Contato com a natureza é algo que
o ser humano normalmente deseja. Nesse quesito, os alunos e professores do
Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) da Universidade do Estado do Pará
(Uepa) foram premiados: um casal de gaviões-carijós fez morada na castanheira
situada no terreno ao lado do Centro. As aves são presença constante no campus
e foi constatado que elas estão em período de reprodução. Apesar de alguns
incidentes na convivência entre a comunidade acadêmica e os animais, todos
estão animados em resguardar a espécie e dividir seu território com eles.
Na segunda-feira, 26 de
fevereiro, o professor Diniz Bastos curtia um cafezinho no intervalo entre suas
aulas, apreciando o verde do campus, quando sentiu que algo lhe atingiu a
cabeça. “Meus óculos caíram no chão e me abaixei para pegar, quando levantei,
senti o sangue na testa e ardume perto do olho esquerdo. Fui ajudado na
assepsia do ferimento e procurei um médico”, contou o professor, que fez um
post bem-humorado em sua rede social para informar a todos sobre a presença do
gavião.
Embora tenha sofrido com o
aguçado instinto de preservação da ave, Bastos afirmou que não se ressentiu.
“Pelo contrário, acho que devemos apoiar e proteger os animais, pois somos
culpados de eles estarem invadindo as áreas urbanas, por termos destruído seu
habitat”, ponderou. E a agressividade do gavião não era sem motivo. A direção
do Centro acionou o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), para que fizesse a
remoção do que, até então, se pensava ser apenas uma ave.
Ao analisar a situação, a equipe
do BPA identificou na árvore a presença de um casal da espécie Gavião-carijó
(Rupornis magnirostris) e um ninho. De acordo com o artigo 29 da Lei Ambiental,
parágrafo 1º, inciso II, remover ninhos de aves protegidas é crime, portanto,
os gaviões permanecerão na castanheira pelo período de 30 a 60 dias, tempo
necessário para que os filhotes levantem voo.
Seguindo orientações do BPA, a
direção do Centro isolou as áreas mais propícias para ataques e converteu o que
poderia ser uma briga com os “vizinhos” em uma situação de aprendizado para os
alunos. “Todos na gestão se mostraram muito sensíveis à situação dos gaviões,
afinal, nós ocupamos o espaço deles. Estamos em uma universidade, por isso,
achamos por bem ‘adotar’ a família de gaviões e iniciar uma campanha de
conscientização dentro da comunidade acadêmica sobre a presença de animais
silvestres nos centros urbanos e como lidar com eles”, argumentou o diretor do
CCSE, Anderson Maia.
O campus oferta o curso de
Licenciatura em Ciências Naturais e sua atlética tem como mascote um gavião. Os
alunos aprovaram a postura adotada pela gestão do Centro. “Eu vejo muitas
vantagens na presença dos gaviões no campus, principalmente porque eles se
alimentam de pombos, que são um risco para a saúde das pessoas. O número de
pombos já diminuiu desde que eles apareceram aqui. Nós, que somos seres
humanos, é que precisamos zelar por eles e tomar cuidado para não invadir o seu
espaço”, observou o estudante de Física, Henrique Vieira, de 20 anos.
Outro aluno de Física, Diego
Nonato, reforça a posição do colega. “Não me sinto ameaçado com a presença
destas aves aqui. Podemos tranquilamente conviver com isso e sinto que esse é
nosso dever”, avaliou. Já o servidor Rui Fabrício acredita que o Centro deve zelar
pelas aves mesmo depois de passado o período de reprodução, quando elas poderão
ser removidas pelo BPA. “Eles ajudam com a situação dos pombos, reduzem a
presença de roedores e fazem um controle da população de outros bichos nocivos
aos seres humanos. É a natureza mostrando seu equilíbrio. Vamos iniciar uma
campanha chamada ‘Fica, Gavião’”, brincou.
O assunto será tema de uma
palestra solicitada pelo Centro ao BPA, sobre os costumes da espécie, a
presença de animais silvestres nas cidades e como lidar com situações
inusitadas. O evento fará parte da programação da Semana do Calouro, prevista
para a penúltima semana de março.