A cobrança pelo
despacho de bagagem nos aviões mudou os hábitos de viagem de muitos
brasileiros. Para evitar o pagamento de taxas de – no mínimo – R$ 59, os
passageiros têm embarcado apenas com a bagagem de mão. Segundo a Associação
Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a mudança de comportamento acabou
superlotando os compartimentos nas cabines das aeronaves.
No início, a definição
de tamanho e peso ficava a critério de cada companhia aérea. Para evitar que as
diferenças resultassem em transtorno para os passageiros, a Abear optou por
definir um padrão para esse tipo de bagagem: peso máximo de 10 quilos e
dimensões de, no máximo, 55 centímetros (cm) de altura por 35cm de largura e
25cm de profundidade.
A entidade,
representante das empresas aéreas, tem feito campanhas de orientação sobre as
regras para a bagagem de mão, agora padronizada. “O objetivo é agilizar o fluxo
dos clientes nas áreas de embarque, evitando atrasos e trazendo maior conforto
para todos os passageiros”, informou a Abear, em seu site.
O guia de turismo
Marcelo Gonçalves Brandão já ouviu muita reclamação sobre as taxas cobradas.
“As pessoas reclamam porque já existe uma cultura de se evitar gasto com o
despacho de malas, bem como de evitar perder tempo nas esteiras de bagagens.
Vejo que muitos passaram a viajar com menos roupas em suas malas, para se
adequarem às regras”, disse Brandão, no Aeroporto de Brasília, onde fazia check
in para retornar ao Rio de Janeiro.
“O que mais lamento é
que as mudanças foram feitas sob a argumentação de que [a cobrança pelo
despacho de malas] baixaria o preço das passagens aéreas. Todos sabemos que
isso não aconteceu. O mesmo artifício foi usado quando tiraram o serviço
gratuito de bordo. As passagens só encarecem. Agora, com a terceirização da
fiscalização, que será implementada nas bagagens de mão, vão aumentar os
custos. E, no final, tudo será pago pelos passageiros”, disse.
Acompanhada de seis
amigos de Mato Grosso, que vieram a Brasília para participar de uma competição
de natação, a estudante e atleta Guinever Beregula Gomes, de 14 anos, tinha
dúvidas sobre se o travesseiro que carregava nas mãos seria ou não considerado
uma bagagem extra.
“Costumo me informar
por meio de matérias veiculadas em redes sociais, mas nada diziam sobre
travesseiros”, afirmou, aliviada por ter descoberto em seguida que seu
travesseiro não seria considerado “bagagem de mão”.
Guivener disse que os
limites de peso e dimensões determinados pelas companhias aéreas a fizeram ser
mais seletiva na hora de escolher o que leva nas viagens. Outra mudança de
hábito, segundo ela, é lavar algumas peças de roupa durante a viagem.
Já Maria Heloísa, de 13
anos, colega de Guinever, chegou ao aeroporto sem saber que sua passagem não
permitia o despacho de bagagem.
“Em cima da hora tive
de tirar tudo da mala e colocar apenas o essencial na mochila. Dispensei minha
calça jeans, uma toalha extra e roupas mais volumosas. Na hora, fiquei muito
tensa e com medo de o peso passar do limite. Como estava a caminho de uma
competição, tinha feito um trabalho de concentração que, em um primeiro
momento, foi prejudicado. Depois me acalmei, e ficou tudo tranquilo”, disse a
nadadora.
Apesar de carregar
quatro volumes grandes de mala, além de uma bagagem de mão, uma mochila e uma
bolsa, o geólogo Leno Ataíde, de 37 anos, estava bem mais tranquilo. “Temos
duas crianças, o que nos permite levar mais coisas. Como viajamos muito para
cá, onde moram alguns familiares, já sabemos como evitar problemas com nossas
bagagens”, disse à Agência Brasil.
Empresário do ramo de
pescados, Leandro Vidal, de 32 anos, divide-se entre o Ceará, onde fica a sede
de sua empresa, e Brasília, onde mora desde que sua esposa assumiu o cargo de
procuradora. Por ser muito alto (1m87), ele costuma pagar mais para ter
poltronas mais largas. “Geralmente os bilhetes que compro são mais ou menos 30%
mais caros. A vantagem é que, além de ficar em um assento maior e mais
confortável, não preciso me preocupar com as bagagens, pois estão incluídas no
preço.”
Terceirizado por uma companhia aérea para ajudar no despacho de malas que não se enquadram no padrão definido pela Abear, Luciano Duarte, de 43 anos, destacou que as companhias aéreas têm dado atenção especial no caso de bagagens com instrumentos musicais; equipamentos profissionais sensíveis, como câmeras de filmagem; aparelhos eletrônicos; e carrinhos de bebês ou bebê conforto.
“Hoje mesmo tivemos de
cuidar da bagagem de quatro grupos musicais. Entre as 4h30 e as 7h30 foram 70
volumes de material das bandas Harmonia do Samba e da Família Lima. Teve também
um instrumento que disseram ser do Djavan”, afirmou o “balanceiro” – termo
usado para os funcionários que têm como atribuição embarcar bagagens
diferenciadas.
A Agência Brasil entrou
em contato com a Abear, a fim de obter informações sobre a cobrança pelo
despacho de bagagens, se isso tem ajudado a reduzir o preço das passagens
aéreas. No entanto, até o fechamento da matéria, não houve retorno da
representante das empresas aéreas.