O Instituto Evandro Chagas
(IEC/SVS/MS) divulgou na tarde desta quarta-feira, 28, o segundo relatório
técnico referente aos riscos ambientais próximos à operação da mineradora Hydro
em Barcarena, na região metropolitana de Belém. O documento intitulado
“Avaliação Preliminar dos Impactos Ambientais Referente ao Transbordo e
Lançamentos Irregulares de Efluentes de Lama Vermelha na Cidade de Barcarena, estado
do Pará” traz o resultado das análises de amostras de água coletadas no Rio
Murucupi, em vários pontos do Rio Pará, nos rios Arienga, Arapiranga, Guajará
do Beja, Igarapés Curuperê, Dendê e um igarapé que é afluente do Tauá, além de
amostras de lama coletadas dentro da empresa em todo o sistema de efluentes e
amostra coletada na estrada PA-481, após o tombamento de um caminhão no dia
22/02. As amostras de água foram coletadas entre os dias 25/02 e 08/03.
Confira abaixo as principais conclusões trazidas
pelo relatório:
- A partir dos resíduos da
empresa, não só os resíduos de lama vermelha, mas resíduos de cinzas também, há
níveis consideráveis de metais tóxicos nas amostras analisadas como arsênio,
chumbo, manganês, zinco, mercúrio, prata, cádmio, cromo, níquel, cobalto e
urânio. Além de alumínio, ferro e cobre.
- Muitos desses metais tóxicos
circulavam pelos canais irregulares já identificados na empresa: canal antigo e
canal de cinzas.
- Nos resquícios de efluentes
dentro do canal auxiliar denominado como canal antigo foi encontrado níveis
muito elevados de Manganês, indicando que o lançamento de qualquer material que
passasse por ali e sem qualquer tratamento representa um risco de danos aos
ecossistemas aquáticos e à saúde humana
- A soma dos efluentes de lama
vermelha com os efluentes de cinza aumenta muito o nível desses metais nos
efluentes da DRS1.
- As águas do Rio Murucupi, no
trecho entre a comunidade Vila Nova e as nascentes, estão comprometidas com
níveis de alumínio, ferro, arsênio, cobre, mercúrio e chumbo acima do que prevê
a legislação brasileira. Logo, são águas que não devem ser usadas para consumo
humano, recreação ou pesca, até que se façam estudos de eco toxicidade na
região. Todos os elementos tóxicos encontrados nos efluentes da empresa Hydro
também são encontrados nas águas do rio Murucupi.
- Em coletas após os eventos do
dia 17 de fevereiro, se encontrou níveis bastante elevados em relação à
legislação brasileira de alumínio, ferro e alguns outros metais tóxicos, em
águas do Rio Pará. Destaca-se que o volume de água do Rio Pará é muito grande e
é necessário o lançamento muito grande de efluentes e/ou contínuo para alterar
esses parâmetros.
- Os dados de alumínio e ferro
dissolvido nos rios Pará (áreas próximas às praias de Sirituba e Beja), Guajará
do Beja, Arapiranga, igarapés do Curuperê e Dendê e tributário do Tauá mostram
níveis destes metais bem acima dos limites da resolução Conama 357/2005 logo
após o dia 17/02. Em alguns pontos desses rios e igarapés os níveis totais de
metais tóxicos como Arsênio, Chumbo e Cromo apresentaram também teores acima da
legislação brasileira.
- Os riscos em saúde ambiental
foram bem maiores do que se imaginava, não se limitando à bacia do Rio
Murucupi.
- O material que tombou na
estrada estadual PA-481 na noite do dia 22 de fevereiro era efluentes de lama
vermelha. O derramamento desse material na estrada colocou em risco todos os
ecossistemas que estão perto da estrada e até pessoas que circulam na estrada
de uso público. Destaca-se que, nas adjacências da área onde foi coletada esta
amostra, existem igarapés e nascentes que compõem as bacias hidrográficas do
Rio Murucupi e São Francisco. Segundo o relatório, pela declividade do terreno,
essas nascentes podem ter recebido essa carga de resíduos e efluentes.
RECOMENDAÇÕES
• Continuar a disponibilizar, pelo menos
até o final do período de chuvas, água potável as comunidades do Bom Futuro,
Jardim dos Cabanos, Burajuba e Vila Nova, pois as águas do rio Murucupi
apresentam níveis de metais tóxicos que oferecem riscos a saúde humana a partir
do consumo direto ou uso para recreação e pesca;
• Ampliar esta disponibilização de água
potável no mesmo período para as comunidades que residem nos municípios de
Barcarena e Abaetetuba às margens dos igarapés Dendê e Curuperê, e rios Pará,
Arapiranga, Guajará do Beja, Arienga e Tauá. Como citado, com esses dados não
foi possível confirmar alterações na qualidade das águas em outras áreas da
região;
• As águas superficiais e de consumo
humano no entorno do empreendimento da Hydro devem ser continuamente biomonitoradas,
através de sistemas telemétricos e coletas in loco, e criado sistema de alerta
as populações que moram ao redor ou fazem uso delas. Todo biomonitoramento na
região deve conter dados completos com análises de metais como previsto na
legislação brasileira;
