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| Estudos estão sendo feitos há mais de um ano na Ufopa e devem ser finalizados em 2019 - Foto: Arquivo dos pesquisadores. |
Lançar no mercado um produto que
contenha bactérias probióticas oriundas de matérias-primas encontradas na
Amazônia e que possam produzir melhoria na saúde do consumidor é a finalidade
do grupo de pesquisadores da Ufopa, que já está há mais de um ano realizando
experimentos a partir da fermentação da mandioca e do queijo coalho produzidos
artesanalmente na região.
Os primeiros resultados apontam para a
existência da bactéria chamada Lactobacillus, capaz de inibir o crescimento de
bactérias patogênicas, ou seja, as que causam doenças como infecção intestinal
e intoxicação por alimentos, principalmente em crianças e idosos, os mais
afetados por doenças gastrointestinais. A salmonela, por exemplo, é uma das
bactérias patogênicas, e os seus principais sintomas são diarreia, dores
abdominais, náuseas, vômito e febre. Ela é responsável por altas taxas de
mortalidade principalmente em países em desenvolvimento. A ingestão de um
alimento contendo probióticos a exemplo dos Lactobacillus pode inibir os graves
sintomas da salmonelose.
De acordo com um dos pesquisadores, o
professor doutor em biotecnologia Thalis Ferreira dos Santos, do Instituto de
Biodiversidade e Florestas (Ibef/Ufopa), as bactérias isoladas da mandioca e do
queijo artesanal produzem substâncias que matam micro-organismos que causam uma
variedade de doenças. “Estamos prosseguindo nesses estudos para identificar
essa substância e os mecanismos pelos quais elas matam os patógenos Escherichia
coli e Salmonella enterica, que causam determinadas doenças, como a infecção
intestinal, podendo ser bastante grave em grupos vulneráveis, como
recém-nascidos e idosos. Também, como atuo no curso de Biotecnologia, no final
pretendemos desenvolver e lançar um produto probiótico no mercado. Os próximos
passos serão investigar a melhor forma de inserir essas bactérias nesse
produto. O essencial já conseguimos, que foi detectar a existência de
lactobacilos no processo de fermentação da mandioca e no queijo coalho”.
O Prof. Dr. Thalis explicou que a
pesquisa envolve bactérias lácteas e são elas que serão usadas como probióticos
(produtos alimentares que contém micro-organismos vivos, cuja ingestão traz
benefícios à saúde). “Nosso foco foi pesquisar as bactérias benéficas em
produtos da Amazônia. O primeiro momento foi propor o isolamento desses
probióticos e a identificação. A partir daí, descobrir se elas podem inibir o
crescimento de bactérias que causam doenças, se podem ser adicionadas em um
alimento, como queijo, suco ou mesmo numa apresentação farmacêutica como uma cápsula,
e se causaria um tipo de melhora na saúde das pessoas”.
Fases da pesquisa – Para alcançar o
objetivo, a pesquisa foi dividida em três fases: a) isolamento das bactérias da
mandioca e dos queijos artesanais; b) identificação dos potenciais dessas bactérias,
no caso, se elas realmente inibem o crescimento de patógenos; e c)
desenvolvimento e lançamento de um produto probiótico contendo as bactérias
isoladas. As duas últimas fases envolvem pesquisas para assertividade do
produto ideal, busca de parceiros e aceitação no mercado consumidor.
O Prof. Dr. Thalis explica que chegar à
fase final deve levar aproximadamente mais um ano e meio. “Ainda precisamos
estabelecer parcerias e realizar pesquisa no mercado para verificar a
possibilidade de saída e qual de fato será esse produto. Sabemos que pessoas
que se alimentam com produtos que contém probióticos melhoram sua saúde em
vários aspectos, incluindo psicológicos, como depressão, já comprovado
cientificamente. Pretendemos fazer estudos mais aprofundados a respeito e
saber, inclusive, quais os outros potenciais que essas bactérias apresentam
além da inibição de bactérias patogênicas".
Além do professor Thalis Ferreira, os
estudos estão sendo feitos por quatro alunos de iniciação científica do Ibef:
Thayná Moura, Lucas Alvarenga, André Lucas e Larissa Sampaio, e em parceria com
professores que trabalham com biotecnologia microbiana na Ufopa, a exemplo da
professora Katrine Escher, do Instituto de Saúde Coletiva (Isco).
Para o pesquisador Thalis, o primeiro resultado,
que surge a partir da caracterização da bactéria, já é considerado expressivo.
“Percebemos que temos um grande potencial para produzir substâncias que
combatem bactérias maléficas à saúde humana e animal. Isso é superimportante,
pelo potencial biotecnológico, especialmente na Amazônia, onde há muita riqueza
de produtos para serem explorados”.
Origem da pesquisa – A ideia de
pesquisar sobre bactérias probióticas surgiu quando o professor Thalis Ferreira
ainda estudava mestrado e doutorado, na Bahia. “Ao chegar na região amazônica,
a curiosidade aumentou. Não conhecíamos nada relacionado a produtos daqui da
região e nem que tipos de bactérias poderiam ser encontrados para este fim.
Descobrir o que os micro-organismos isolados aqui têm de diferente dos já
descobertos em outros lugares é nosso principal desafio, já que na região
amazônica tem poucos trabalhos a respeito”.
Ele ressaltou que as pesquisas
realizadas para descobrir bactérias probióticas a partir de produtos típicos da
Amazônia são únicas na Ufopa, mas já há outros grupos de estudiosos na região
utilizando o açaí, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
O produto - Após a caracterização,
dependendo do que for descoberto durante a fase de experimento, pode surgir um
produto também na linha de cosméticos, como um creme para combater infecção
vaginal, um sabonete que sirva para eliminar micro-organismos que causam
doenças dermatológicas, etc. “Depois de todo o processo de estudos e
experimentos, pretendemos desenvolver o produto. Já pensamos em alimentos como
queijo, iogurte ou polpas de fruta, cuja comercialização será feita com valor
agregado, pela garantia de que a pessoa vai consumir algo que trará benefícios
à saúde, mas há os cosméticos, muito valiosos no mercado e com potencial elevado
no combate a doenças".
* Colaboração: Albanira Coelho – Comunicação/Ufopa

