Grupo ligado ao Projeto
Incubação, do Programa Interdisciplinar Trópico em Movimento, mediu a
quantidade de gases do efeito estufa, em especial o gás metano, no Lixão do
Aurá. O gás metano (CH₄),
produzido pela decomposição da matéria orgânica, e muito comum em aterros
sanitários e lixões, é o segundo componente antropogênico mais importante para
o efeito estufa. Ao ser comparado com o dióxido de carbono (CO₂), ele é mais perigoso, uma vez que a mesma
quantidade de CH₄ chega a ter 25 vezes mais
impacto sobre o aquecimento global que o CO₂.
Para simular a quantidade de gás
metano produzido desde a ativação do Lixão em 1992, a equipe, coordenada pelos
pesquisadores da UFPA Breno C. O. Imbiriba e José Henrique Cattanio, utilizou
dois modelos de medição, o modelo do IPCC e o LandGEM. A função dos modelos foi
fornecer uma estimativa do metano gerado pelo aterro ao longo do tempo, com
base na massa de resíduos depositada nele mesmo, representando, de maneira
simples, as alterações verificadas durante a decomposição dos resíduos.
No Brasil, os atuais estudos de
emissão de biogás em aterros são realizados com base em critérios e
experiências internacionais, com parâmetros técnicos desenvolvidos para aterros
de países desenvolvidos, em que as características de projeto, de operacionais,
dos resíduos e as condições climáticas são bem distintas das dos aterros
existentes na Amazônia. A equipe buscou dados populacionais da quantidade de
lixo gerado por indivíduo da cidade de Belém para realizar as simulações.
Dificuldades - Os pesquisadores
perceberam que os modelos escolhidos precisavam, como parâmetros, as taxas de
decomposição do lixo e as taxas ligadas ao gás metano, dependendo do tipo de
lixo que é depositado no lixão e de aspectos climáticos locais. A escolha de
parâmetros incorretos poderia gerar resultados 40% menores, ou até 150% maiores
do que a realidade.
"A maior dificuldade foi
entender esses parâmetros, percebemos que se usarmos qualquer um desses modelos
cegamente, vamos obter resultados que podem não dialogar com a realidade.
Tivemos cuidado com o item clima, entre outras situações", explicou Breno.
trópico
Medição de Campo - Para realizar
as medições de campo, a equipe utilizou um analisador portátil de gás de alta
precisão que mede os gases metano e carbônico. Os resultados encontrados estimam
que o Lixão do Aurá, desde que começou a funcionar até os dias de hoje, já
liberou 480 mil toneladas de gás metano e que 75% das emissões já ocorreram.
Essas 480 mil toneladas de gás
metano são equivalentes a 12 milhões de toneladas de CO₂. Para dimensionar melhor esses dados, Breno fez uma
comparação com hectares de floresta, "um hectare de floresta contém, pelo
menos, 100 toneladas de carbono, isso quer dizer que esse mesmo hectare, se
completamente queimado, produz 350 toneladas de CO₂. Se o impacto do CH₄ é 25
vezes maior do que o CO₂, então
é como se, ao longo da vida do lixão, ele tivesse emitido gás estufa
equivalente à queima de 34 mil hectares, que é equivalente a 340 km² de
floresta".
Próximos passos – Os
pesquisadores pretendem medir a emissão de gás metano no Aterro Sanitário de
Marituba, "vamos fazer uma bateria de medidas em Marituba ainda este ano,
pois queremos estimar também a pluma de gás que emana do Aterro", afirmou
Breno.
A pesquisa desenvolvida no Aurá
teve como resultado a dissertação Emissões de Gases de Efeito Estufa de um
Aterro na Amazônia: Simulação das Emissões de metano no Aterro do Aurá – Região
Metropolitana de Belém, PA, defendida por Renato de Sousa Silva, no Programa de
Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCAM,) do Instituto de Geociências da
UFPA.
Lixão do Aurá – Em 1992, foi
implantado o Projeto "Complexo de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana
de Belém", formado por uma usina de incineração de resíduos de alto risco
destinada à queima de lixo hospitalar, uma usina de reciclagem e compostagem, e
de um aterro sanitário que, na época, não foi efetivado. Com a contínua
descarga descontrolada de resíduos no local, somada à desativação da usina de
incineração, houve o surgimento do lixão a céu aberto, que ganhou proporções
cada vez maiores ao longo da década de 1990, causando contaminação do solo, da
água, bem como a proliferação de doenças, pela presença de diversos vetores.
Durante essa década, houve o aumento da produção de lixo na Região
Metropolitana de Belém, refletindo o aumento do consumo de materiais
potencialmente recicláveis.
Em julho de 2015, o Lixão do Aurá
teve suas atividades encerradas e transformou-se em Aterro Controlado. O espaço
recebia cerca de 1000 toneladas de resíduos por dia, provenientes dos
municípios de Belém, Ananindeua e Marituba. A desativação do espaço cumpriu a
determinação da Lei Nacional de Resíduos Sólidos (nº 12.305/2010), que exige,
ainda, que todas as administrações públicas municipais, independente do seu
porte e sua localização, construam aterros sanitários adequados para receber os
resíduos produzidos pelos cidadãos.
Projeto de Incubação – Com ações
desde o primeiro semestre de 2016, o projeto, coordenado pelo Programa
Interdisciplinar Trópico em Movimento, desenvolve pesquisas e busca estimular o
desenvolvimento de pequenos empreendimentos populares, por meio de suporte
gerencial, científico, tecnológico, estudo de mercado, comercialização, apoio
de infraestrutura e identificação de linhas de financiamento/fomento, proporcionando
às cooperativas e às associações, inseridas no processo de incubação, condições
favoráveis ao desenvolvimento, de maneira acelerada e sustentável, das suas
atividades econômicas.
# Colaboração Ascom/UFPa