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Oncologista clínica Paula Sampaio |
A jornalista Fátima Bernardes, de 58
anos, anunciou que foi diagnosticada com câncer de útero. A notícia, que ganhou
grande repercussão por se tratar de uma mulher famosa, cria uma oportunidade de
falarmos sobre exames preventivos periódicos e diagnóstico precoce.
O câncer de útero atinge mais de 16.500
mulheres por ano, no Brasil (INCA). Fátima descobriu a doença no começo,
fazendo exames de rotina. Disse que vai fazer uma cirurgia, mas deve ficar
poucos dias afastada do trabalho, na apresentação do programa Encontro, na TV
Globo.
“O câncer de colo de útero é um tipo
silencioso, não apresenta sintomas na fase inicial. Por isso, é muito
importante destacar: os exames periódicos de rastreamento são a melhor forma de
conseguir o diagnóstico precoce, fundamental para que as chances de cura sejam
altas e o tratamento menos agressivo”, destaca a oncologista clínica Paula
Sampaio, do Centro de Tratamento Oncológico.
O diagnóstico precoce do câncer de colo
de útero depende de um exame simples (Papanicolau), que pode detectar as lesões
precursoras. Quando essas alterações, que antecedem ao câncer, são
identificadas e tratadas é possível prevenir a doença em 100% dos casos.
O exame deve ser feito preferencialmente
por mulheres com idades entre 25 e 64 anos, que têm ou já tiveram atividade
sexual. Os dois primeiros exames devem ser feitos com intervalo de um ano e, se
os resultados forem normais, o exame passará a ser realizado a cada três anos.
Mas melhor do que diagnosticar
precocemente é não ter a doença, claro. Para isso a vacina contra o HPV é
essencial. HPV, sigla em inglês para o papiloma vírus humano, é responsável por
90% dos casos de câncer de colo de útero. Portanto, evitar o contágio do vírus,
que é sexualmente transmissível, é fundamental para evitar esse tipo de câncer.
Tanto a vacina quanto o Papanicolau
estão disponíveis, de graça, no serviço público de saúde. Mas, apesar de
parecer simples, a prevenção ao câncer de colo de útero está longe de ser um
sucesso no Brasil.
Pela falta da prevenção, na grande
maioria dos casos, o Brasil detecta tardiamente. O resultado é que cerca de 35%
dos casos resulta em morte (5.727 mortes ocorreram em 2015 - último dado
disponibilizado).
“Esse número de mortes é absurdo,
considerando que esse tipo de câncer é facilmente prevenível. Esse alto índice
de tumores do colo do útero está diretamente relacionado às condições
socioeconômicas da população e à falta de campanhas efetivas. Por isso, é mais
frequente em regiões mais pobres. No Pará, o câncer de colo de útero é mais
comum do que o câncer de mama”, alerta a oncologista Paula Sampaio.
De acordo com os dados do INCA -
Instituto Nacional do Câncer, o tumor de colo de útero é o 3º tipo de tumor
maligno mais frequente na população feminina e a 4ª causa de morte de mulheres
por câncer, no Brasil.
A região Norte é a única no Brasil em
que a incidência do câncer de colo de útero supera a de câncer de mama. No
Pará, foram registrados 640 casos novos em 2019, com 381 óbitos. Neste ano, de
janeiro a outubro, apenas 198 novos casos foram diagnosticados. O baixo número,
comparado ao ano anterior, é creditado à subnotificação por causa da pandemia
do coronavírus.
A vacinação contra o vírus HPV está
disponível, desde 2014, no calendário vacinal da rede pública para meninas de 9
a 14 anos. Desde 2017, foram incluídos os meninos com idades entre 11 e 13,
além das meninas e mulheres portadoras do HIV, na faixa etária de 9 a 26 anos.