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Adilson Gorayeb |
Parecia uma íngua, um caroço na região
da mandíbula que começou a crescer e incomodar. O aposentado Adilson Gorayeb
procurou um dentista para e a surpresa foi a indicação para procurar um
oncologista, com quem o diagnóstico foi confirmado: câncer. Adilson lembra que
seguiu todos os protocolos de tratamento, com cirurgia, quimioterapia e
radioterapia.
“Isso aconteceu em 2012 e fiquei
completamente curado, não tive nenhum problema, depois. Mas isso só aconteceu
porque tive um diagnóstico precoce e pude tratar logo, com rapidez”, avalia
Adilson. “Por isso, o que eu quero recomendar é que, quando aparecer qualquer
coisa estranha, que a pessoa suspeite, não perca tempo. Corra para o médico ou
para o dentista, como foi o meu caso, para ter logo o diagnóstico e fazer o
tratamento o mais rápido possível e assim ficar livre da doença”, alerta.
Cerca de 40 mil novos casos de câncer na
região da cabeça e pescoço, como o de Adilson, são diagnosticados por ano no
Brasil, segundo a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA), resultando
em 10 mil mortes por ano. No Brasil, câncer nessas regiões (cavidade oral e
laringe) é o terceiro em incidência entre os homens e deve representar 7,9% de
todos os novos casos de câncer estimados. Os dados reforçam a importância do
Julho Verde, campanha que faz alusão ao Dia Mundial de Combate ao Câncer de
Cabeça e Pescoço, celebrado no dia 27 de julho.
Na mulher, o câncer de cabeça e pescoço
mais frequente é o de tireoide, que, em 2020, deverá ter aproximadamente 12 mil
novos casos. Entre os homens, os tipos mais comuns são os tumores de boca e
garganta (cavidade oral e laringe). De câncer de boca serão 11 mil novos casos.
De laringe, teremos aproximadamente 6.500 novos casos.
O câncer de cabeça e pescoço também é
comum na pele da face do pescoço, na faringe, nas glândulas salivares, nos
seios paranasais e outros locais. A repercussão no paciente é extremamente
importante.
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Oncologista clínica Paula Sampaio, do Centro de Tratamento Oncológico. |
Conscientização - Neste ano de 2020, a
Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) lançou a 4ª Edição
da Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Cabeça e Pescoço, em conjunto
com a Associação de Câncer de Boca e Garganta (ACBG). Com o slogan “O Câncer tá
na cara, mas às vezes você não vê!”, seguido da frase: “Seu Corpo é Sua Vida.
Não o Destrua!”, a campanha discutirá diversas temáticas, como a pandemia da
Covid-19, alimentação saudável, tabagismo, sedentarismo, entre outros fatores de
risco. O Julho Verde tem apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da União
Internacional para o Controle do Câncer.
“A campanha Julho Verde foi criada com o
objetivo de motivar pessoas em idades com maior prevalência da doença (acima de
40 anos) a realizar exames específicos para detecção precoce da doença, o que
aumenta muito as chances de cura”, explica a oncologista clínica Paula Sampaio,
do Centro de Tratamento Oncológico.
Diagnóstico tardio - Segundo
levantamento realizado no ano passado pelo Icesp (Instituto do Câncer do Estado
de São Paulo), unidade ligada à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e à
FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), 6 em cada 10
pacientes com câncer de cabeça e pescoço atendidos no Icesp foram
diagnosticados em estado avançado da doença, o que significa chances de cura em
torno de 40%, enquanto a probabilidade de sucesso quando são detectados tumores
precoces pode chegar a 90%.
“O diagnóstico tardio, que representa
60% dos casos, no Brasil, além de aumentar os índices de mortalidade, significa
que o paciente muito provavelmente terá sequelas”, destaca Paula Sampaio. “O
câncer de cabeça e pescoço afeta diversas áreas e funções do corpo humano, como
a respiração, fala, deglutição, paladar e olfato. Os sintomas mais frequentes
são nódulo persistente no pescoço, lesão na boca que não cicatriza (por mais de
20 dias) e rouquidão por mais de três semanas”, diz a médica.
Fatores de risco - Cigarro, álcool e o
vírus HPV estão no topo da lista dos causadores dos cânceres de cabeça e
pescoço.
Quando o assunto são os cânceres de
cabeça e pescoço o perigo que esses dois vilões da nossa saúde (álcool e
tabaco) representam – associados - é impressionante. Alguém que fuma e bebe tem
chances até 20 vezes maiores de desenvolver algum tipo de câncer em regiões
como boca, língua, palato, gengivas, bochechas, amígdalas, faringe, laringe,
esôfago, tireoide e seios paranasais.
Além de ficar longe do cigarro e bebidas
alcoólicas, que são os principais fatores de risco, todos devem lembrar que a
higiene bucal é importante na prevenção. O dentista é um profissional com papel
fundamental no diagnóstico precoce e deve ser visitado regularmente. O exame
clínico do pescoço, feito por um médico, também é muito importante.
O recomendado é procurar um dentista a
cada seis meses para fazer profilaxia e avaliar a saúde bucal. O autoexame não
deve ser preconizado como método preventivo, havendo o risco de mascarar lesões
e retardar o diagnóstico do tumor. No caso do câncer de boca, o papel do
cirurgião-dentista é importante porque pode garantir a identificação de lesões
pré-cancerígenas ou tumores em fase inicia.
Apesar de atingir principalmente
fumantes e pessoas que consomem bebidas alcoólicas, é cada vez mais frequente o
diagnóstico da doença em indivíduos jovens, sem a exposição a esses fatores,
com tumores originados pelo HPV. O Ministério da Saúde estima que cerca de 7%
da população brasileira, mesmo sem saber, podem ter o vírus HPV na boca.
“Estudos recentes demonstram que a infecção oral pelo HPV é um fator de
desenvolvimento do câncer de faringe e de boca. Uma das formas de contágio é
por meio da prática do sexo oral sem proteção”, explica a médica Paula Sampaio.
Os pesquisadores do Centro de Controle e
Prevenção de Doença dos Estados Unidos também confirmam que a maior incidência
da doença pode estar ligada ao HPV. A expectativa é de que até 2030 o número de
casos de câncer de boca relacionados ao vírus deve superar os casos ligados ao
tabaco. Por isso, o papiloma vírus, popularmente conhecido como HPV, já é
considerado um fator de risco que tem a capacidade de desenvolver um câncer em
menos tempo.