No Pará, de acordo com dados da
Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado (Segup), de janeiro a
outubro de 2020, foram registrados 58 casos de feminicídio, enquanto, no mesmo
período, em 2019, houve 38 ocorrências. O aumento no número de mortes de
mulheres no período da pandemia de Covid-19 é um alerta ao Estado e à
sociedade.
Em todo o Estado, de janeiro a setembro
de 2020, foram registradas pela Segup mais de 2 mil ameaças contra mulheres,
473 casos de estupro e 7,8 mil casos de lesão corporal.
Neste mesmo período, mais de 100 casos
de assédio sexual contra a mulher foram registrados em todo o Estado, enquanto,
em 2019, foram contabilizados 29 casos.
A importunação sexual contra a mulher no
Pará também registrou aumento. De janeiro a setembro de 2020, 350 casos foram
denunciados. No mesmo período, em 2019, 157 casos foram registrados.
No que se refere aos crimes de honra e à
cultura de desacreditar a fala da mulher, foram registrados, de janeiro a
setembro de 2020, mais de 1,6 mil casos de calúnia contra mulher; 2,7 mil casos
de difamação e nove mil casos de injúria, relacionados à violência doméstica,
em todo o Estado.
As violências contra a mulher podem ser
físicas, psicológicas, morais, sexuais e patrimoniais, conforme a Lei Maria da
Penha, nº 11.340. Para combater essa realidade, a campanha internacional '16
dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher', iniciada nesta
quarta-feira (25), busca provocar a reflexão da sociedade sobre os abusos
vividos por muitas mulheres em todo o mundo.
UEPA
A educação é uma das alternativas para
transformar essa realidade e diminuir estes índices. Ela desconstrói, reconstrói
e cria possibilidades de empoderar mulheres por meio da provocação de
discussões e diálogos no ambiente acadêmico.
Segundo a Profª Drª Lana Macedo,
coordenadora do Grupo de Pesquisa Gênero, Feminismos e Sexualidades (GEFES), da
Universidade do Estado do Pará (Uepa), a educação formal e não formal são
importantes aliadas no combate à violência contra a mulher.
"Precisamos problematizar, dar
visibilidade, discutir e lutar, buscando alternativas de enfrentamento.
Mulheres morrem simplesmente por serem mulheres", afirma a professora, que
acredita na educação, de homens e mulheres, como arma de desconstrução da violência
e consolidação dos Direitos Humanos.
Desde os anos 1980, os movimentos
feministas no Brasil têm como principal bandeira de combate à violência contra
a mulher a ideia de que "Quem ama não mata" e segundo a professora,
infelizmente, essa é uma bandeira que ainda é preciso levantar, diante de uma
sociedade estruturada pelo patriarcado.
"Lutamos para avançar o pensar do
ser humano e para alcançar um modelo de sociedade que nos permita ser quem a
gente quiser, sem estarmos presas a padrões impostos socialmente de forma
secular", reforça a coordenadora.
Um dos Trabalhos de Conclusão de Curso
em desenvolvimento na Uepa preocupados com esta temática é intitulado
"Trabalho Doméstico Feminino: os resquícios da escravidão na
contemporaneidade", de autoria de Débora Martins, aluna de Ciências
Sociais do Campus de Igarapé- Açu.
A motivação da autora surgiu pelo fato
da maioria das mulheres de sua família viverem a realidade do trabalho
doméstico desde a infância.
A pesquisa, realizada no município de
Castanhal, aborda a trajetória desse movimento de saída do interior para a
capital do Estado, com expectativas de melhorias de vida, que, segundo a
autora, são limitadas pelo trabalho doméstico e por diversos tipos de
violência, que geram marcas que acompanham essas mulheres até hoje.
"Escrever sobre as formas de
violência que acontecem dentro do trabalho doméstico é um desafio importante
pra mim, como mulher negra, poder construir esse lugar de fala. Mesmo com
avanços na legislação, na prática, inúmeros abusos continuam acontecendo.
Precisamos gritar para acordar a sociedade", avalia Débora, que será a
primeira pessoa da família a concluir o Ensino Superior.
DENÚNCIA
Qualquer pessoa pode enviar mensagens
para o WhatsApp do Disque Denúncia (91) 98115-9181, ligar para 181 ou acionar o
Centro Integrado de Operações (Ciop), via 190, para denunciar crimes e outras
formas de violência contra a mulher.