Ophir Loyola alcança a marca de 600 transplantes renais



Beber água quando se tem sede pode ser algo natural para a maioria das pessoas, mas não para Maria Silva, 57 anos. Há cinco anos, quando descobriu sofrer de insuficiência renal crônica, esse hábito tornou-se motivo de restrição e medo. Ela já chegou a tomar menos de 200 ml de água por dia com receio de sentir dificuldade em respirar, a pressão arterial subir e o corpo inchar. Mas o “sim” de uma família, ato nobre principalmente em um momento de dor pela perda de um ente querido, trouxe uma esperança de dias melhores para Maria e um outro paciente.

Na última quinta-feira (15), dois transplantes foram realizados no Hospital Ophir Loyola com rins doados de uma vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Agora já somam 600 os transplantes renais realizados no hospital por intermédio do Sistema Único de Saúde, procedimentos que garantem mais qualidade de vida para quem perdeu a função renal e necessita de uma máquina para viver enquanto aguarda pelo transplante.

Maria lembra bem dessa situação. Ela teve que deixar a calmaria e toda uma história vivenciada na Vila de São Miguel, localizada no município de Viseu, para trás, ao se mudar para a casa da filha mais velha para se submeter a sessões de hemodiálise na região metropolitana de Belém. Uma rotina que ela espera ter ficado no passado.

“Eu já estava há muito tempo à espera de uma doação. Não vejo a hora de voltar para casa e comer um peixe cozido com bastante caldo, tomar um copo refrescante de água como há tempos não faço. Espero sair em breve daqui, e renovada”, afirmou a transplantada, que se recupera na clínica de nefrologia do HOL.

O Serviço de Transplante Renal foi implantado em agosto de 1999 no Ophir Loyola. Em 2000, o hospital foi o primeiro no Norte do Brasil a realizar transplantes com doadores falecidos: um casal de adolescentes de 14 e 15 anos. Uma data histórica que remete às expectativas de crescimento do número de cirurgias. No mesmo ano o sistema de doação presumida foi extinto no país e passou a valer a doação com a autorização da família, começando pelos parentes mais próximos (marido, esposa, pais, filhos, irmãos e avós).

A expectativa dos enfermos de passar pela cirurgia muitas vezes esbarra na negativa dos familiares, principal causa da não efetivação de transplantes, no momento da entrevista sobre a autorização para a possível doação de órgãos isolados, tecidos ou de múltiplos órgãos para a realização do transplante. Esse trabalho é feito pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT).

Segundo o mestre em Urologia e chefe do serviço de transplante renal do HOL, Ricardo Tuma, cerca de 90% das cirurgias são realizadas com rins provenientes de doadores falecidos. “É preciso intensificar as campanhas de doação, conscientizar as pessoas para que conversem com os familiares sobre a vontade de ser um doador. Aumentar a quantidade de transplantes no estado significa beneficiar um maior número de pacientes renais crônicos que passam por intermináveis sessões de diálise com comprometimento de sua qualidade de vida pessoal e familiar, pois todos sofrem em conjunto”, observa.

Por mês, o serviço atende cerca de 160 pessoas, entre cirurgias e pacientes em tratamento pré e pós-operatório. O transplante compensa ou substitui uma função perdida para pacientes renais crônicos em fase terminal ou não, em diálise ou em fase pré-dialítica, portadores de diabetes mellitus ou hipertensão arterial, ou outras nefropatias diversas que levem à insuficiência renal crônica.

Os enxertos são realizados com doadores vivos e falecidos, um serviço público que alcança resultados semelhantes aos dos grandes centros transplantadores do mundo, evidenciando a eficiência e capacidade da equipe de transplantes da instituição. “Temos uma equipe multidisciplinar, e cada profissional envolvido realiza suas atividades em prol do melhor atendimento do paciente com consequentes benefícios à dinâmica do transplante”, reconhece o médico Ricardo Tuma.

Hoje, o serviço possui 18 leitos reservados aos pacientes que apresentam complicações infecciosas após o enxerto ou que ainda serão submetidos ao procedimento. E também oferta ambulatórios ligados ao Serviço de Hemodiálise para o acompanhamento prévio de usuários com doença renal crônica e ambulatórios que preparam e acompanham os pacientes de transplantes.

Uma equipe multidisciplinar  fica de sobreaviso 24h durante todo o ano, à disposição para os transplantes que não têm dia e nem hora para ocorrer. “O diferencial técnico e de aspecto social que desenvolvemos é o desmedido empenho que a equipe tem para a realização dos transplantes. Tudo isso, certamente, pensando no benefício social que o transplante traz aos pacientes”, explica Tuma.

O Ophir Loyola é referência na realização de transplantes e na captação de múltiplos órgãos pelo SUS. No Pará são realizados transplantes de rins e córneas. Os órgãos não transplantados no estado são disponibilizados para a Central Nacional de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, responsável pelo registro de todas as listas de urgência no Brasil dentro do Sistema Integrado de Gerenciamento / Sistema Nacional de Transplantes – seguindo estritamente critérios estabelecidos por lei.