Mulheres ampliam espaço na Polícia Militar do Pará

Foto: Cristino Martins - Agência Pará

A história das mulheres na Polícia Militar do Pará está completando 35 anos de conquistas, em um meio predominantemente masculino. O caminho foi difícil no início, mas hoje a presença de mulheres no comando de alguns postos na instituição mostra que a luta não foi em vão. Ex-professora da rede municipal, Máurea Leite, 57 anos, integrou com mais 56 mulheres a primeira turma feminina da PM, em 1982. Na época, elas obedeciam a uma cartilha impressa que trazia regras rígidas de comportamento e visual. Símbolo de feminilidade, os cabelos compridos eram proibidos. As pioneiras na PM precisaram usar os cabelos bem curtos, estilo “militar,” durante oito anos. As unhas também precisavam ser curtas e pintadas com esmalte claro.

A rigidez na conduta moral não permitia mulheres grávidas solteiras na corporação. E para casar, a mulher precisava “escolher” um homem do mesmo nível. Praça casar com oficial não era permitido. “Entramos na época da pós-ditadura, mas antes da Constituição de 1988, por isso tivemos que quebrar tantos tabus”, comenta Máurea, hoje capitã na reserva da PM. Depois de 25 anos de serviços, ao decidir entrar para a reserva, virou mestra em segurança pública e hoje se dedica à ensinar aos futuros policiais, no Instituto de Ensino e Segurança do Estado do Pará (Iesp). Máurea é professora de duas disciplinas: Ética e Esfera Pública e Ética e Cidadania. Um de seus compromissos na educação de militares é abordar as questões de gênero. Seu sonho é acabar com as cotas para mulheres nos concursos públicos da área militar (somente 10% das vagas são destinadas a elas)

Comando

Uma das duas únicas coroneis hoje na Polícia Militar do Pará, Ivone Mendes, 44 anos, tem 25 anos de serviços na PM. Poderia estar providenciando sua aposentadoria, mas pela nova lei de formação de oficiais, pode servir mais cinco anos. Decidiu então realizar um sonho: assumir um posto de comando dentro da instituição. Coronel Ivone foi a primeira mulher a assumir a direção do Fundo de Saúde da Polícia Militar (Funsau).

Para isso, estudou bastante e sempre se dispôs a quebrar barreiras que serviram como aprendizado. Escolheu ser oficial logística no Comando de Missões Especiais (CME), uma tropa eminentemente masculina, e esteve durante dois anos dormindo em acampamentos e integrando a tropa em operações arriscadas, como as reintegrações de posse. “Vejo meu posto como uma questão de perfil. Existem determinadas mulheres que têm características que se enquadram melhor na administração, assim como homens também. Não vejo como discriminação e sim como valorização do seu perfil de comando e organização. Virei gestora porque sempre quis isso e estudei para esse fim”, destacou a coronel Ivone.