O atleta cadeirante Gustavo Andrade disse que a prática do esporte vem melhorando sua mobilidade - Foto Cristiano Martins - Agência Pará |
Os dias têm sido de muito treino para nove atletas de bocha paralímpica
em Belém. A uma semana para o Campeonato Regional Norte da modalidade, os
atletas intensificaram a preparação e estão dedicados para conseguir um bom
resultado na disputa que será realizada entre os dias 20 e 22 de julho, no
ginásio do SESI, em Ananindeua.
O esporte tem mudado a realidade de muitos jovens e adultos com
deficiência e revelado atletas. “Eu não tinha muita movimentação nos braços,
depois que comecei a jogar bocha a minha mobilidade ficou melhor. Todos os dias
eu estou evoluindo na prática desse esporte, vencendo as minhas dificuldades
como cadeirante. E minha mãe é a base para que eu possa continuar jogando
bocha. É fundamental ver ela aqui todos os dias nos ajudando. Com todo esse
apoio das mães e das treinadoras eu pretendo chegar à seleção brasileira”
declara o atleta de 16 anos, Gustavo Andrade.
A mãe do atleta Gustavo, Geisiane Andrade, afirma que a bocha não é só
um lazer, é uma profissão. “Meu filho sempre praticou esportes no colégio, só
que nunca se encaixava direito com a necessidade dele, e em um encontro no
shopping disseram que ele poderia ter a oportunidade de praticar bocha. Os
atletas paralímpicos não conseguem chegar sozinhos aqui no treinamento, então
nós mães sempre estamos presentes para ajudar e dar apoio aos nossos filhos.
Esse é o nosso conceito de família na bocha. Todo mundo se ajuda com muita
alegria”.
“A bocha é importante na minha vida porque eu não fico parada em casa. E
ter minha mãe como dupla é muito bom porque a nossa relação ficou muito
melhor”, afirma a atleta Dayane Victória que conquistou ouro no campeonato
regional em 2015 e vai em busca do pódio novamente.
O Campeonato Regional Norte de Bocha Paralímpica é uma realização da
Associação Nacional de Desporto para Deficientes (ANDE) com apoio do Governo do
Estado do Pará, por meio do Núcleo de Articulação e Cidadania (NAC) e o Plano
Estadual de Ações Integradas à Pessoa com Deficiência (Existir), em parceria
com as Secretarias de Estado de Esporte e Lazer (Seel), Saúde (Sespa), Educação
(Seduc), por meio do Núcleo de Esporte e Lazer (NEL), e a Secretaria de
Assistência Social, Trabalho Emprego e Renda e Educação (Seaster).
No dia 20, às 17h, no SESI, a ANDE vai ministrar um curso de arbitragem
para pessoas que se inscreveram no site da Associação, e a partir das 20h30
será realizado o congresso técnico da competição no Hotel Martan. No dia 21, a
partir das 8h30, haverá a cerimonia de abertura e em seguida iniciam as
competições que vão até às 17h. No dia 22 as disputam serão a partir das 9h, e
a cerimonia de premiação está prevista para as 17h.
Essa é a quarta edição do evento e a segunda vez que é realizado no
Estado. O primeiro Campeonato Regional Norte, em 2013, foi aqui no Pará; em
2014 no Acre; em 2015 em Rondônia e no ano passado não houve a etapa aqui no
Norte. O evento vai reunir atletas do Pará, Acre, Rondônia e pela primeira vez
do Amapá. São 26 atletas inscritos, sendo 13 paraenses: nove atletas de Belém,
dois de Marabá e dois de Barcarena.
Para a treinadora, Kellen Machado, a bocha é uma oportunidade grandiosa
para os atletas paralímpicos se incluírem no mundo do esporte. “Trabalhar com
esporte paraolímpico mudou completamente a minha forma de ver o mundo por essa
ser uma experiência única. São seis anos atuando no bocha, e estou
completamente realizada. Trabalhar com esses meninos é aprender todos os dias
uma lição de vida, é nos superar a cada treino. No final nós treinadores
acabamos aprendendo mais com eles, do que eles com a gente, porque enquanto
ensinamos a técnica, eles nos ensinam lição de vida”, declara.
Bocha - O jogo de bocha tornou-se um Esporte Paralímpico em 1984. Tem
como principal característica, oportunizar a prática por pessoas que apresentam
grau severo de comprometimento motor e/ou múltiplo. A modalidade tem origem na
Grécia, quando havia a prática de lançar grandes pedras em uma pedra alvo
menor, mas somente na década de 70 o esporte foi resgatado pelos países
nórdicos com o fim de adaptá-lo para pessoas com deficiência.
O jogo de bocha é um jogo competitivo que pode ser jogado individualmente,
em duplas ou em equipes e todos os eventos podem ser mistos. A sua finalidade
principal é a mesma do bocha convencional; ou seja, encostar o maior número de
bolas na bola branca alvo, também denominada Jack. A habilidade e a
inteligência tornam-se fundamentais no desenvolvimento das jogadas.
No início era voltado apenas para pessoas com paralisia cerebral, com um
severo grau de comprometimento motor (os quatro membros afetados e o uso de
cadeira de rodas). Atualmente, pessoas com outras deficiências também podem
competir, desde que inseridas em classe específica e que apresentem também o
mesmo grau de deficiência exigida e comprovada.
