Símbolo de alegria, Aurino
Pinduca Firmino Gonçalves, o famoso "Pinduca, o Rei do carimbó"
perdeu o sorriso e a paz em uma noite do ano de 2017. O telefone de sua casa e
o celular tocavam incessantemente. Eram familiares, amigos e fãs atrás de
notícias sobre o músico de 80 anos.
Poucos minutos antes, alguém
veiculou na internet que um avião transportando o músico havia caído e ele
estava morto. "Já haviam me matado várias vezes, mas naquela época, a
internet não tinha toda essa força. Quando vi a repercussão do boato, decidi
gravar um vídeo informando a todos que estava vivinho da silva" disse o
cantor.
Pinduca procurou uma delegacia
especializada para denunciar o caso, mas decidiu não levar a investigação
adiante. "Sou de paz e deixei pra lá. Só lamento muito algumas pessoas
usarem a internet para fins tão nocivos quanto esse, ao invés de usarem a
tecnologia para ajudar os outros", reclamou.
Facilidade
Quem tem acesso à internet,
provavelmente já se deparou com notícias falsas, mesmo sem se dar conta disso.
Até mesmo nos grupos de aplicativos de mensagens instantâneas (WhatsApp)
considerados “inocentes” como os chamados “grupos da família”, as chamadas fake
news se espalham com uma velocidade devastadora, muitas vezes, com a ajuda de
robôs.
Segundo a Universidade de Oxford,
mais da metade do tráfego da internet é feita por bots - programas que simulam
ações humanas repetidas vezes de forma padrão. Eles são capazes de fazer um
tema se transformar em tendência, atacar uma figura pública, espalhar um boato
e, inclusive ser importante arma política.
A Delegacia de Polícia de
Repressão a Crimes Tecnológicos (DPRCT) informa que não existe o crime de fake
news catalogado no código penal. Mas é analisado o tipo de prejuízo gerado pela
mensagem ou postagem falsa à vítima, para definir a tipificação do crime.
Dependendo do contexto, a proliferação de fake news pode representar alguns
delitos previstos no código penal.
“Se você cria uma notícia falsa,
imputando uma conduta criminosa a um terceiro, sabendo que esse fato é falso,
está configurado um crime de calúnia. São diversas facetas que podem se
configurar. Existem aqueles fatos criados simplesmente para ganhar ‘likes’,
para buscar visualizações. Então, a intenção da pessoa por trás da fake news é
que vai determinar qual tipo da conduta praticada, e qual o tipo de crime está
incorrendo”, informa a delegada Karina Campelo, da DPRCT.
Providências
É possível checar a origem de uma
notícia falsa divulgada através do WhatsApp, mas a rápida proliferação dela
dificulta o trabalho de investigação. A recomendação para quem é vítima de uma
fake news é procurar descobrir quem divulgou primeiro aquela notícia, e, munida
de provas, denunciar qualquer tipo de problema causado por aquele boato, como
por exemplo, uma vaga de emprego perdida. A vítima deve procurar a DPRCT ou
qualquer delegacia de bairro para fazer o boletim de ocorrência, para que o
caso passe a ser investigado. As penas dependem do tipo de crime imputado.
Segurança
Os danos causados pela
disseminação de uma notícia falsa podem fazer ruídos até mesmo na segurança
pública. Na noite de 21 de fevereiro deste ano, uma fake news informando sobre
uma suposta queda de um avião no município de São Félix do Xingu, sudeste do
Pará, rapidamente se alastrou em muitos aplicativos de mensagens instantâneas.
O boato fez a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup)
mobilizar um contingente de 80 homens da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros
nas buscas, que duraram 24 horas. A região na qual, supostamente, a queda teria
ocorrido, não possui controle de voo. Na mesma noite na qual começaram a
circular os boatos, a Segup descartou a hipótese de aeronave de grande porte
porque as grandes companhias aéreas já haviam afastado a possibilidade.
“Depois de 24 horas, esgotamos
todos os contatos com os fazendeiros da região que tinham aeronaves,
verificamos que nenhuma havia desaparecido. Na verdade, foi um exemplo clássico
de fake news, que mobilizou várias pessoas que poderiam estar cuidando de
situações reais”, comentou o Coronel André Cunha, secretário operacional da
Segup.
Ele chama atenção inclusive para
a propagação de notícias e, especialmente imagens, sabidamente reais. “Além da
importância de evitar a proliferação de notícias falsas, histeria coletiva e
pânico de forma desnecessária, a questão é de caráter moral. Muitas notícias,
mesmo verdadeiras, são acompanhadas de fotos com imagens fortes, de sofrimento.
Quando você replica aquilo está faltando com o respeito diante do ser humano,
das famílias. É importante se colocar no lugar daquela família, porque um dia
você pode ser a vítima desse tipo de atitude”, destaca o coronel André Nunes.
Alerta
A Segup alerta a população para o
risco de se tornar - mesmo sem querer - mais um propagador das chamadas fake
news. Para evitar isso, é preciso estar atento a algumas recomendações.
A primeira delas é jamais
multiplicar uma notícia sem saber a fonte. “Quando uma pessoa recebe uma
notícia, principalmente ruim, ela tem que se perguntar sobre a necessidade de
espalhar aquela informação. É preciso se questionar também sobre quais
benefícios terá com isso”, enumera o coronel.
Ele lembra ainda que as pessoas
só deveriam replicar uma notícia quando tivessem certeza de sua veracidade.
Para isso, segundo ele, é preciso procurar nas fontes oficiais. Se a notícia
for ligada à segurança pública, por exemplo, o ideal é checar através dos sites
oficiais ou redes sociais dos órgãos públicos.
Serviço: Delegacia de Polícia de
Repressão a Crimes Tecnológicos (DPRCT). Endereço: Rua Coronel Luis Bentes,
esquina com Rua do Una, no bairro do Telégrafo. Telefone: (91) 3222-7567.