Resgatar a autoestima e a
esperança das mulheres que perderam o couro cabeludo em acidentes de motor.
Esse foi o objetivo da campanha lançada no Centro de Recuperação Feminino
(CRF), em Ananindeua, região metropolitana de Belém, em parceria com a
Organização Não Governamental dos Ribeirinhos Vítimas de Acidentes de Motor
(Orvam), Instituto Embeleze e Instituto Sob um Novo Olhar (Isno), em alusão ao
Dia Nacional de Combate e Prevenção ao Escalpelamento, comemorado no último
domingo (28) em todo país. No total, 40 detentas participaram da ação.
A Orvam tem o objetivo de acolher
pessoas que sofreram acidentes de motor de barco e perderam o couro cabeludo e
sobrevive apenas de doações. Hoje, na sede da entidade, são produzidas perucas
para distribuição às 122 integrantes. “É um trabalho de conscientização para
mostrar às mulheres presas que existem vários tipos de prisão, e talvez a pior
seja a prisão da alma, que é o que as mulheres escalpeladas sofrem após o
acidente. É a primeira vez que esse tipo de ação ocorre no CRF, e é
gratificante ver que o exemplo de doação está vindo de dentro da cadeia”,
destacou a diretora do CRF, Carmem Botelho. Além do corte de cabelo, as
detentas fizeram limpeza de pele e design de sobrancelhas.
“Fiquei feliz em praticar um ato
de bondade. A gente que tem filho pensa que poderia ser com eles e que também
ia querer contar com a solidariedade do próximo. Gostava muito do meu cabelo
grande, que já vinha deixando do mesmo tamanho há muito tempo, mas como é por
uma boa causa, resolvi aceitar o corte, e não me arrependo. Quando ele crescer,
quero participar de novo”, disse a detenta Thalia Rabelo, 19 anos.
Sensibilidade – Para confeccionar
uma peruca são necessários de dez a 12 metros de cabelos costurados, o que
equivale de quatro a cinco cortes de pessoas diferentes. O comprimento ideal é
30 centímetros para se obter o bom aproveitamento. O preço médio da peruca –
que dura dois anos no máximo – é R$ 1,2 mil, inviável para as vítimas, cuja
maioria é humilde e de origem ribeirinha. “Ficamos sensibilizados com a atitude
das detentas. Isso mostra que qualquer pessoa pode ser solidária, independente
da condição em que se encontra. É uma questão de valorização do ser humano, de
acreditar que ele ainda tem chances de mudar”, destacou a presidente da Orvam,
Maria Cristina dos Santos.
O escalpelamento é o arrancamento
brusco e acidental do couro cabeludo humano, por meio de diversas formas. Na
região amazônica, os acidentes são provocados, mais comumente, por motores de
barcos de pequeno porte, como as “voadoras”. Ao se aproximarem do motor, as
vítimas têm os cabelos puxados, enrolados e arrancados pelo eixo sem a proteção
adequada. Este ano, quatro acidentes foram registrados no Pará.
Serviço: A Orvam fica Avenida
João Paulo II, Lote 134, entre as ruas Mariano e Coração de Jesus, no
Castanheira. O atendimento é toda segunda, quarta e sexta-feira, no horário de
8h às 17h. Contato: (91) 98155-5911.