A veterinária do Bosque, Elen Eguchi, alerta sobre os riscos para os animais e para as famílias que criam bichos em condições inadequadas - Foto Agência Belém |
Um bicho preguiça de cerca de
cinco meses foi abandonado no Bosque Rodrigues Alves Jardim Zoobotânico da
Amazônia. O animal estava sendo criado em cativeiro. “Nós nos deparamos com
essa preguiça abandonada aqui no Bosque. Ele estava sendo criado como animal
doméstico e chegaram até pintar as unhas da preguiça”, relata a veterinária do
Bosque, Ellen Eguchi. A equipe da fauna do Bosque Rodrigues Alves faz agora um
trabalho de readaptação para que a preguiça possa ser solta no espaço de
preservação com segurança. “Vamos passar pelo menos uns três meses fazendo essa
readaptação. Nós colocamos a comida dele amarrada na árvore, não damos na mão.
Essa é uma forma dele se readaptar ao ambiente natural. Nós estamos analisando
também a digestão, volume e quantidade de defecação do bicho para poder ver se
ele está reagindo bem ao ambiente natural”, explica a médica veterinária.
A preguiça está se alimentando de
folhas das árvores embaúba e cacau, que são vegetais disponíveis no Bosque
Rodrigues Alves. Sendo assim, quando for solta terá essa alimentação. O animal
já consegue se locomover nas árvores e a equipe de fauna do Bosque está
confiante que poderá voltar à natureza. “Precisamos que as pessoas tenham
consciência que não devem pegar animais silvestres e criar como domésticos. Já
recebemos jabuti com o casco todo pintado e isso é inadmissível. Também é
importante ressaltar que as pessoas não podem simplesmente abandonar esses
animais aqui. O Bosque não é um centro de reabilitação e sim uma área de
exposição”, esclarece Ellen.
De acordo com o artigo 29 da Lei
de Crimes Ambientais de Nº 9.605/98, portar, transportar ou ter a guarda de
animais pertencentes à fauna silvestre sem autorização ou descumprindo as
condicionantes legais é crime. A pena varia de seis meses a um ano de detenção
e multa. Ainda assim, apenas em 2016,
mais de 130 animais que estavam sendo criados como animais domésticos foram
apreendidos pela Divisão Especializada em Meio Ambiente (DEMA), da Polícia
Civil, em Belém e Região Metropolitana.
“Toda espécie pertencente à fauna
silvestre precisa de uma autorização para você tê-lo em residência ou
transportá-lo. Essa autorização só é dada se esses animais vierem de criadouros
autorizados. Ou seja, se esses animais nasceram dentro de um cativeiro e foram condicionados
a esses ambientes, eles podem ser legalizados”, explica Edelvan Soares,
investigador e médico veterinário da Dema.
“Aqueles animais que são
capturados da natureza, seja filhote ou na fase adulta, não é permitido a
criação doméstica. Se alguém tiver posse desse animal está sujeito as
penalidades”, completa o policial.
De acordo a equipe de Fauna do
Bosque Rodrigues Alves, um animal silvestre da espécie Jupará também foi
abandonado no local em março deste ano. “Abandonaram ele aqui no Bosque. Como
ele estava sendo criado como animal doméstico, ele não recebeu os cuidados e
alimentação adequada, o que fez ele desenvolver uma catarata. Provavelmente
alimentavam esse Jupará com ração de cachorro, porém o certo é ele se alimentar
de frutas e o néctar das flores”, explica Ellen. Ela detalha que mesmo com os
cuidados dados ao bicho, não será possível devolve-lo à natureza, pois ele está
cego e não se readaptaria ao ambiente natural.
As preguiças, quati e pacas são
as espécies mais utilizadas como animais domésticos. Os macacos e tartarugas
também estão nessa lista, segundo dados da Dema. "Esses animais têm
características particulares e muitas vezes as pessoas adquirem sem saber
delas, sem saber as necessidades da alimentação adequada, sem terem espaço
apropriado. Com alimentação incorreta eles acabam adoecendo. A falta de
conhecimento técnico na hora de criar um animal é muito prejudicial”, afirma o
investigador.
Além de ser crime ambiental,
criar animais silvestres podem trazer doenças. Entre elas estão verminose,
raiva, doenças respiratórias, febre amarela, tuberculose, entre outras.
Serviço
Caso o munícipe identifique um
animal que está sendo criado de forma ilegal, ele deve ligar para o 181, o
Disque Denúncia, onde será feita a triagem e encaminhada a demanda para os
órgãos responsáveis, entre eles Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), Ibama e
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). A denúncia pode ser anônima.
Após o resgate pelos órgãos
responsáveis, os animais serão encaminhados para o Bosque Rodrigues Alves,
Museu Paraense Emílio Goeldi ou devolvidos à natureza.