A Polícia Civil apresentou nesta
sexta-feira (30) detalhes da operação “Blue Whale”, deflagrada ontem por
policiais civis da Divisão de Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos (DPRCT)
do Pará, na zona rural do município de Bequimão, a 77 quilômetros de São Luís,
capital do Maranhão. Na localidade foi preso o estudante maranhense Jardson
Cantanhede Amorim, 19 anos, a primeira pessoa no Brasil a ser presa acusada de
atuar como "curador" do jogo Baleia Azul na internet. Ele teve
mandado de prisão preventiva decretado pela Justiça paraense após ser
identificado como intermediador do grupo “Blue Whale”, página no Facebook que
era usada para cooptar crianças e adolescentes para o jogo que estabelece uma
série de desafios, desde a mutilação do próprio corpo até o cumprimento de
provas que podem levar ao suicídio.
O preso chegou a Belém na noite
de quinta-feira e foi ouvido em depoimento na sede da DPRCT, no bairro do
Telégrafo, pela delegada Vanessa Lee. Segundo a policial, até o momento duas
vítimas já foram identificadas. Uma delas é uma jovem de 18 anos, moradora em
Ananindeua, na região metropolitana de Belém, que chegou a cortar as mãos e
braços durante os desafios. A outra vítima é uma jovem que mora em Portugal,
que também se lesionou com cortes.
Ouvido em depoimento, o preso
negou ser curador do jogo da Baleia Azul. As investigações foram iniciadas há
três meses, após a mãe da jovem paraense ter procurado inicialmente a Seccional
Urbana de Ananindeua, de onde foi encaminhada para a DPRCT, em Belém. Ouvida
pela delegada Vanessa Lee, ela informou que a filha estava cumprindo desafios
do chamado jogo da Baleia Azul e que chegou a cortar o próprio corpo com uma
navalha para cumprir as provas repassadas em uma página na rede social.
Após ouvir os depoimentos, a
delegada apurou, à época, que a página possuía mais de um curador do jogo. Um
deles, que seria o maranhense, foi o responsável pelo aliciamento da vítima
pelo Facebook, por meio de um perfil falso e, posteriormente, teria enviado um
convite para que ela participasse do grupo. Os jovens eram orientados a acessar
uma outra rede social de origem russa denominada “VK”. Segundo informações
coletadas na rede mundial de computadores, além do Pará, ocorreram casos
semelhantes nos Estados do Mato Grosso e Minas Gerais. Ao todo, as
investigações identificaram no grupo um total de 88 participantes, mas o número
de pessoas com as quais ele se comunicou nas redes sociais não pode ser mensurado.
As investigações realizadas
mostraram que os criminosos cooptaram crianças e adolescentes, a maioria
fragilizados emocionalmente por traumas ou em estados depressivos decorrentes
de problemas familiares, a participarem dos jogos. "Facilmente, elas foram
impressionadas pelas exigências e orientadas a realizarem as tarefas, caso
contrário sofriam ameaçadas ou tinham os familiares ameaçados", explica.
A dinâmica do jogo começava por
links contidos em grupos no Facebook, os quais redirecionam os jovens para a
rede social russa. Depois, os adolescentes eram selecionados para participar do
jogo e desafiados a cumprir 50 desafios macabros. Neste jogo, detalha a
delegada, o “curador” convidava os jovens para o jogo e enviava os desafios por
meio de um bate-papo. Nas conversas, os jovens eram instigados a pegar uma
navalha ou faca e riscar a palma da mão com uma numeração fornecida pelo
"curador". Depois, tinham que enviar a foto da mão para mostrar que
haviam cumprido a prova para poder passar à próxima etapa.
A equipe policial da DPRCT
identificou os IPs e dados telemáticos para localizar e identificar o endereço
do “curador” responsável pelo jogo. Jardson Amorim foi preso na casa onde mora
com os pais, em uma comunidade rural, no interior do município maranhense. No
local, detalha a delegada, o acusado acessava a internet por meio do telefone
celular. Para realizar as investigações, a equipe policial da DPRCT contou com
apoio da Coordenação Geral de Inteligência (CGI) da Secretaria Nacional de
Segurança Pública (Senasp), por meio do programa Cyberlab.
Os levantamentos resultaram na
decretação de mandados judiciais pela 2ª Vara Criminal da Comarca de
Ananindeua, no Pará. A operação policial no Maranhão, que foi coordenada pela
delegada Karina Campelo, da DPRCT, foi realizada em conjunto com a equipe de
policiais civis da Delegacia de Bequimão, coordenada pela delegada titular
daquele município, Martha Dayanne.
O preso vai responder pelo crime
previsto no artigo 122, do Código Penal, por induzimento, instigação ou auxílio
ao suicídio. O crime tem duas penas previstas. Uma delas vai de um a três anos,
caso resulte em lesão corporal da vítima, ou de dois a seis anos, caso resulte
na morte. Após prestar depoimento, o preso foi conduzido para o Sistema
Penitenciário onde permancerá recolhido à disposição da Justiça.
Crime era cometido na zona rural
O preso é natural de Bequimão e
morador de uma localidade do interior deste município, chamada Cumbila. "O
local simples não impediu que, auxiliados pela internet, os criminosos
revelassem a extrema crueldade que um ser humano pode cometer se escondendo atrás
de um perfil falso nas redes sociais, de forma a lhe garantir 'anonimato' e,
assim, orientar jovens a se mutilarem fisicamente e psicologicamente para
depois subtraírem suas vidas", ressalta a delegada Vanessa Lee.
A Polícia Civil do Pará vai
prosseguir a investigação policial para garantir a proteção da criança e do
adolescente e inibir condutas criminosas na rede mundial de computadores.