Aberta até o dia 20 deste mês, no Museu
do Forte do Presépio, a exposição “Paisagismo ribeirinho em miniatura” destaca
as habitações que povoam as margens dos rios da região amazônica. Coordenada
pelo artista plástico Saint Clair Dias, um dos educadores do Forte do Presépio
que participa do projeto “Educação no Forte”, a mostra é composta por cinco
peças (suportes) contendo 17 objetos miniaturizados. Segundo os autores, todo o
conjunto de miniaturas ficou pronto em 30 dias.
Samuel Sóstenes, diretor do Forte do
Presépio, diz que “a mostra é muito importante, porque está montada de acordo
com a realidade das comunidades ribeirinhas. Um olhar poético sobre este modus
vivendi. Com base filosófica centrada na ‘Poética do Espaço’, de Gaston
Bachelard, a equipe de educadores do Forte do Presépio estabeleceu uma relação
com a morada daquelas comunidades que, eventualmente, utilizam figuras
coloridas para revestir paredes e encobrir frestas”.
A inspiração em Bachelard busca mostrar
os espaços felizes, como pode ser as casas. O filósofo francês, falecido em
1962, defende que a casa é o espaço do nosso ser íntimo e transcende a morada
física, que segundo Saint Clair juntou-se a outro conceito de um movimento
vanguardistas que surgiu na Itália e se espalhou pelo mundo: “A produção se
enquadra na linha da Arte Povera, por se apropriar das publicações destinadas
ao lixo, por já terem esgotado seus prazos de validade”, explica o coordenador
da exposição e acrescenta: “É importante ressaltar que essas maquetes foram
feitas com papel dos livros didáticos que iriam ser descartados”.
A Arte Povera, que significa “Arte
Pobre”, surgiu na Itália, em 1967. O termo foi criado pelo historiador e
crítico italiano Germano Celant, no catálogo da exposição “Arte Povera –
InSpazio”, realizada em Veneza. O movimento era uma reação crítica à sociedade
de consumo, ao capitalismo e aos processos industriais e questionava o valor da
arte. As criações desse movimento foram representadas principalmente na
pintura, escultura, instalações e performances.
As instalações da exposição “Paisagismo
ribeirinho em miniatura” seguem também o conceito de arte cinética, pela
utilização de mecanismos para simular a dinâmica dos carrosséis nas festas de
arraial dessas comunidades. O motor usado nas peças cria o giro completo,
lentamente, para mostrar a arquitetura das comunidades ribeirinhas, lembrando
cidades flutuantes, em 360 graus.
O papel é a matéria-prima da exposição.
Mais de 100 peças foram confeccionadas para construção das comunidades
ribeirinhas, formadas por casas, igrejas e o comércio, entre outros elementos
dessas pequenas cidades imaginárias. A produção, executada por oito pessoas,
educadores do Forte do Presépio, utiliza o conceito de arte cinética, pela
utilização de mecanismos para simular a dinâmica dos carrosséis nas festas de
arraial daquelas comunidades.
A mostra do Forte do Presépio foi
concebida a partir do trabalho feito pela equipe de arte-educadores do museu
com estudantes ribeirinhos que frequentam a Escola Estadual Gonçalo Duarte, localizada
no bairro do Jurunas, zona urbana de Belém. “Nós trabalhamos com 27 alunos da
escola o tema ‘Casa como morada dos meus sonhos’, que resultou numa exposição
na escola e que não saiu desse espaço”, conta Saint Clair que, depois dessa
experiência, levou a ideia para o grupo de arte-educação que atua no museu,
formado por quatro profissionais e dois estagiários, e em um mês, antes do
Círio, montaram as maquetes da exposição de miniaturas.
A ideia da exposição, ambientada na área
do paisagismo do Forte do Presépio, sob as árvores de Ipê, estabelece uma
analogia ao período da quadra nazarena. Detalhes diretamente evidentes no lado
lúdico das festividades do Círio de Nazaré despontam como fator de destaque na
exposição.
Serviço:
Exposição “Paisagismo ribeirinho em
miniatura”, até 20/10, das 10h às 13h, com curadoria do artista plástico Saint
Clair Dias e mediação dos educadores do Museu do Forte do Presépio.