Congresso debate Direitos Humanos



Começa nesta quinta-feira, 5, em Belém, o Congresso Intercontinental de Direitos Humanos. O evento foi organizado pela Comissão de Ações Judiciais em Direitos Humanos e Repercussão Social do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), e ocorrerá no hotel Sagres, no bairro de São Brás.

No total, 15 palestrantes regionais e internacionais vão abordar a temática dos Direitos Humanos a partir de diversas perspectivas, como gênero, terrorismo, políticas públicas, meio ambiente, questões agrárias, refugiados e povos tradicionais.

Entre os palestrantes, pela primeira vez em Belém, estará o presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Roberto de Figueiredo Caldas, que abordará o “Papel transformador da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O juiz sergipano assumiu o cargo em 2016, com a função de zelar pela correta aplicação e interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos por todos os países que ratificaram o tratado de 1969.

Caldas está na CIDH desde 2013 e deve permanecer no cargo até 2018, quando termina seu mandato. No biênio 2014/2015, foi vice-presidente da entidade. Antes disso, desde 2007, atuou como juiz ad hoc da Corte.

Graduado em Direito pela Universidade de Brasília (1984), Roberto Caldas é advogado especialista em Ética, Direitos Humanos e Sociais, e Direito Constitucional e do Trabalho. Com especialidade junto aos tribunais superiores, é sócio e presidente do Conselho Jurídico Administrativo do escritório de advocacia. É mestre em Direito Público também pela Universidade de Brasília (UnB) e doutor Honoris Causa pela Faculdade São Luís (MA) e pelo Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina (Cesusc) da Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis.

Sediada em San José, na Costa Rica, a Corte é composta por sete juízes, eleitos entre juristas dos países-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA). É uma instituição judicial autônoma da Organização e tem competência de caráter contencioso e consultivo. Somente a Comissão Interamericana e os Estados Partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos podem submeter um caso à decisão desse Tribunal.

A coordenadora da Comissão do TJPA, desembargadora Maria de Nazaré Saavedra, afirmou que 1.220 participantes estão inscritos entre magistrados, servidores, convidados e a sociedade civil. O congresso é resultado das ações em políticas públicas desenvolvidas pela CADHRS, que a função de acompanhar e monitorar, no âmbito do Poder Judiciário do Pará, as ações judiciais em direitos humanos.

Ações judiciais

Com base nos dados coletados pela Comissão até a primeira quinzena de setembro deste ano, foram levantadas 63.253 ações judiciais relacionadas aos Direitos Humanos. Os principais envolvem violência contra a mulher, infância e juventude, crime contra a vida e preconceito de raça (LGBT).

A desembargadora Maria de Nazaré Saavedra ressaltou a importância de ampliar o debate com a sociedade civil a fim de disseminar os temas relativos aos direitos humanos, bem como promover a conscientização quanto à necessidade da garantia destes para a humanidade e para o estado democrático de direito, com respeito à cidadania.

“Os trabalhos desenvolvidos pela Comissão estão alinhados ao Plano de Gestão da Presidência do TJPA e também ao Conselho Nacional de Justiça, atuando no monitoramento das ações de grande repercussão social e que atentem contra os direitos humanos, bem como de outras de interesse da coletividade”, observou.

Segundo a magistrada, os direitos humanos constituem ponto central nos Estados constitucionais, sendo inerentes à ideia de Estado Democrático de Direito, que proclamam a dignidade humana e afirmam direitos fundamentais. “Precisamos preconizar a aplicação da legislação, a jurisprudência estabelecida e a doutrina, como norteadores do sistema global e regional, provindos das Cortes Interamericana e Europeia de Direitos Humanos, e seus reflexos em nossas decisões judiciais”, afirmou a desembargadora Nazaré Saavedra.

A coordenadora explicou ainda que o Congresso Interamericano de Direitos Humanos integra o arsenal das boas ações do Judiciário, com a capacitação de magistrados, servidores, profissionais do direito, estudantes e demais agentes atuantes na defesa dos direitos humanos. “Faz parte deste esforço, em favor do nobre objetivo, a realização do congresso, pregando e persistindo no respeito ao ser humano e como forma de estender o debate com a sociedade”, afirmou.

Foram realizadas jornadas de direitos humanos em Belém, Altamira e Santarém. “O foco é provocar a sociedade a tratar sobre a conscientização da importância da existência dos direitos humanos, especialmente nas áreas onde houver mais pessoas em situação de vulnerabilidade. Acredito que a troca de experiências entre palestrantes e participantes é essencial para que os casos que sejam tratados nessa esfera dos direitos humanos sejam conduzidos da melhor forma”, avaliou a desembargadora Nazaré Saavedra.

Selo

A utilização de um selo para identificar os processos judiciais relacionados aos Direitos Humanos está entre as medidas a serem adotadas pela Comissão de Direitos Humanos do TJPA. O lançamento da identificação processual será realizado durante o Congresso Interamericano de Direitos Humanos pelo presidente do TJPA, desembargador Ricardo Ferreira Nunes na abertura do evento.

De acordo com o Programa Estratégico Estruturante da Comissão de Direitos Humanos do TJPA, os processos deverão ser identificados pelos selos de Violência de Gênero, LGBT, Infância e Juventude e Sistema Carcerário, indicando que viabilizaram a adequada condução e acompanhamento da Comissão.

Comissão

A Comissão foi instituída no TJPA em fevereiro de 2014 (Portaria nº 0353/2014-GP). Dentre as suas atribuições, além da atividade de monitoramento de ações judiciais cíveis e criminais que versem sobre direitos humanos e outros de interesse coletivo e que figurem em grande repercussão social, está a priorização de medidas que garantam celeridade na tramitação dos processos, sem qualquer atuação sobre a independência funcional dos magistrados quanto ao juízo de mérito.

Além da desembargadora Nazaré Saavedra, integram a Comissão o juiz Elder Lisboa da Costa, titular da 1ª Vara da Fazenda Pública de Belém; a juíza Rubilene do Rosário, titular da 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar conta a Mulher de Belém; e o servidor Paulo Victor Ramos da Costa, como representante da Escola Superior da Magistratura (ESM), sob a secretaria da servidora Mônica Raiol de Moraes.