Uma alimentação saudável e rica em
nutrientes faz parte da dieta das crianças atendidas pela Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais – Apae, localizada no município de Santarém, que por
meio de uma parceria com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado
(Susipe) recebe quinzenalmente, doações de hortaliças produzidas por internos
do Centro de Recuperação Agrícola Silvio Hall de Moura (CRSHM).
“A Apae é um entidade filantrópica que
vive basicamente de doações e uma delas é a doação de alimentos que complementa
o que já temos aqui para que a alimentação dos alunos fique ainda mais rica de
vitaminas e proteínas. A parceria que mantemos com a Susipe é fundamental, não
apenas para essas doações, mas também pela ajuda na criação da nossa própria
horta, que um dia esperamos formar. Essa não é a primeira vez que recebemos as
doação e ficamos sempre muito felizes com esses produtos que deixam a
alimentação de nossas crianças mais completa e saudável”, disse a coordenadora
de Captação de Recursos da Apae, Lena Lobato.
No projeto, quinze internos trabalham no
manejo e plantio das hortaliças que são cultivadas em hortas dentro dos seis
pavilhões da unidade penitenciária.
“Esta horta foi uma iniciativa tomada
pelos próprios internos da unidade que nos procuraram, e a partir de então,
iniciamos o processo de construção das hortas dentro dos próprios pavilhões,
para que até mesmo, os internos do fechado pudessem ter acesso ao cultivo e ao
trabalho com as hortaliças. A maioria deles, já lidava com o manejo da terra.
Os que não sabiam foram aprendendo com os mais experientes. Hoje, eles
pretendem dar continuidade a horta, e no futuro, quem sabe, criar uma
cooperativa que os ajude na geração de emprego e renda”, destacou a
coordenadora de Reinserção Social do CRASHM, Simone dos Santos.
O detento, Michel Miranda, 49 anos, é
engenheiro agrônomo e um dos responsáveis pela implantação da horta dentro do
CRASHM. A partir de uma análise do solo e com a experiência adquirida pela sua
formação, ele reuniu os demais internos para realizar o cultivo de couve,
alface, cebolinha, coentro e cheiro verde. Todas as hortaliças são naturais,
produzidas sem agrotóxicos.
“Sou o responsável pela parte técnica da
horta. Fizemos a produção do sub extrato, partindo para o semeio das
hortaliças, posteriormente, as mudas foram transplantadas para um lugar
adequado, onde elas pudessem germinar com qualidade. Na nossa produção usamos
todos os insumos de forma orgânica, até o nosso repelente é feito de forma
artesanal, utilizando plantas para eliminar as pragas”, ressalta o interno, que
trabalha na produção das hortas há seis meses. “Ver o resultado do nosso
trabalho render frutos tão positivos como esse é reconfortante para o meu
coração. Saber que através de um erro cometido no passado, hoje posso estar
remindo minhas faltas, produzindo um alimento saudável que pode ser consumido
por crianças e adultos é muito gratificante e, de certa forma, libertador”,
destaca o interno.
Além da Apae, a casa penal realiza as
doações dos produtos quinzenalmente a outras instituições do município, como o
abrigo São Vicente de Paula, a Casa Rosa que cuida de mulheres com câncer de
mama, e ainda a Casa Azul que auxilia os homens com câncer de próstata. Em
média são doados 20 caixotes com hortaliças para cada instituição.
“Essa foi à forma que encontramos para
dar uma finalidade a nossa produção que de tão rica sobra para as demandas da
casa penal. Todos os internos envolvidos neste trabalho possuem um
comportamento exemplar e percebemos que o trabalho é um grande ponto de
ressocialização. Já observamos que eles estão pensando de forma empreendedora e
isso nos deixa muito satisfeitos, porque quando saírem do cárcere terão, através
do trabalho, a possibilidade de voltar a sociedade e de forma honesta garantir
seu sustento para que não venham a reincidir no crime”, finaliza o diretor da
unidade, coronel Anderson Mardock.
Plantas medicinais - Uma parceria entre
a Susipe e a Secretária Municipal de Saúde do município de Santarém irá
permitir que os detentos custodiados na unidade prisional trabalhem também na
produção e criação de uma horta medicinal. O objetivo é resgatar o uso de
plantas fitoterápicas, destinadas ao tratamento de doenças como diabetes,
hipertensão, depressão, por meio de receitas pré-escritas por médicos da rede
municipal de saúde. Esse tipo de horta já existe em várias cidades brasileiras
e é viabilizada com verba do Governo Federal destinada à Arranjos Produtivos
Locais (APL) de plantas fitoterápicas.
Dezessete internos já foram capacitados
por técnicos da Secretária Municipal de Meio Ambiente para o cultivo das
plantas medicinais que serão produzidas nas hortas do CRASHM. Durante o curso,
os internos foram qualificados para o manejo do solo, aprenderam sobre a
quantidade de calcário, terra preta e os insumos necessários.