Detentos custodiados pela
Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe) estão
trabalhando na reconstrução de alguns espaços dentro do Parque Zoobotânico
Mangal das Garças, no Bairro da Cidade Velha, em Belém, por meio do Projeto
Trilhas. As obras começaram pela recuperação da ponte que cerca o viveiro das
aningas (plantas aquáticas) e serve de trilha ecológica para os visitantes.
O trabalho é realizado por três
internos do regime semiaberto, custodiados no Centro de Progressão
Penitenciária de Belém (CPPB), que atuam na marcenaria e carpintaria. Eles
trabalham 8 h por dia, de segunda a sexta-feira. Inicialmente, eles trocam
todas as madeiras, que já estavam deterioradas pelo tempo, refazendo a trilha.
As madeiras utilizadas foram
doadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) e pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Sustentabilidade (Semas), apreendidas durante operações para o combate à
extração ilegal de madeira no Pará. No total, 249,59 m³ de madeira nobre foram
doadas, incluindo 5,64m³ de cumaru, 13,18 m³ de pequiá-branco, 63 m³ de
angelim-vermelho e 167,77 m³ de maçaranduba.
Oportunidade - Para o interno
Geovani Silva Almeida, 38 anos, o projeto abre as portas para uma nova
oportunidade de vida. “Nós carregamos um peso muito grande nas costas depois
que saímos da prisão, pois é difícil as pessoas acreditarem que a gente possa
mudar. Por isso, um emprego desses é muito importante, temos que dar muito
valor ao que está sendo feito por nós. Eu só tenho a agradecer, ainda mais
porque temos a oportunidade de trabalhar vendo essa paisagem tão bonita”, disse
Geovani Almeida.
Vera Cascaes, gerente Operacional
da Organização Social Pará 2000, que administra o Mangal das Garças, reforça a
importância da responsabilidade social na reinserção dos detentos à sociedade.
“Com a crise que estamos vivendo no país, para um profissional que está no gozo
de sua liberdade já é difícil conseguir um emprego, imagine para quem carrega
um estigma de ter passado pelo cárcere. Por isso é tão importante acreditar
nessas pessoas e dar uma oportunidade para eles, acreditar que eles podem, sim,
mudar de vida e recomeçar. Não é o primeiro projeto que fazemos com a Susipe, e
posso dizer que alguns dos que passaram por aqui foram absorvidos pelo mercado,
o que é muito positivo. Uma vez me perguntaram se eu tenho medo de trabalhar
com eles, e eu respondi que tenho medo é do preconceito das pessoas”, afirmou
Vera Cascaes.
Além do trabalho de reforma da
ponte, os detentos irão recuperar os barcos de madeira expostos no parque, os
bancos e a madeira do entorno do orquidário. Todas as peças passarão por
lixamento e envernização. Como remuneração, cada detento recebe um salário
mínimo, vale-transporte e vale-alimentação. A cada três dias trabalhados, eles
ganham um dia a menos na pena.
Qualificação - Para Izabel
Ponçadilha, da Coordenadoria de Trabalho e Produção (CTP) da Susipe, é sempre
positivo colaborar para que os detentos possam ser reinseridos na sociedade.
“Cada parceria que fechamos tem sua importância, pois estamos qualificando e
profissionalizando essas pessoas para o mercado de trabalho. Temos muitas
empresas que estão absorvendo essa mão de obra e assinando a carteira de
trabalho deles. Então, estamos no caminho certo, e a nossa expectativa é só
aumentar as oportunidades”, afirmou.
O detento Alexandre Gonçalves, 27
anos, disse que já tinha experiência na área de carpintaria e marcenaria, mas
que toda oportunidade de emprego é sempre bem-vinda. “Eu nunca deixo uma
oportunidade escapar. Se eu sei fazer o trabalho, vou e faço; se eu não sei
fazer, eu aprendo e faço o meu melhor. A vida é assim, quem quiser dar certo,
quem quiser mudar de vida, não pode deixar para depois, não pode dizer que não
sabe. Tem que ir lá e mostrar que é capaz. É assim que estamos trabalhando por
aqui. Quero que a partir daqui surjam muitas outras propostas pra mim”, disse
Alexandre.
Este é o segundo projeto
realizado em parceria pela Organização Social Pará 2000 e a Susipe. Em 2007 foi
criado o Projeto Transformando Vidas, com o emprego de seis internos da Colônia
Penal Agrícola de Santa Izabel (Cpasi) na produção de 60 espécies de plantas,
usadas na alimentação de lagartas e borboletas do Parque Zoobotânico.
Atualmente, a Susipe mantém 30
contratos assinados para utilização da mão de obra carcerária, beneficiando
mais de 500 internos do sistema penitenciário.