Os trilhos da estrada de ferro Belém
–Bragança foram retirados no início do ano de 1965, durante o governo militar. Coube
ao atual governador do estado do Pará, Simão Jatene, revitalizar parte do
antigo percurso feito pela Maria Fumaça. A secretaria estadual de transportes criou,
em 2014, uma rota turística chamada Belém-Bragança. A ideia era incentivar a
economia da região nordeste e reparar o que foi considerado um erro histórico,
principalmente no trecho que vai do município de Castanhal à cidade de Nova
Timboteua, na rodovia PA 242. Um ano já se passou e a rota turística vem
ganhando força. Ao longo de todos os 222 km de percurso da antiga Maria Fumaça,
foram colocadas 108 placas indicativas de atrativo turístico e gastos mais de
16 milhões de reais nas diversas obras de restauração. Para ajudar no
desenvolvimento e na capacitação dos comerciantes desses municípios, que fazem
parte da rota turística, o governo do estado investiu na parceria com diversos
órgãos e entidades como o Iphan, o Sebrae, o Sesi, Senai e o Senac.
Nem bem amanhecia, e a Maria Fumaça já
estava pronta para partir de São Brás rumo à Bragança. A fumaça, fruto da queimada
da lenha, e o apito do trem eram vistos e ouvidos de longe. Era hora de partir.
Os passageiros se apressavam para garantir um lugar em um dos assentos dos
vagões. Vagões que levavam também mercadorias, animais, veículos e
principalmente sonhos. Os trilhos, que começaram a ser construídos em 1883, rasgavam
o chão de terra batida e abriam caminhos para o progresso no nordeste do estado.
Graças a eles, vilas e municípios foram fundados ao longo do percurso. A
primeira estação, a de São Brás, não existe mais. Em seu lugar está o terminal
rodoviário de Belém. A primeira parada da locomotiva era no
Entroncamento, onde havia uma pequena estação, também destruída pelos militares
em 1965. A segunda estação era a de Ananindeua, que não existe mais.
Antiga Caixa dágua em Marituba - Foto Celso Freire |
De
Ananindeua, a Maria Fumaça partia para Marituba, onde ainda hoje, a antiga
caixa dágua, usada para abastecer a locomotiva, resiste ao tempo. Ela foi
totalmente restaurada. Lá o turista encontra a primeira placa da rota turística
Belém–Bragança, criada em 2014, pelo governo do estado. Naquela área foram
construídas as oficinas dos trens e de uma pequena vila de casas, para abrigar
os operários. Após a parada de Marituba, a locomotiva queimava
lenha até o município de Benevides, onde ficava a parada considerada a mais
elegante da época, o Recanto de Moema. Hoje, está de pé apenas uma parede. A
próxima estação ficava em Santa Izabel e na vila de Americano. A locomotiva à
vapor parava para o embarque e desembarque. Atualmente, a parada em Santa
Izabel, abriga uma escola municipal, assim como a parada, que ficava na vila de
Americano.
Recanto da Moema - Foto Celso Freire |
A locomotiva à vapor não podia parar. Após
percorrer 70 quilômetros, saindo de Belém, era hora de chegar à estação da
pequena vila de Apeú, em Castanhal. O trem era reabastecido com as águas do rio
que corta a localidade. A ponte está lá até hoje, firme e forte, assim como a
estação, que abriga atualmente o Mercado Municipal João Trindade da Costa.
Antiga estação virou mercado - Foto Celso Freire |
Seguindo os trilhos, chegamos
rapidamente a cidade de Castanhal. A estação era diferenciada. A Maria Fumaça
passava por dentro da construção. Hoje, tudo foi demolido, mas os turistas
podem ver de perto uma locomotiva da época exposta na praça matriz, dentro de
uma réplica da antiga estação.
Estação de Castanhal - Foto Celso Freire |
É a partir de Castanhal que o trecho foi
incrementado. A próxima estação ficava em Anhangá, hoje chamada de São
Francisco do Pará. As velhas casas estão sendo substituídas por novas
construções e o comércio vem mostrando crescimento, incentivados pelo governo
do estado. Mas, o destaque são as águas geladas dos igarapés: o do Pau Amarelo
e o do rio Jambuaçu.
Antigo trilho da Maria Fumaça - Foto Celso Freire |
Após quase quatro horas de viagem,
chega-se ao município de Igarapé-Açú, ou seja, metade do percurso para Bragança
já havia sido percorrido pela Maria Fumaça. A antiga estação também foi
demolida e deu lugar a uma praça e a uma parada de vans. A cidade tem cerca de
35 mil habitantes. Após a parada em Igarapé Açu, o trem rasgava
mais duas localidades: São Luis e Livramento. Na vila de Livramento, a Maria
Fumaça passava por baixo de uma das mais charmosas pontes de ferro do percurso:
ela é cheia de arcos sobre o rio e fica ao lado da caixa d’água que abastecia o
trem. O trajeto original foi preservado pelo governo do estado, assim como a
caixa dagua e a ponte. Eles servem de ponto turístico para quem passa pela PA
242.
Percurso original foi mantido em Livramento - Foto Celso Freire |
Finalmente a locomotiva chega ao
município de Nova Timboteua, final da PA 242. O prédio da antiga estação foi
demolido, mas em frente ainda está em pé o prédio do antigo telégrafo, onde atualmente
abriga uma agência dos Correios.
Nova Timboteua - Foto Celso Freire |
Após percorrer 160 quilômetros, a Maria
Fumaça está mais perto de seu destino final, a estação de Bragança. Após deixar
Nova Timboteua pra trás, o trem parava no município de Peixe-Boi, que ainda
mantém o prédio da antiga estação. Agora, ela serve de centro comercial para
diversos tipos de lojas.
Estação de Peixe-Boi abriga centro comercial - Foto Celso Freire |
20 kilômetros dali está a próxima parada: cidade de
Capanema. Hoje a antiga Estação abriga a Rodoviária Raimundo Felipe Iglesias.
Terminal Rodoviário está onde ficava a Estação do trem - Foto Celso Freire |
Seguir viagem era preciso. Até a
localidade de Tauari, o trem tinha que cortar morros, barrancos e queimar muita
lenha. O trecho continua de terra batida e serve de trilha off Road pra quem
gosta de aventura. A trilha vai dar na pequena vila de Tauari. A antiga estação
está de pé e agora serve de depósito para a prefeitura de Capanema.
Estação de Tauari - Foto Celso Freire |
Seguindo viagem, bem pertinho de Tauari,
está o distrito de Mirasselvas. A estação e a caixa dágua que abastecia o trem,
encontram-se desativadas, mas servem como depósito.
Estação de Mirasselvas - Foto Celso Freire |
De Mirasselvas à Quatipuru, o trem
percorria mais dez quilômetros. Atualmente, esse trecho teve que ser desviado
porque foi invadido por fazendeiros da região. Então, pelo desvio da rota
turística, chega-se em Tracuateua. A antiga estação abriga uma Agência dos
Correios.
Agência dos Correios em Tracuateua - Foto Celso Freire |
E após percorrer 222 km, e passar por 12
cidades, a Maria Fumaça para em Bragança, a Pérola do Caeté. A estação de
Bragança não existe mais. No local foi construída uma praça e um terminal
rodoviário. Historiadores contam que os militares arrancaram os trilhos para
abrir espaços para os automóveis.
Estação foi demolida em Castanhal - Foto Celso Freire |
Reportagem Celso Freire e Adonai do Socorro