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Crédito: © Daniel Beltrá / Greenpeace
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O Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) dá início a uma nova linha de produtos de mapeamento e
análise dos ecossistemas brasileiros: Contas de Ecossistemas do Brasil. O novo
estudo apresenta o atual estado de conservação dos ecossistemas no ambiente
terrestre, analisando as mudanças ocorridas nos biomas brasileiros de 2000 a
2018. Entre todos os biomas do país, o que teve o maior quantitativo absoluto
de redução de áreas naturais foi a Amazônia, com um total de 269.801 km², uma
área onde caberia mais de 1 município e meio de Altamira (PA), o mais extenso
do país.
A importância desse trabalho é que a
dinâmica de uso dos ecossistemas impacta diretamente os estoques de carbono
(CO2) na biomassa da vegetação e do solo, podendo resultar em alterações
climáticas, processos de degradação dos solos, perda de variedades
fitofisionômicas, e, até mesmo, risco à biodiversidade. De 2000 a 2018, todos
os biomas terrestres brasileiros tiveram saldo negativo, somando cerca de 500
mil km² dos seus diversos ecossistemas.
Nos 18 anos analisados, a Amazônia
apresentou um aumento de 71,4% na área de pastagem com manejo, e de 288,6% na
área agrícola (essa última, principalmente entre os anos 2012 e 2014). Em
relação ao Brasil, esse bioma respondeu pelo crescimento de 74,0% das classes
de pastagem com manejo e 23,9% do crescimento de área agrícola de todo o país.
A Amazônia foi o bioma com o maior
número de mudanças percentuais no uso da terra observadas entre 2000 e 2018,
sendo o maior destaque a redução da sua cobertura florestal, que, no último ano
considerado, representava 75,7% de sua área total. A vegetação florestal foi
reduzida em 265.113 km², valor que representa a maior redução de coberturas
naturais dentre os biomas brasileiros no período analisado.
No Bioma Amazônia, 50,2% das mudanças
decorreu da conversão de outras classes de uso da terra para pastagem com
manejo, e 31% se refere a conversões de vegetação florestal para mosaico de
ocupações em área florestal. A classe de vegetação florestal deu lugar,
sobretudo, a áreas de pastagem com manejo (que passaram de 248.794 km², em
2000, para 426.424 km² do bioma, em 2018) e de mosaico de ocupações em área
florestal, gerando fragmentação da paisagem na região.
Arco de desmatamento
A dinâmica amazônica no período
analisado é marcada pelas transições entre vegetação florestal, mosaico de
ocupações em área florestal e pastagem com manejo, que muitas vezes se
intercalam, mas seguindo a tendência geral de crescimento das classes de
pastagem e mosaico de ocupações em área florestal e diminuição da classe de
vegetação florestal. Essas mudanças indicam o padrão de uso do chamado “arco do
desmatamento”, marcante nas bordas do bioma Amazônia, em áreas de contato com o
bioma Cerrado, e agora apresentando uma interiorização considerável, ao seguir
construções de estradas, margens de rios e adjacências de obras de
infraestrutura.
Esse padrão seguiu a lógica da
construção de estradas vicinais às rodovias, ou cursos de rios, e foi
impulsionado pela extração de madeira e garimpo, com desmatamento pontual. Com
a implantação de projetos fundiários, facilitados por benefícios fiscais, são
fomentados não só grandes empreendimentos agropecuários, como também a
construção de novas rotas que impulsionaram a expansão de pastagens, em geral
manejadas por queimadas, conforme relata o Macrozoneamento ecológico-econômico
da Amazônia Legal. Considerar essa dinâmica é relevante, visto que, apesar de
toda a abundância natural e a riqueza cultural do Bioma Amazônia, que abriga
grandes estoques de madeira, peixes, minério, entre outros recursos, ele também
abarca as maiores populações tradicionais do Brasil.
A riqueza natural da Amazônia florestada
se contrapõe, dramaticamente, aos baixos índices socioeconômicos da região, de
baixa densidade demográfica e crescente urbanização. Isso é demonstrado pelos
resultados da participação percentual das Grandes Regiões nos componentes do
Produto Interno Bruto - PIB pela ótica da renda, em que a Região Norte ocupa o
último lugar em todos os componentes, segundo dados do Sistema de Contas
Regionais do IBGE. Entre 2016 e 2017, na economia brasileira, o setor agropecuário
cresceu 14,2% em volume do PIB, sendo que, na Região Norte, o crescimento desse
setor foi negativo, tanto no Estado do Acre, onde a participação, em termos de
variação em volume do valor adicionado bruto da atividade agropecuária, foi de
-10,5%, quanto no Estado do Amazonas, que registrou -3,0%. Em contrapartida, os
Estados do Pará e Rondônia apresentaram variações positivas significativas
(7,4% e 19,6%, respectivamente), devidas, em grande parte, à produção pecuária
e de leite, respectivamente.
Assim, a atividade agropecuária no Bioma
Amazônia, apesar de ocupar uma considerável extensão de terras em termos
absolutos, e estar em expansão, não possui expressividade no valor da produção
nacional, e nem no emprego ou renda, indicando uma produção pecuária extensiva
e uma agricultura de baixa produtividade.