A Bocha Paralímpica é dividida em 4 classes, de acordo com o grau da
deficiência:
Classe BC 1 – Destinada apenas para atletas com paralisia cerebral, que
podem jogar com as mãos ou com os pés. Podem ter um auxiliar para entregar a
bola.
Classes BC2 e BC4 – Para esses atletas não é permitido nenhum tipo de
ajuda externa. O que ocorre com freqüência é a adaptação de um suporte ou cesto
para as bolas, fixos ou não na cadeira de rodas, de modo que facilite ao atleta
no momento de pegar as bolas para arremessar. A principal diferença entre
atletas das classes BC2 e BC4, é que na classe BC2 o atleta apresenta quadro de
paralisia cerebral e na classe BC4 o atleta apresenta qualquer outro quadro de
origem não cerebral (distrofia muscular progressiva; esclerose múltipla; Ataxia
de Friedrich; lesão medular com tetraplegia), mas com o grau de comprometimento
similar ao da classe BC2.
Classe BC3 – É o atleta de bocha que apresenta maior grau de
comprometimento motor. São elegíveis para esta categoria atletas com paralisia
cerebral e de condições similares, com origem não cerebral. O jogador é
assistido por uma pessoa que tem como função direcionar a calha, pela qual a
bola será lançada, seguindo rigorosamente as indicações do jogador.
Referência no Paradesporto
O Pará é o principal estado da região Norte quando o assunto é a prática
do esporte adaptado. Um estudo feito pela Seel apontou a existência de 21
entidades desportivas filiadas às confederações brasileiras e federações
estaduais que atuam em 22 modalidades, sendo 17 paralímpicas. Este diagnóstico
foi realizado no período de janeiro a abril de 2017, por meio de um formulário
online e consta no Plano Plurianual (PPA) 2016-2019 da secretaria.
De acordo com o mapeamento, no Pará existem entidades paradesportistas
registradas no Acará, Altamira (1), Belém (10), Bragança (1), Marabá (1),
Paragominas (1), Parauapebas (3), Santarém (2), Santana do Araguaia (1) e
Tucuruí (1). Isso representa a presença de instituições deste segmento em nove
das 12 regiões de integração do estado. A região que mais possui entidade é a
metropolitana, com 10.
A maioria das modalidades registradas pelas entidades é praticada na
faixa etária a partir de 19 anos, com o atletismo sendo o mais procurado pelos
paratletas, seguido pelo judô, goalball, futebol de cinco e tênis de mesa. No
Pará também se pratica os cinco esportes dos Jogos Universitários de 2016
(atletismo, bocha, judô, natação e tênis de mesa).
De acordo com o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o Pará possui cerca de 1.791.299 pessoas com ao menos uma
deficiência, o que representa 23,63% de sua população total. A coordenadoria do
Programa Paradesporto foi reativada no ano passado para impulsionar o
desenvolvimento do esporte adaptado nas 12 regiões de integração do Pará, com o
objetivo de atender e beneficiar paratletas.
O Pará é considerado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro uma referência
em novos talentos e um dos principais polos do esporte paralímpico. Por meio da
política inclusiva do Plano Existir e com apoio do NAC, o Estado tem alcançado
bons resultados e reconhecimento. Em abril de 2016, o Estado recebeu pela
primeira vez o Campeonato Centro-Norte de Goalball, uma preliminar do torneio
nacional, que ocorreu em Jundiaí (SP). Em junho, do mesmo ano Belém foi
escolhida pelo comitê organizador dos Jogos Paralímpicos para representar a
região Norte do país no revezamento da tocha paralímpica, que ocorreu em 2 de
setembro. E em novembro foi a vez do judô ganhar destaque na etapa final do
Grand Prix Infraero de Judô para Cegos.
Os alunos-atletas paralímpicos paraenses todos os anos se destacam na
Paralimpida Escolar Nacional. Em 2016, a delegação paraense conquistou 56
medalhas na competição realizada no mês de novembro, em São Paulo. A
participação dos atletas paraenses na competição já é considerada uma das
melhores, com 19 ouros, 22 pratas e 15 bronzes, colocando o Estado no quinto
lugar no ranking de medalhas e em sétimo na classificação final por pontos, com
226.
Cerca de 275 alunos-atletas de 12 municípios do Pará participaram dos
Jogos Estudantis Escolares Paralímpicos realizado em junho deste ano e 138 vão
participar do campeonato nacional no mês de novembro, em São Paulo.
Plano Existir - Lançado pelo Governo do Pará em 2012, e atualmente
vinculado ao NAC, o Plano Existir assumiu o compromisso de garantir ações a
partir dos eixos saúde, educação, acessibilidade e inclusão social, para a
promoção dos direitos fundamentais da pessoa com deficiência.
São integrantes do Comitê Gestor do Plano Existir os 17 órgãos públicos:
Agência de Regulação e Controle de Serviços Públicos (Arcon), Companhia de
Habitação do Pará (Cohab), Escola de Governança do Estado (EGPA), Fundação
Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), Fundação Carlos Gomes,
Universidade do Estado do Pará (Uepa), Defensoria Pública, Fundação Cultural do
Pará (FCP), Núcleo de Articulação e Cidadania (NAC), Polícia Militar,
secretarias de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda
(Seaster), de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica
(Sectet), de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas (Sedop), de Educação (Seduc),
de Esporte e Lazer (Seel), de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) e de Saúde
Pública (Sespa).