Ao longo da pandemia provocada pelo novo
coronavírus, a população de Bragança, município do nordeste paraense, continua
tendo acesso com preço justo ao produto mais famoso da agricultura familiar
local, a farinha d'água, e também a outra iguaria: ostras in natura.
A venda direta ao consumidor se mantém
por meio da Feira do Agricultor Familiar, que ocorre todo sábado. A novidade,
para contornar a quarentena e o distanciamento social, é o delivery, pelo qual
os agricultores combinam a entrega em domicílio ou em pontos estratégicos.
Todo esse processo é resultado da
parceria dos próprios agricultores, representados pela Comfaf (Comissão da
Feira do Agricultor), com o escritório local da Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), Fundação Cáritas Diocesana de
Bragança e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR). A
Prefeitura apoia no transporte de mercadorias.
"Trabalhamos por encomenda, e essa
modalidade só vem se intensificando. Por semana conseguimos vender, em época
normal, até 30 quilos de farinha d'água lavada, já que nosso carro-chefe é a
mandioca", conta a agricultora Ariane Pereira, que mora e produz no KM-21
da Comunidade Montenegro. Na família são sete adultos (pais e filhos) e uma
criança (Paulo Henrique, 8 anos, filho de Ariane). Eles produzem vários tipos
de farinha (com coco, de tapioca etc.), além de milho, feijão, beiju e
macaxeira.
São 45 famílias de 18 comunidades, com
uma oferta mensal superior a cinco toneladas de alimentos. Além da farinha e da
ostra, há ovo caipira, frutas da estação, maniva (folha da mandioca) e tucupi.
"Algumas comunidades distam 60 km da sede do município, inclusive de
caminho pelo Rio Caetés. Se não fosse a junção de esforços, nunca que o
consumidor final conseguiria comprar com regularidade esses alimentos saudáveis
e de qualidade", ressalta a técnica social do escritório local da Emater,
Maria Conceição Sampaio.
Segundo ela, é importante o espírito de
coletividade despertado com a organização social e a proposta de Economia
Solidária. "Os agricultores passaram a se entender como 'uma grande
família'. Reconhecem que crescer junto é mais vantajoso do que tentar sozinho.
A ideia é que a agricultura se fortaleça como um motor cultural e
socioeconômico de Bragança inteira", acrescenta.
Feira e delivery - Na pandemia de
Covid-19, a Feira do Agricultor Familiar reduziu a estrutura em 85%, para
evitar aglomerações, mas nunca deixou de funcionar todo sábado, das 5 às 10 h,
na Travessa Coronel Antônio Pedro, em frente à sede do STTR. O funcionamento
obedece às medidas preventivas, como uso de máscaras e álcool em gel.
O evento, que no próximo 25 de julho
completará 11 anos, significa um lucro de até 70% para os agricultores,
conforme estimativa da Emater. "É uma oportunidade especial tanto para os
agricultores, quanto para os consumidores, em termos de aquisição e de
comunicação. Podemos dizer, assim, que Bragança não ficou desabastecida em
nenhum instante. Quando mais a população precisou de nutrição com saúde, o que
reforça o sistema imunológico, a agricultura familiar, com a assistência da
Emater, não se ausentou", afirma o engenheiro agrônomo da Emater Adriano
Fonseca.
As dificuldades provocadas pelo momento
de crise também anteciparam a adesão ao sistema de delivery. As instituições
parceiras ordenaram as informações de contato dos agricultores, listaram os
produtos e preços, e divulgaram uma lista. Os consumidores escolhem os produtos
e o horário de entrega, e entram em contato com os fornecedores via whatsapp ou
ligação telefônica. O serviço tem feito tanto sucesso que há agricultores
fazendo 40 entregas por dia.
Ostras - Um produto diferenciado que
compõe a cartela de comercialização em Bragança são ostras in natura,
produzidas pela Associação dos Agricultores e Aquicultores de Nova Olinda
(Agromar), em Augusto Corrêa, município vizinho a Bragança, atendida pela
Emater.
Apenas em junho foram vendidas 275
dúzias de ostras, com faturamento de R$ 3.575,00 para os 15 produtores
associados. Nesta primeira quinzena de julho, já foram comercializadas 141
dúzias. A expectativa da Emater é que julho supere o mês anterior.
"Tomamos a frente de uma campanha: confecção de cards, publicações nas
redes sociais, listas de transmissão, divulgação em rádios. É possível afirmar
que hoje o consumidor já sabe com exatidão onde, de quem e como adquirir",
explica o engenheiro de Pesca da Emater, Leonardo Miranda.
Para o produtor Carlos Jorge Cruz,
"a melhor saída para o ostreicultor neste período de pandemia tem sido a
negociação pela internet. É uma ferramenta que veio para ficar".
Serviço: Mais informações acerca dos
produtos disponíveis e dos canais de comercialização pelos números e whatsapps:
(91) 98090-3313 (Adriano Fonseca), (91) 98185-1072 (Maria da Conceição Sampaio)
e (91) 98301-5553 (Leonardo Miranda).