Um voluntário, uma doação, até
quatro vidas salvas. O cálculo parece simples, mas atrair novos doadores de
sangue e fidelizar os de repetição é um verdadeiro desafio para os hemocentros
brasileiros. Nesta quarta-feira, dia 14, é comemorado o Dia Mundial do Doador
de Sangue. Para comemorar a data, será ministrada a palestra “Doação de sangue:
responsabilidade compartilhada”, no auditório da Fundação Hemopa, que terá
também, dentro da campanha junina, a apresentação do Rei do Carimbó, Pinduca.
A data foi criada pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), para sensibilizar as pessoas, lembrando-as
da importância desse gesto, e também para homenagear aqueles que disponibilizam
um pouco do seu tempo para fazer esse tipo de doação, dando um exemplo de
solidariedade.
A Organização Pan-Americana de
Saúde (Opas), um braço da OMS nas Américas, estima que ao menos 2% da população
brasileira deveria doar sangue regularmente para suprir as necessidades dos
componentes sanguíneos no país; atualmente esse número é de 1,8%.
A Fundação Centro de Hemoterapia
e Hematologia do Pará (Hemopa) é a instituição responsável pela coordenação da
Política do Sangue no estado. Aqui, todos os anos, uma média de 100 mil bolsas
de sangue são coletadas; o número pode parecer elevado, mas a instituição
constantemente sofre com períodos de crises, como a que aconteceu neste ano,
quando a diminuição no estoque de sangue chegou em 60%.
A gerente de captação de doadores
de Hemopa, Juciara Farias, explica que os períodos de escassez ocorrem por
diversos fatores, como por causa das chuvas intensas, das viroses, das férias
escolares e feriados prolongados, entre outros. A busca por doadores fica ainda
mais preocupante porque, anualmente, a instituição tem o desafio de crescer em
20% o número de novos doadores e aumentar de 50% para 70% o número de doadores
de repetição (aqueles que doam sangue pelo menos duas vezes num período de 12
meses). "Sempre realizamos programações, ao longo do ano, para estimular a
doação de sangue e, principalmente, para agradecer aos doadores. Muitas pessoas
precisam desse ato para sobreviver”.
Exemplos
E histórias de solidariedade é
que não faltam. Um dos exemplos é o porteiro Ismael Monteiro de Souza. Com uma
animação contagiante e um largo sorriso no rosto, ele fala com orgulho das
experiências dos seus 63 anos de vida, grande parte deles vividos como doador
de sangue. “Fiz minha primeira doação aos 19 anos, por conta das Forças
Armadas. Desde então, não parei mais. É uma coisa que me faz muito bem como ser
humano”.
Em 2017, Ismael completa 45 anos
como doador. “Sou de uma época muito diferente, que não tinham regulamentações.
Já cheguei a doar sangue seis vezes num único ano. Hoje em dia, homem só pode
doar quatro vezes em 12 meses. Também já fiz transfusão direta, ou seja, da
minha veia direto para a veia do paciente”, detalha.
Pelas contas do porteiro, já
foram 178 doações de sangue. Da maioria delas, ele guarda os comprovantes como
um troféu. “Desde que passaram a usar o computador, eu guardo os papeizinhos. É
um orgulho pra mim. Se cada bolsa de sangue pode ajudar quatro pessoas, quantas
não foram ajudadas aqui?”. É Ismael, suas doações conseguiram a impressionante
marca de ajudar até 712 pessoas.
Érika Saraiva tem menos de um
terço da idade de Ismael, mas a mesma animação de ajudar a quem sequer conhece.
Aos 17 anos, a estudante do 9º ano do ensino médio não pensou duas vezes quando
recebeu o convite, neste mês, e doou sangue pela primeira vez. “Sou doador e
ela sempre soube disso. Então convidei e ela aceitou vir na hora”, conta o
carpinteiro Edilson Saraiva, pai da menina.
Após ter o termo de consentimento
para doação de sangue (documento obrigatório no caso de doadores de 16 e 17
anos) assinado pelo pai, Érika seguiu confiante para a pré-triagem, triagem e
sala de coleta, sem qualquer medo. “Meu pensamento sempre foi poder ajudar quem
precisa de sangue. Um dia, até eu posso precisar. Pretendo doar sempre. E
agora, doando pela primeira vez, posso passar essa experiência para meus amigos
e estimulá-los também”, comemora.
Juciara Farias ressalta o
trabalho incansável de criar uma cultura de doação de sangue na sociedade,
principalmente entre os jovens. “Temos a responsabilidade de despertar a
consciência das pessoas para a responsabilidade social. E esse é um trabalho
constante que requer muitas estratégias”.
Parcerias
Nesse processo, as parcerias são
fundamentais. É o caso do Hospital Opir Loyola, o maior consumidor de sangue do
Hemopa. A médica responsável pela agência transfusional do hospital, Polyana
Pontes, relata que todos os meses são feitas mais de mil transfusões somente na
instituição. “Aqui, o perfil dos pacientes que recebem bolsas de sangue são
pessoas adultas em tratamento oncológico, em especial portadores de linfomas e
leucemias”, conta a médica.
A instituição está sempre
empenhada em estimular a doação de sangue entre todos que fazem parte do
hospital. “Os familiares dos nossos pacientes sempre são orientados a doarem
sangue para repor o estoque. Além disso, trabalhamos constantemente a
sensibilização entre todos os acompanhantes e servidores e, em média três vezes
ao ano, realizamos campanhas em parceria com o Hemopa”. A próxima ação já está
agendada para o dia 27 de junho, quando o hemocentro vai levar sua estrutura de
coleta para o Ohir Loyola.
Para ser um doador de sangue,
basta ter entre 16 e 69 anos (menores devem estar acompanhados do responsável
legal), ter mais de 50 kg, estar bem de saúde e portar documento de
identificação original e com foto. Os homens podem doar com intervalo de dois
meses e as mulheres a cada três meses. Além do hemocentro coordenador, em
Belém, que fica na Travessa Padre Eutíquio, 2109, bairro de Batista Campos, as
doações também podem ser feitas na Estação de Coleta Castanheira, que fica no
térreo do Pórtico Metrópole, na BR-316, km 1. O horário de funcionamento é de
7h30 às 18h, de segunda a sexta-feira, e de 7h30 às 17h, aos sábados.