Pesquisa divulgada pela
organização não governamental Instituto Oncoguia, baseada nos Registros
Hospitalares de Câncer (RHC) do Instituto Nacional de Câncer (Inca), mostra que
86,2% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados em estágio avançado no
Brasil. O levantamento considerou 6,9 mil casos de câncer de pulmão registrados
no ano de 2016. Nos estados do Pará, Ceará e Bahia os registros tardios chegam
a 95% e, em Sergipe, 100%.
“Esses números são
extremamente preocupantes, considerando que o câncer de pulmão é o que tem
maiores índices de mortalidade no mundo e as chances de cura estão diretamente
relacionadas ao estágio em que a doença é descoberta”, alerta o cirurgião
oncológico Antônio Bomfim.
No caso dos tumores
identificados em estágios avançados (3 e 4), a chance de o paciente morrer nos
próximos cinco anos é de aproximadamente 90%.
Segundo o Globocan,
projeto da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), em 92% dos
registros o paciente morre em decorrência da doença. O câncer de pulmão é o que
mais mata no Brasil, apesar de ser o 4º em incidência (sem considerar o câncer
de pele não melanoma), atrás do colorretal, em 3º lugar; do de próstata, em 2º;
e do câncer de mama, o mais incidente no país.
Os números divulgados pelo
Oncoguia indicam ainda que em 79,1% dos casos de câncer de pulmão há relação
com o tabagismo (os pacientes eram fumantes ou ex-fumantes). Apenas 21% nunca
tiveram contato com o tabaco. “O lado bom disso é que o câncer de pulmão ao
mesmo tempo que é o tipo mais letal, é evitável. Quem não fuma e não é fumante
passivo tem as chances de ter a doença reduzidas drasticamente”, explica o
médico.
Para 2019, o Instituto
Nacional do Câncer (Inca) estima 31.270 novos casos. A grande diferença entre o
número de casos estimados e o número de casos notificados, registrados
oficialmente reflete um outro problema, que é a subnotificação. “As políticas
públicas são baseadas em dados oficiais e apenas 24,5% dos casos foram
oficialmente notificados no Brasil em 2016. Precisamos que a notificação
compulsória do câncer, que é uma lei que já foi aprovada há um ano, seja
implementada”, destaca o especialista, antes de falar da evolução do
tratamento.
Uma das maneiras de
tratar o câncer de pulmão é por meio de cirurgia. “É a melhor opção de
tratamento nos casos iniciais. Nos demais casos, o tratamento é decidido de
forma multidisciplinar, entre o cirurgião, oncologista clínico e
radioterapeuta”, explica o cirurgião torácico e oncologista Antônio Bonfim.
“Nos tumores iniciais, a chance de cura é de mais de 80%”, destaca ele.
“Por ser considerado um
procedimento de grande porte, buscamos sempre as melhores técnicas para
minimizar o sofrimento dos pacientes. A técnica de cirurgia por vídeo é o que
existe, hoje, de menos invasivo. A maioria das cirurgias ainda é feita com duas
ou três incisões – técnica multiportal, mas já há uma evolução da técnica para
a uniportal, com apenas uma incisão. Esta é a que mais cresce no mundo”,
explica o médico.
O cirurgião paraense
acaba de voltar da China, onde participou de um curso de especialização em
cirurgia torácica pela técnica Uniportal, no Departamento de Cirurgia Torácica
do Hospital do Câncer de Yunan. Foi Antônio Bomfim o primeiro a utilizar, no
Pará, a técnica Uniportal, em 2016.
Cirurgia torácica - É a
especialidade médica que trata as doenças cirúrgicas do tórax (pulmões, parede
torácica, traquéia, brônquios, pleuras e mediastino). A especialidade surgiu no
início do século passado com o tratamento da tuberculose, evoluiu com o tratamento
do câncer de pulmão e aprimorou-se com a cirurgia minimamente invasiva, que
facilitou o acesso à cavidade torácica e otimizou os resultados de abordagens
diagnósticas e terapêuticas.
Desde o final dos anos
80, o uso de recursos ópticos e câmeras de vídeo, associado ao desenvolvimento
de novos dispositivos, tem permitido a realização de procedimentos cirúrgicos
por meio de pequenas incisões, mudando o paradigma de que grandes cirurgias
deveriam ser realizadas por grandes incisões. A procura de abordagens cada vez
menos invasivas levou à evolução natural da VATS multiportal para a VATS
uniportal, com diminuição da morbidade e melhoria da qualidade de vida.
A cirurgia uniportal
possibilita procedimentos pouco invasivos, com apenas um pequeno corte, de três
centímetros, na lateral do tórax. A técnica foi criada em 2010 pelo espanhol
Diego Gonzalez Rivas, que já disseminou seu conhecimento ministrando cursos em
104 países e mais de 56 cidades da China.
China - O país é hoje
um dos maiores centros de inovação em cirurgia para câncer de pulmão do mundo.
A incidência da doença no país é alta por causa do tabagismo, que atinge 80% da
população, e da grande poluição ambiental.
O maior hospital
especializado em cirurgia torácida do mundo é o Xangai Pulmonary Hospital, onde
90% das intervenções são realizadas com a técnica uniportal. O Hospital tem
2000 leitos, sendo 100 apenas para cirurgia torácica, e realiza mais de 2000
cirurgias torácicas por ano.