Obra no Solar da Beira valoriza a história em cada detalhe



Os detalhes decorativos e arquitetônicos do Solar da Beira, que revelam uma parte da história da Belém do início do século XX , estão sendo recuperados e restaurados pela obra da Prefeitura no antigo casarão. O importante prédio, tombado como patrimônio histórico, integra o conjunto arquitetônico do Complexo do Ver-o-Peso e foi construído logo após o surgimento da feira.

A obra do Solar da Beira se iniciou em março de 2019 e está com quase 80% dos serviços concluídos. Depois do trabalho de restauro da fachada, mantendo os traços e detalhes arquitetônicos originais, a pintura nas cores originais devolveu a beleza ao casarão, que há mais de 12 anos não recebia reforma.

De acordo com a titular da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), responsável pela obra, Annete Klautau, a definição da pintura partiu de pesquisas e estudos criteriosos das cores. “A cor do Solar da Beira foi eleita, entre três propostas apresentadas por renomados especialistas na área de preservação de imóveis tombados, com o aval dos órgãos de preservação. A prioridade para esta escolha está ligada à leitura do seu entorno, onde encontra-se o principal cartão-postal da cidade de Belém, o Mercado do Ver-o-Peso e o Mercado de Carne, além dos imóveis tombados do Boulevard Castilhos França e a feira. Sendo assim, o Solar da Beira ganhou cores sóbrias, dialogando com os outros monumentos sem ofuscá-los, compondo com sua vizinhança e valorizando o espaço urbano", detalha a secretária.

Restauro - O cuidado com o restauro também pode ser visto no trabalho do artesão Jonas Monteiro, 52. Nas mãos dele, os ladrilhos hidráulicos do piso do mezanino do Solar ganham forma e cores. As peças remontam ao século XVI e são recriadas a partir de uma moldura que produz nove de cada vez. A pintura também é feita de forma minuciosa pelo trabalho manual do artesão. Depois de pintadas, as peças ainda passam por um tipo de envelhecimento para ficarem com aspecto mais próximo do original.

“É um orgulho e uma honra trabalhar nesse local tão importante para a nossa história. Sabemos que cada peça que a gente restaura tem muito valor e por isso o cuidado e o respeito é muito maior porque aqui tem a história de nossos antepassados. Depois que terminar a obra, quero trazer meus filhos aqui e ter orgulho de dizer que eu também ajudei a recuperar a beleza de lugar”, revela o artesão.

Os tijolos maciços das paredes passaram por uma limpeza especial para dessalinização e receberam pintura e impermeabilização, assim como peças de madeira do assoalho e cobertura passaram por tratamento especial para evitar insetos e fungos.

A nova cobertura teve renovação das telhas e do forro, além da implantação de manta antitérmica e protetora. As grandes janelas e portas, que são a marca do Solar, foram todas recuperadas em cada detalhe em madeira e vidro. A escadaria de metal e demais estruturas metálicas receberam tratamento antiferrugem e pintura. 

A reforma contempla ainda o quiosque de alvenaria que fica ao lado do casarão, em frente ao setor das erveiras. Ele foi todo restaurado e também já recebeu pintura.

Arqueologia - Outra frente de trabalho que chama atenção na obra é a arqueológica. Centenas de objetos que remontam ao cotidiano de uma Belém do início do século XX foram encontrados durante as escavações para a construção da cisterna e da estação de tratamento de esgoto.

Dentre os vestígios descobertos estão fragmentos de louças, porcelanas, garrafas de vidro e de barro, talheres, latas, moedas e outros objetos metálicos, como ferraduras e rodas. O destaque é para uma colher de metal, uma lata de sardinha e uma moeda da época do Império.

Segundo o diretor de Obras Civis da Seurb, Reinaldo Leite, a presença de uma profissional de arqueologia atende uma obrigatoriedade nos projetos de restauro em espaços tombados como patrimônio. “Como no escopo da obra estavam previstas as escavações nesse espaço que sabemos ser histórico, foi exigido que a empresa executora atendesse essa norma do acompanhamento por arqueólogos, atendendo assim a Lei 3.924/61, que estabelece que tudo que é arqueológico é patrimônio e deve ser guardado e protegido pelo poder público”, detalha o engenheiro.  

A arqueóloga Amanda Seabra é uma das especialistas à frente do delicado trabalho de recolher cada peça, limpar, catalogar, organizar e acondicionar. Com ela, trabalha a museóloga Larisse Rosa. Até agora, os objetos desenterrados já ocupam mais de quatro caixas de 30 litros cada.

“Estamos recolhendo e catalogando todo material encontrado e repassaremos para a Prefeitura e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para que decidam destino e salvaguarda. Nós já sugerimos, inclusive, que fiquem em exposição aqui mesmo no Solar”, explica a arqueóloga.

Modernização - Além do trabalho de restauro, foram feitos acréscimos para garantir a segurança e durabilidade do local, como a instalação dos sistemas elétrico, hidrossanitário, de drenagem, acústico, de climatização, de lógica e combate a incêndio; além de construção de uma plataforma de elevação para acessibilidade ao andar de cima e reforma de todos os banheiros com acessibilidade.

Agora, os serviços estão concentrados na construção da estação de tratamento de esgoto, conclusão da parte elétrica, da cisterna, da pintura na área de trás do prédio, testes dos aparelhos de ar-condicionado, restauro dos pisos com ladrilhos e acabamentos nos banheiros.

A obra é executada pela construtora Maguem, com previsão de entrega para julho. O valor investido é na ordem de R$ 3 milhões.