Pará entre os estados com maior proporção de violência do país

  

De acordo com o volume 5 da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar, o Pará está entre os estados com maior proporção de vítimas de violência do país. O estado é também um dos últimos no uso de equipamentos obrigatórios de segurança no trânsito.

 A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) é uma realização do IBGE em parceria com o Ministério da Saúde e proporciona um dos mais completos diagnósticos da saúde da população do Brasil, investigando condições sociodemográficas que interferem na saúde da população. O volume 5 da PNS traz estimativas sobre: acidentes de trânsito; violência; doenças transmissíveis; atividade sexual; e características adicionais do trabalho e apoio social.

 A PNS 2019 teve sua coleta realizada em todas as unidades da federação, de forma presencial, entre os meses de agosto de 2019 até meados de fevereiro de 2020. A amostra contou com 108 mil domicílios investigados em todo o país. No Pará, foram realizadas 4.077 entrevistas em domicílios situados em diversos municípios. 

O IBGE ressalta que a PNS é uma pesquisa amostral (semelhante às pesquisas de intenção de voto, em períodos de eleição). Por isso, seus valores absolutos e percentuais não são precisos, mas sujeitos a uma margem de erro, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%, ou seja, se mesma pesquisa fosse realizada muitas vezes, 19 vezes em cada 20 pesquisas feitas os resultados ficariam dentro da margem de erro. 

VIOLÊNCIA

 No módulo “violência” foi traçado o perfil sociodemográfico das vítimas, os impactos em sua saúde e características da violência sofrida. No Pará, a proporção de pessoas (com 18 anos ou mais) que sofreram algum tipo de violência nos 12 meses anteriores à entrevista foi de 19,1%, um dos mais altos do país.

 Em números absolutos, estimou-se que, no Pará, 1,1 milhão pessoas foram vítimas de algum tipo de violência. Desse total, 647 mil foram mulheres e 958 mil foram pessoas pretas ou pardas (sendo 840 pardas e 118 pretas). 

Das mais 1,1 milhão de vítimas da violência no Pará, a maioria (733 mil) tinha algum tipo de ocupação à época da violência sofrida. 133 mil dessas pessoas tiveram que interromper suas atividades habituais por conta da violência, sendo que 93 mil eram mulheres.

 As violência psicológica atingiu 1 milhão (proporção de 17,6%) de pessoas no Pará. 601 mil dessas vítimas eram mulheres (19,3%) e 449 mil eram homens (15,8%). Pretos e pardos somaram 898 mil pessoas atingidas por violência psicológica (781 pardas e 117 pretas). As faixas etárias mais atingidas foram 18 a 29 anos (366 mil pessoas) e 30 a 39 anos (304 mil).

 A violência física teve proporção de 5,4% no Pará. No total, foram 322 mil vítimas, sendo que 180 eram mulheres.

 A violência sexual, considerando apenas crimes ocorridos nos 12 meses anteriores à pesquisa, teve percentual de 1% no Pará. Mas quando foi questionado às vítimas se a violência sexual havia ocorrido “alguma vez na vida” a proporção subiu para 5,9% (351 mil pessoas, sendo 304 mil só de mulheres).

 Belém

 Já na capital, Belém, a proporção de pessoas atingidas pela violência foi de 23,5%, o que representou 275 mil vítimas. Em números absolutos, foram atingidas 152 mil mulheres (23,1%) 123 mil homens (24% na proporção). 

Foram alvo de violência um total de 223 mil pessoas pretas e pardas (195 mil pardas e 28 mil pretas ou, na proporção, 25,1% pardas e 21,7% pretas), enquanto as brancas somaram 50 mil (19,3%).

 A violência psicológica atingiu 254 mil pessoas em Belém, sendo 138 mulheres e 117 homens. 214 mil dessas vítimas eram pardas e pretas (186 mil pardas e 28 mil pretas).

 Belém teve 116 mil vítimas com ensino médio completo a superior incompleto; 56 mil vítimas eram do grupo “ensino fundamental completo ao médio incompleto”; 52 mil eram sem instrução a fundamental incompleto; e 51 mil vítimas tinham o nível superior completo. 

ACIDENTES

Dentro do tema “acidentes” a pesquisa investigou especialmente medidas de segurança que possam evitar ou reduzir a gravidade de acidentes de trânsito. Esses acidentes são causa frequente de morte ou de sequelas físicas em todo o mundo, sendo, por isso, considerados como problema de saúde pública.

 No Pará, a proporção de pessoas que sempre usam capacete quando dirigem motocicleta foi de apenas 55%, um dos mais baixos do país. Na capital, a proporção sobe para 80%.

