Mortalidade de indígenas por covid-19 na Amazônia é maior do que médias nacional e regional




O novo coronavírus é especialmente mortal para os povos indígenas na Amazônia. É o que demonstra uma análise sobre o impacto da covid-19 nessa população feita pela Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), e que será debatida lançada nesta segunda-feira (22), às 16h, em uma live em facebook.com/coiabamazoniaoficial.

Segundo o estudo, a taxa de mortalidade pelo coronavírus entre indígenas (o número de óbitos por 100 mil habitantes) é 150% mais alta do que a média brasileira, e 20% mais alta do que a registrada somente na região Norte – a mais elevada entre as cinco regiões do país. Igualmente preocupante é a taxa de letalidade, ou seja, quantas pessoas infectadas pela doença morreram: entre os indígenas, o índice é de 6,8%, enquanto a média para o Brasil é de 5% e, para a região Norte, de 4,5%.

Já a taxa de infecção pela doença por 100 mil habitantes entre os indígenas é 84% mais alta se comparada com a média do Brasil. Ela não é maior do que o índice de toda a região Norte, mas demonstra uma inclinação da curva mais aguda. “Nesta análise, traduzimos em números aquilo que tem sido mostrado e falado pelos povos indígenas desde o início da pandemia: esta é uma população extremamente vulnerável ao novo coronavírus e, como tal, precisa receber um tratamento diferenciado”, diz a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar.

Confira aqui o estudo completo.

A equipe da Coiab trabalha diariamente com dados de casos de infectados e óbitos levantados e sistematizados, com o objetivo de apresentar informações mais próximos da realidade do que os dados oficiais, disponibilizados pelo Ministério da Saúde. O estudo levanta algumas possíveis explicações para a taxa alta de infecção, mortalidade e letalidade entre os povos indígenas. Além disso, a análise aborda alguns temas como: os sistemas deficientes de cuidados específicos a essa população; o possível baixo grau de imunidade indígena a patógenos exógenos ao seu ambiente; e a problemática da invasão das terras indígenas por atores que podem levar o vírus para dentro dos territórios e comunidades.

“Os dados da Coiab vêm para fortalecer os dados do governo federal. Estamos levantando as informações oficiais das organizações indígenas sobre a realidade que estamos vivendo hoje. É um controle social, que faz parte do trabalho de atenção básica de política de saúde”, explica o vice-coordenador do Coiab, Mário Nicácio.

A coordenadora geral da Coiab, Nara Baré, destaca que “devido ao número alto de subnotificações da doença, e a própria omissão do Estado em não acompanhar os casos dos indígenas em contexto urbano, esses números, na verdade, estão muito abaixo do real. Chegamos mais próximo do número de óbitos, mas de suspeitos e infectados, lamentavelmente, eles são muito maiores”.

“Trata-se de vidas, de atenção, de acompanhamento, e do trabalho de toda uma equipe que a gente mobilizou para poder não somente contabilizar, mas dar visibilidade a essa situação. É uma iniciativa indígena que busca esclarecer e orientar o poder público, e dar orientações e encaminhamentos para as comunidades indígenas. Estamos muito preocupados com a pandemia do coronavírus e temendo que aconteça uma morte em massa dos povos indígenas pela falta de apoio do Estado brasileiro”, alerta Mário Nicácio.