A comunidade quilombola São José de
Icatu, localizada a 23 km da sede do município de Mocajuba, no nordeste
paraense, passa nos últimos anos por intensa transformação. As mudanças
iniciaram em 2012, quando as casas, antes de madeira e cobertas de palha,
começaram a ser substituídas por novas moradias em alvenaria, possibilitando
mais conforto aos moradores.
Em 2012,
a comunidade recebeu o conjunto habitacional Climério da Rocha, o
primeiro residencial da Região Norte destinado aos descendentes de quilombolas,
com 50 unidades habitacionais, construídas pela Companhia de Habitação do
Estado (Cohab), com recursos federais e contrapartida estadual.
Junto com as casas vieram a padaria,
denominada Fruto da União; um sistema de abastecimento de água e atividades de
formação pessoal, como cursos, palestras, treinamentos e oficinas, visando a
geração de renda e organização social.
“Nossa padaria tem uma produção diária
que abastece toda a comunidade de Icatu. Mas nossa intenção é de utilizar parte
dessa produção na merenda escolar. Para isso, vamos precisar adquirir ainda um
veículo para viabilizar a entrega”, disse Maria José Brito, uma das lideranças
locais.
Sobre as residências, Maria José
ressaltou que agora “estamos com nossas casas dentro de um mesmo padrão. São
moradias dignas, com banheiros decentes”.
Mais 38 casas de alvenaria estão sendo
construídas, substituindo habitações em madeira com cobertura de palha. Mais
nove unidades habitacionais serão viabilizadas nos próximos meses, a fim de
suprir a carência de moradia da comunidade.
Mais conforto
Terezinha Estumano, 57 anos,
agricultora, mora com dois netos na comunidade. Após iniciar a construção de
sua nova casa, ela disse que realiza um sonho. “Eu pensei que ia ser difícil
porque sou sozinha. Minha neta cobrava um banheiro melhor, e agora eu vou poder
atender ao pedido dela. Eu achava que nunca ia conseguir, mas agora vai ser
muito melhor”, afirmou.
Domingas Portilho, 54 anos, é outra
moradora da área que terá uma casa nova. Ela também cria dois netos, que
perderam a mãe há um ano, e informou que seu desejo era dar mais conforto às
duas crianças, de 10 e 12 anos. “O pai das crianças ameaçava tomar meus netos
porque a nossa casa não era adequada pra eles ficarem conosco. Mas agora eles
vão ter mais conforto aqui. Eu pensava que não ia ter condição de construir uma
casa assim, mas a gente conseguiu”, ressaltou.
A origem da comunidade São José de Icatu
remonta a 1770. É formada por descendentes de escravos, que fugiram das
fazendas localizadas em Abaetetuba e Igarapé-Miri, municípios do entorno de
Mocajuba. Hoje, moram no local cerca de 90 famílias, que sobrevivem basicamente
da agricultura de subsistência (feijão, pimenta e mandioca) e da pesca.