O disco de vinil, conhecido como Long
Play (LP) ainda tem os seus “amantes” ou “admiradores”. Muitos não querem
deixar o famoso vinil desparecer, como é o caso do administrador de marketing e
fotógrafo, Apoena Augusto. Sua história com os LPs começou por volta de 1987,
quando os programas de dance music dominavam as rádios locais e os DJs ditavam
o que se ouvia na cidade. Influenciado por essa cena, Apoena começou a comprar
vinil e tocar em festinhas de prédio, algo muito comum naquela época. Mas o disco vinil começou a perder força
no início da década de 1990. O LP, que foi criado em 1948 para substituir os
antigos discos de goma-laca de 78 rotações - RPM (rotações por minuto) ficava
obsoleto. Surgiu então o compact discs (CD), que prometia maior capacidade,
durabilidade e clareza sonora e sem chiados. “Nessa época, eu também deixei um
pouco o interesse pela aquisição de música de lado”, disse Apoena.
As grandes gravadoras produziram LPs até
31 de dezembro de 1997, restando apenas uma gravadora independente em Belford
Roxo, Vinilpress, que não resistiu e faliu no ano 2000, e assim, o bom e velho
vinil saía das prateleiras do varejo fonográfico. Mas a paixão de Apoena
Augusto nunca morreu e o retorno era apenas uma questão de tempo, o que
aconteceu há pouco mais de dois anos, justamente quando a indústria de vinil
começou a retomar o fôlego. Na verdade, a produção retornou em 1º de janeiro de
2010 com a abertura da gravadora Polysom para atender o mercado de DJs,
colecionadores e audiófilos insatisfeitos com a qualidade sonora do CD.
Então, para celebrar a volta dos
chamados “bolachões”, o administrador de marketing, junto com o amigo Mizinho
Rodrigues, que também é apaixonado por música e discos, criaram o projeto
"Bolacha Preta", que leva música no vinil para bares e casas noturnas
de Belém. Hoje o Bolacha se apresenta todo primeiro sábado do mês no Composição
Arte & Bar tocando rock clássico, pop rock, rock nacional e MPB.
Ao contrário do que possa imaginar, os
discos não fazem a alegria só de quem já ultrapassou a casa dos 30. Existe um
público bastante importante abaixo disso que acabou sendo seduzido pela
sinestesia do processo. Tocar o disco, virar o lado, ver a música acontecendo
ali, na sua frente, causou nos mais jovens uma sensação de pertencimento que
eles não nunca tiveram com o processo digital.
Ainda tem mercado
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A Bolacha Preta não vai sair de moda - foto Apoena Augusto |
Apoena acredita que ainda existe mercado
para o disco vinil. “João Pedro Carneiro, articulista da Revista Exame,
publicou um artigo onde diz que as vendas de discos de vinil geram mais
dinheiro para a indústria musical dos Estados Unidos do que os serviços de
streaming”, disse o fotógrafo. Na primeira metade de 2015, a receita com discos
de vinil cresceu 52% e atingiu US$ 222 milhões, segundo o último relatório da
RIAA, poderosa associação da indústria fonográfica americana. Ainda segundo o
artigo, nenhum outro item cresce neste ritmo e o vinil já responde por cerca de
um terço das vendas físicas, já que as de CD caíram 31% na comparação anual. “Na
prática, ainda há um caminho bem longo pra se recuperar o mercado que um dia
foi do vinil, mas tudo indica que há fôlego de sobra pra isso”, afirmou o
administrador de Marketing.
Na segunda metade de 2008, os
proprietários da Polysom, informados do volumoso crescimento na venda de vinis
nos Estados Unidos e na Europa, depararam-se com a possibilidade de adquirir o
maquinário da antiga fábrica e reativá-la. Em setembro do mesmo ano, começaram
as diligências e os estudos que resultaram na aquisição oficial, em abril de
2009. A fábrica tem capacidade para produzir 28 mil LPs e 14 mil Compactos por
mês. Estabeleceu-se como única fábrica de vinis de toda a América Latina,
condição que mantém até hoje.
O MP3, que substituiu os CDs, foi uma
revolução no sistema de distribuição de música mundial. Um alento para ilustres
desconhecidos, que ganharam a possibilidade de ter visibilidade sem precisar da
cara e pouco acessível logística das gravadoras, mas um baque considerável no
faturamento de bandas e artistas consolidados. “O vinil devolve isso ao
artista, que volta a faturar com direitos autorais pela venda dos discos. Esse
movimento tem feito cada vez mais novos e antigos artistas adotarem a plataforma.
Do lado da indústria, ao menos por enquanto, o grande negócio está no
relançamento de álbuns clássicos de grandes artistas em edições especiais”,
disse entusiasmado o administrador de marketing .
Considerando os números atuais e o
sentimento de nostalgia que está no ar, Aponea Augusto diz que o vinil já
voltou com muita força. “E isso traz à reboque um mercado gigantesco que gira
em torno, como os fabricantes de toca-discos, agulhas, cápsulas, lojas de
discos, distribuidores, importadores... todos movidos pela paixão nostálgica e
pelos ótimos resultados financeiros dos estalados da bolacha”, afirmou.
História de sucesso
O LP é uma mídia desenvolvida no final
da década de 1940 para a reprodução musical, que usa um material plástico
chamado vinil (normalmente feito de PVC), usualmente de cor preta, que registra
informações de áudio, que podem ser reproduzidas através de um toca-discos. O
disco de vinil possui microssulcos ou ranhuras em forma espiralada que conduzem
a agulha do toca-discos da borda externa até o centro no sentido horário.
Trata-se de uma gravação analógica, mecânica. Esses sulcos são microscópicos e
fazem a agulha vibrar. Essa vibração é transformada em sinal elétrico. Este
sinal elétrico é posteriormente amplificado e transformado em som audível
(música). Os discos de vinil são mais leves, maleáveis e resistentes a choques,
quedas e manuseio (que deve ser feito sempre pelas bordas). Mas são melhores,
principalmente, pela reprodução de um número maior de músicas - diferentemente
dos discos antigos de 78 RPM - (ao invés de uma canção por face do disco), e,
finalmente, pela sua excelência na qualidade sonora, além, é lógico, do
atrativo de arte nas capas de fora.
Entusiastas defendem a superioridade do
vinil em relação às mídias digitais em geral (CD, DVD e outros). O principal
argumento utilizado é o de que as gravações em meio digital cortam as
frequências sonoras mais altas e baixas, eliminando harmônicos, ecos, batidas
graves, "naturalidade" e espacialidade do som. Estas justificativas
não são tecnicamente infundadas, visto que a faixa dinâmica e resposta do CD
não supera em todos os quesitos as do vinil. Especialmente quanto se trata de
nuances que nos sistemas digitais são simulados através de técnicas de
dithering.
* Celso Freire/Revista Pará Mais