Foto: Comus/Prefeitura Belém |
Quem visita a praça da República,
fundada e urbanizada em 1878, se encanta com a beleza do espaço. Entre as
históricas esculturas, os belos coretos e as frondosas árvores, existe uma
moradora da praça que também chama atenção: um pirarucu fêmea que vive há cerca
de três anos em um dos lagos da praça.
Na manhã deste sábado, 4, o espécime foi
avaliado por uma equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma),
composta pela veterinária e o biólogo do Jardim Zoobotânico Bosque Rodrigues
Alves. Para a garantia do bem-estar e para a segurança do animal, em cerca de
duas semanas ela será levada para o Bosque. A decisão foi tomada após a
terceira tentativa de roubo do peixe.
O peixe chegou na praça da República
ainda filhote. Hoje, medindo mais de um metro de comprimento e com o alto valor
da carne no mercado, conhecida como bacalhau da Amazônia, além dos olhares de
encanto atrai também pessoas que tentam capturar o animal para a venda e
consumo da espécie. Durante esta semana, dois homens foram presos por agentes
da Guarda Municipal de Belém após tentarem roubar o peixe, com uma rede e um
arpão.
"Visualmente a saúde dela está boa,
pois ela está apresentando as características normais da espécie: está
levantando a cabeça para respeitar, se movimentando e está interagindo com as
pessoas, já que essa espécie se acostuma com a presença humana. Ela deve pesar
entre 30 e 40 quilos", explicou o biólogo Tavison Guimarães. "A
previsão é que em mais ou menos duas semanas ela seja retirada daqui. Vai
depender de como estará o funcionamento dos órgãos por conta da pandemia. Nós
também vamos precisar fazer a adequação do recinto dela no Bosque", disse
a veterinária Ellen Eguchi.
Transporte - Além disso, os
profissionais tomarão todos os cuidados necessários para o transporte do
animal, para que o peixe chegue com saúde e segurança no novo lar. "Vamos
minimizar o máximo o estresse dela, vamos trazer um recipiente grande para
levar ela o mais à vontade e o mais brevemente possível. Precisaremos de uma
grande equipe para levá-la", completou Ellen.
Ellen do Amaral é cuidadora de animais,
vai todos os dias à praça e aproveita para visitar o peixe. "Eu fico feliz
em saber que ela vai viver com mais segurança e triste em perceber que a
população não está preparada para ter um animal desse porte aqui. Eles jogam
todo tipo de alimento para ela: pipoca, biscoito, salgadinho... e fico mais
triste ainda em saber da tentativa de roubo do animal. Foi uma indecência
enorme ver trazerem uma rede e um arpão para tentar roubar ela".
O pirarucu é um dos maiores peixes de
águas doces fluviais e lacustres do Brasil. Pode atingir três metros e seu peso
pode ir até 200 quilos. É um peixe que é encontrado geralmente na Bacia
Amazônica. Seu nome se originou de dois termos tupis: pirá, "peixe",
e urucum, "vermelho", devido à cor da cauda.
Conscientização - A alimentação do
animal preocupa a veterinária Ellen Eguchi, que ressalta o quanto é importante
a consciência da população para manter o animal saudável. "As pessoas não
conhecem os hábitos alimentares dos peixes da Amazônia, principalmente do
pirarucu. Elas acham que faz parte da dieta dele e dão bolacha, biscoito, mas
não faz. Ele é um peixe carnívoro, é muito prejudicial para ele".
Uma característica do peixe também faz
com que os cuidados dos profissionais sejam redobrados durante o transporte.
"Precisamos ter todos os cuidados com a logística da distância, pois
devido uma característica peculiar, esse peixe pode morrer afogado, já que 80%
da respiração dessa espécie é atmosférica, ele levanta a cabeça para
respirar", contou Tavison.
Atração - Abílio Mendes, de 72 anos, vai
à praça todos os domingos. Ele conta da alegria da criançada ao ver o peixe.
"Fico muito triste em saber que ela vai embora, pois é a alegria das
crianças, elas adoram esse peixe. Essa já é a terceira tentativa de roubo do
pirarucu, e a Guarda Municipal sempre está aqui é impede", disse o
aposentado.