Centenas de artefatos arqueológicos que
guardam parte da história da Belém do início do século XX têm sido encontrados
durante as etapas finais da obra de reforma e restauro do Solar Beira,
importante prédio histórico que integra o conjunto arquitetônico do Complexo do
Ver-o-peso. Construído logo após o surgimento do Ver-o-peso, o prédio tem
estilo neoclássico e é tombado como patrimônio histórico nas três esferas.
Desde que começaram as etapas de
construção da cisterna e da estação de tratamento de esgoto, localizadas nas
laterais externas prédio, as arqueólogas, que acompanham o trabalho, são
surpreendidas a cada nova escavação. Dentre os vestígios encontrados, estão
fragmentos de louça, porcelanas, garrafas de vidro, talheres, latas, moedas e
ferraduras.
Segundo o diretor de Obras Civis da
Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), responsável pela obra, Reinaldo
Leite, a presença das profissionais de arqueologia atende uma obrigatoriedade
nos projetos de restauros em espaços tombados como patrimônio. “Como no escopo
da obra, estavam previstas as escavações em sítios que sabemos ser históricos,
foi exigido que a empresa executora atendesse essa norma do acompanhamento por
arqueólogos, atendendo assim a Lei nº
3.924/61, que estabelece que tudo que é arqueológico é patrimônio e deve
ser guardado e protegido pelo poder público”, detalha o engenheiro.
A arqueóloga Amanda Seabra é uma das
especialistas à frente do delicado trabalho de recolher cada peça encontrada
nas escavações, limpar, catalogar, organizar e acondicionar. Até agora, os
objetos já ocupam quatro caixas de 30 litros. “Depois de tudo organizado,
fazemos o envio do material para a Fundação de Cultura de Marabá, pois a
orientação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional é que
esses objetos sejam guardados em uma reserva técnica específica. Aqui em Belém,
as reservas técnicas existentes estão todas ocupadas, por isso, enviamos para
Marabá”, explica a arqueóloga.
Para ela, o trabalho aliado à obra civil
é muito importante para recuperação e preservação da história da cidade. “A
arqueologia estuda a sociedade a partir dos vestígios que ela deixa,
recuperando a história de uma época a partir de diversos materiais deixados por
civilizações anteriores. Juntando com outros documentos, é possível até refazer
todo o cotidiano de uma época que se perdeu com o passar do tempo”, defende Amanda.
Obra - A obra do Solar da Beira iniciou
em março de 2019 e já está com 75% dos serviços concluídos, como restauração da
fachada mantendo os traços e detalhes originais com seus frisos e molduras;
pintura da fachada, com prospecção de cores; reforma de piso em madeira com
tratamento especial para evitar insetos e fungos; nova cobertura, com renovação
das telhas, implantação de manta protetora e forro; restauro das paredes em
tijolos maciços, com tratamento de impermeabilização; recuperação de janelas e
portas em madeira e vidro; restauração de piso em ladrilhos hidráulicos;
recuperação da escadaria de metal e demais estruturas metálicas, com tratamento
anti ferrugem e reforma de banheiros.
A obra prevê ainda a instalação de
sistema elétrico, hidrossanitário, de drenagem, acústico, de ar condicionado,
de lógica, prevenção e combate a incêndio; implantação de sistema de drenagem
pluvial; instalação de elevador para PCD.
O novo prazo da obra era abril deste
ano, mas precisou ser ajustado para julho, devido a peculiaridades de uma obra
de restauro de grande porte e devido às consequências da pandemia do novo
Coronavírus. O valor da obra é de, aproximadamente, R$ 4 milhões.

