas. O Laboratório Central do Estado
(Lacen-PA) monitora, de perto, os barbeiros, principal transmissor da doença. O
procedimento é um pouco diferenciado devido ao comportamento do inseto, porque
quando o homem entra no ambiente dele, ao invés dele atacar a pessoa, ele se
esconde e não adianta sair para tentar capturá-lo.
Sendo assim, a equipe conta com o apoio
da população para ajudar nessa captura das amostras de insetos. Para isso, são
instalados em lugares estratégicos no município e nas Secretarias Municipais de
Saúde, Postos de Informação de Triatomíneos (PIT), para que o próprio morador
ao se deparar com o inseto na sua rotina possa capturá-lo e entregá-lo no
posto.
Quando o PIT já está bem estabelecido na
Secretaria Municipal de Saúde, ele pode ser ramificado para as localidades com
a colaboração de líderes comunitários que ficam responsáveis pela entrega e
arrecadação dos kits junto à população. As amostras, então, são encaminhadas
para o Centro Regional de Saúde, que encaminha para o Lacen-PA.
"No laboratório, o inseto é
identificados para se certificar que se trata de um triatomíneo realmente, já
que há muitos insetos parecidos com o barbeiro, e verificada a infectividade.
Se der positivo para as duas coisas, a gente informa a Secretaria Municipal,
para fazer uma busca ativa por equipe da Entomologia local e verificar se estão
se reproduzindo na casa ou não e oriente a família. O trabalho é mais intensivo
quando se encontra um triatomíneo positivo para Doença de Chagas na casa",
relatou a chefe da Divisão de Entomologia, Paoola Vieira.
"E quando tem surto de Doença de
Chagas em algum município, a Divisão de Entomologia também é acionada para
fazer a investigação. Vamos ao ponto de açaí onde foi detectado pela
Epidemiologia, e se faz o rastreamento no sentido inverso até chegar à origem
da contaminação", acrescentou Paoola.
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O barbeiro pode ser encontrado nos pandeiros de açaí - Foto: Agência Brasil |
Gustavo Cruz, técnico responsável pela Vigilância da Doença de Chagas na Sesma, explica que em Belém todos os casos agudos de doença de Chagas estão relacionados à transmissão oral, através do consumo de alimentos, como o açaí, contaminados pelo parasita Trypanossoma cruzi, agente causador da doença de Chagas que está presente nas fezes do barbeiro, inseto transmissor da doença. “Nos últimos três anos, temos registrado doença de Chagas durante ano inteiro. Porém, durante a safra do açaí, de junho a dezembro, temos um aumento significativo dos casos”, informa. Somente em 2018, 23 pessoas já foram confirmadas com a doença em Belém, sendo cinco por contaminação em outros municípios
O trabalho é fundamental e age quebrando
o ciclo da transmissão. No caso do barbeiro, o trabalho é educativo, diferente
de quando se trata de leishmaniose. Pois nessa endemia, quando a Entomologia
confirma uma alta infestação de mosquito palha transmissor da doença, elevando
o risco de transmissibilidade da doença, a informação é passada para a
Coordenação Estadual de Leishmaniose, que aciona o controle químico para fazer
uma borrifação na localidade para reduzir a quantidade de mosquitos, pois é
difícil falar em eliminação do vetor quando se trata de região amazônica e o
ser humano vive em áreas muito próximas ao ambiente dos mosquitos. "Então,
o que tentamos fazer é diminuir ao máximo possível os riscos", observou a
entomologista.
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* Reportagem: Celso Freire