A leitura como ponto de partida para o
conhecimento da vasta cultura paraense em seus mais variados aspectos. Essa é a
proposta do "ParáLer - Nossa Festa Literária", que ocorre na Casa das
Artes, em Belém, até este domingo (3). A programação, realizada pela
Fundação Cultural do Pará (FCP), é inteiramente gratuita e voltada a crianças e
adultos.
Aulas, relatos de experiências, mostras
audiovisuais, exposições, bate-papos, rodas de negócios, concursos, debates,
saraus, lançamento de livros, festival de contação de histórias, teatro, shows,
clubes de leitura e rodas de conversa, voltadas a minorias políticas - como a
comunidade LGBTQIA+, mulheres, negros e refugiados - são algumas das atividades
ofertadas ao público desde quarta-feira (30), quando a festa literária tomou
conta de todos os espaços do complexo. A varanda da Casa é ocupada por
profissionais de gastronomia, em uma espécie de coletivo que recebe o nome de
Taberna Pará. Nela, os pratos são acompanhados de exposições e debates
importantes para pensar a gastronomia na região - como produção de alimentos,
circulação de conceitos, agrotóxicos e questão ambiental.
Conexão - Ana Paula Brito integra o
Coletivo de Mulheres de Produção Camponesa de Mosqueiro (distrito de Belém) -
Amacampo -, em cujo estande há comidas típicas e outras produções orgânicas.
"Esses dias perguntaram aqui o que é carimã (produto da mandioca obtido a
partir da fermentação da raiz). Isso mostra que as nossas origens culturais
estão, aos poucos, se perdendo. Estimular a leitura sobre a nossa região ajuda
a resgatar isso", disse Ana Paula.
Coordenadora-geral do evento, Neila
Garcês confirmou a intenção de fazer da leitura o eixo central que permite
irradiações de diversos temas e reflexões, criando uma composição dialética.
"A literatura se doa para a alimentação, que se vê na literatura. Então, é
o ponto de partida, por isso tem debates, exposições, lançamento de livros,
espetáculos com essa vertente", detalhou.
Estímulo - Aluno do 5º ano da Escola
Estadual Rosa Gattorno, Adryan Figueiredo, 11 anos, integrou uma pequena
excursão com outros colegas de turno, e passou a tarde aproveitando a
programação do "ParáLer". Ele participou de contação de histórias e
até apresentou poesias. "Ouvi contos maravilhosos. Acho legal esse tipo de
coisa. Estimula uma coisa tão legal que é ler, e que nem todo mundo faz",
declarou o estudante.
A coordenadora pedagógica Celiane
Álvares estava à frente do grupo de Adryan pela escola. "A gente resolveu
trazê-los para mostrar o quão diversa é a nossa cultura; para despertar essa
curiosidade", informou.
O advogado Ulisses Calluto tem em casa o
que chama de "biblioquarto". No mesmo lugar onde dorme e estuda,
guarda com carinho cerca de mil títulos, dos mais diversos estilos, em uma
estante desenhada por ele mesmo para abrigar suas preciosidades - que inclui
até um título autografado pelo escritor Guimarães Rosa (1908-1967). É,
portanto, um entusiasta de programações como o ParáLer. "O Ziraldo
costumava dizer que a leitura é mais importante do que o estudo, porque ler
expande horizontes, vai além do que propõem matérias restritas. Tanto que
começa-se a ler na tenra idade, e assim se segue até o fim da vida. A leitura é
tipo de estudo prazeroso", definiu Ulisses Calluto, que tem no poeta Max
Martins (1926-2009) seu autor paraense favorito.