 Na proporção de pessoas que usam capacete quando estão como passageiros em uma motocicleta, o Pará teve 53,4%. Na capital, a proporção ficou em 73,5%. 

Entre os que andavam de carro, o percentual de uso de cinto de segurança também foi um dos mais baixos do Brasil: 66,3% dos que viajam num dos bancos da frente (dirigindo ou no banco de carona) usam cinto. Na capital, a proporção sobe para 87,6%.

 No uso de cinto no banco de trás, o Pará também teve uma das proporções mais baixas do país: 37,2%. Na capital, o percentual cai ainda mais: 33,6%. 

DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS 

O módulo sobre “doenças transmissíveis” é uma novidade trazida pela PNS de 2019. Investigou não apenas as infecções transmissíveis sexualmente, mas também ocorrência de tosse persistente, manchas com dormência na pele, doença de Chagas e infecções sexualmente transmissíveis (não há dados sobre Covid19, já que a coleta ocorreu antes da pandemia) 

No Pará, 3,3% das pessoas com mais de 18 anos (194 mil pessoas) referiram estar com tosse há três semanas ou mais (possível sintoma de tuberculose), na data em que foram entrevistadas. A proporção de mulheres com esse sintoma foi de 3,9% ou 120 mil pessoas, enquanto os homens somavam 2,6% ou 74 mil.

ATIVIDADE SEXUAL 

No módulo sobre “atividade sexual”, foi perguntado aos informantes a idade em que teve a primeira relação sexual, se teve relação nos últimos doze meses, se usava preservativo, entre outras relacionadas à atividade sexual.

 Como vários outros estados da região Norte, o Pará ficou entre aqueles em que a vida sexual começa mais cedo do que no restante do país. 92% da população com 18 anos ou mais já havia tido relação sexual alguma vez na vida, sendo que a idade média de iniciação sexual ficou em 16,4 anos. 

No uso de preservativos em todas as relações sexuais (no intervalo de 12 meses anteriores à pesquisa), o Pará obteve proporção de 25,5%. 633 mil pessoas (10,6%) informaram ter procurado o serviço público de saúde para obter preservativos. 

TRABALHO E APOIO SOCIAL

 O módulo “Outras características do trabalho e apoio social” trabalhou sobre a população de 15 anos ou mais de idade e que estava ocupada na semana de referência da pesquisa. No Pará, 82,1% dessa população, quase 2,9 milhões de pessoas, realizava deslocamento de casa para o trabalho. 

O tempo médio de deslocamento para o trabalho, considerando ida e volta, foi de 4,3 horas por semana (abaixo da média nacional, que foi de 4,8 horas). Por dia, o gasto diário de tempo em trânsito ficou distribuído da seguinte forma: 38,4% da população (1,1 milhão de pessoas) que saía de casa diariamente para trabalhar gastava, em média, 30 minutos ou menos; 30,5% (883 mil pessoas) gastavam de 30 minutos a 1 hora; 17% (492 mil pessoas) gastavam de 1 a 2 horas; e 14,4% (410 mil pessoas ) passavam 2 horas ou mais de seu dia em trânsito. 

O trabalho noturno (desempenhado 20h às 5h do dia seguinte) era uma realidade para 433 mil pessoas ocupadas no Pará (12,3%), em 2019. 14,5% da população masculina ocupada de 15 anos ou mais de idade (307 mil homens) e 9% da feminina (126 mil mulheres) trabalhavam nesse turno. 

Quanto aos riscos à saúde enfrentados no local de trabalho, a pesquisa revelou que 9,3% (197 mil pessoas) no Pará trabalhavam em ambientes fechados com pessoas fumando nesses locais. Além disso, 1,6 milhão de pessoas (47,6%) estiveram expostas, enquanto trabalhavam, a algum fator que poderia afetar sua saúde.

 A pesquisa também investigou frequentação em prática esportivas, exercícios físicos, recreativos ou artísticos, revelando que, no Pará, mais da metade da população (a partir dos 15 anos de idade) não frequentava nenhuma dessas atividades: 3,3 milhões de pessoas (55%).

 Quanto à frequentação em atividades coletivas religiosas, 1,7 milhão de pessoas com idades a partir de 15 anos (27,9%) não frequentou nenhuma vez alguma atividade desse tipo, durante os 12 meses anteriores à coleta. 749 mil pessoas (11,7%) frequentaram 2 a 3 vezes por mês; 1,3 milhão (21,7%) frequentava uma vez por semana; 1,2 milhão (18,7%) frequentava mais de uma vez por semana.

 O material completo da pesquisa está disponível à imprensa e ao público em geral no site do IBGE (www.ibge.gov.br) ou pelo link www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saude/9160-pesquisa-nacional-de-saude.html.