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Foto:Ascom |
O número é alarmante e preocupa a
Secretaria Municipal de Saúde (Sesma). De acordo com Ivison Carvalho, diretor
do Departamento de Urgência e Emergência, o trote é um prejuízo de tempo e
dinheiro para um serviço essencial, ocupando as equipes de triagem desde a
chamada telefônica até o deslocamento de uma ambulância ao suposto local. “Isso prejudica o tempo resposta das
ambulâncias do SAMU no atendimento dos casos que são realmente graves. Muitas
vezes, quando a ambulância consegue chegar ao local correto, já não há mais o
que fazer”, garante Ivison.
O Ministério da Saúde dimensiona
uma Unidade de Suporte Básico (USB) para cada 150 mil habitantes, tripulada por
técnicos de enfermagem, condutores, além de uma Unidade de Suporte Avançado
(USA) para cada 350 mil habitantes. “Quando esta chamada indevida aciona uma
unidade móvel, seja USA ou USB, toda a população daquela área, ou seja, 150 mil
a 350 mil pessoas, fica desguarnecida e sob risco. Daí o prejuízo do tempo
resposta do SAMU para as atividade que realmente lhe cabem”, enfatiza o diretor
e acrescenta ser muito frustrante para a equipe de atendimento chegar a um
local e perceber que foi vítima de um trote.
Atualmente, as equipes que
atendem a central de regulação das urgências recebem treinamentos constantes e
possuem expertise na identificação das chamadas para diminuir os trotes. São
observados vários critérios: desde o estado emocional do demandante, descrição
clínica da cena onde o suposto usuário se encontra, identificador de chamadas,
mailing de números que frequentemente passam trotes e ligações de números não
identificados. “Ainda assim, há pessoas que interpretam tão bem que acabam
convencendo a equipe reguladora”, frisa Ivison.
A Guarda Municipal de Belém
também sofre com o alto número de ligações indevidas. Lá, quase 60% das
chamadas mensais são trotes ou engano. Desde a implantação do disque 153, em
setembro de 2016, os números só aumentam. “A maioria das ligações é de pessoas
fazendo piadas ou crianças fantasiando uma ocorrência. Nós procuramos orientar
a todos sobre a importância desse serviço para a população”, conta Rogério
Cardoso, coordenador do Sistema Integrado de Videomonitoramento (SIM).
Os trotes preocupam a
instituição, pois ocupam as linhas e impedem que ocorrências verdadeiras possam
ser averiguadas pela Guarda Municipal e representam custos altíssimos para a
gestão pública. O coordenador reforça que a implantação do número 153 veio
complementar o sistema de videomonitoramento da guarda para ações estratégicas
de segurança. “Pelo telefone, os cidadãos comuns podem acionar a GMB para
verificar ocorrências de roubo, furto, moradores de rua. Em casos de trote,
deslocamos viatura para a falsa ocorrência e deixamos uma área descoberta.
Gastam-se peças e combustível, que poderiam estar sendo usadas para o
atendimento real”.
Para o psicólogo Eduardo Martins,
muitas pessoas tendem a confundir o bom humor com brincadeiras de mau gosto com
consequências prejudiciais impensadas. Segundo ele, pessoas assim, buscam
plateias para satisfazer seus devaneios. “Essas pessoas acham que um trote é
engraçado dentro dos critérios que ela criou para se divertir. Na verdade, não
percebem que elas mesmas podem ser a próxima vítima, quando necessitarem de uma
ambulância que está ocupada atendendo um trote”.
Segundo o psicólogo, "embora
prejudicial, o trote era uma brincadeira entre duas pessoas: uma que ligava e
outra que atendia. Atualmente, o indivíduo motivado por plateias, anseia filmar
ou gravar sua ‘façanha’, para que outros achem engraçado, e que neste caso
especifico, tem uma motivação aparentemente patológica, pois o autor não
reflete sobre as consequências em detrimento de um desejo insano de parecer
engraçado", afirma.
Eduardo acrescenta que quando
essas pessoas passam trote e transgridem a segurança pública e o bem-estar do
próximo, são consideradas desinformadas ou psicopatologicamente comprometidas.
“É preciso reflexão sobre os limites, visto que tais atitudes colocam a vida de
outras pessoas em risco. Quem passa um trote é aquela pessoa que perdeu a
capacidade de refletir e de fazer o movimento de se colocar no lugar do outro”,
assegura o profissional.
De acordo com o Código Penal,
artigo 340, provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de
crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado (trote) pode levar a
pena de detenção, de um a seis meses, ou multa.
O coordenador da Guarda Municipal
faz um alerta aos pais e às escolas para que orientem as crianças a não fazer
essas ligações indevidas. “As crianças são multiplicadoras e guardam as
informações que passamos. É muito importante passar a elas a noção de que uma
mentira pode ser maléfica e comprometer o atendimento a uma pessoa que
realmente precisa”, observa. A mesma opinião é compartilhada pelo diretor de
Urgência e emergência da Sesma. Ivison Carvalho destaca que preciso se conscientizar que o SAMU é voltado
para atendimento de pessoas com risco iminente de morte e por isso, não pode
brincar em serviço, precisa ser eficiente, assertivo e resolutivo.
“Definitivamente, trote é um desserviço para a própria população”, conclui.