Leitura desde o berço - Foto Andrezza Mariot |
Repórter da Agência Brasil
Incentivar a leitura desde cedo pode
ajudar o Brasil a aumentar o número de leitores, de acordo com especialistas
entrevistados pela Agência Brasil. A estimativa é de que quase metade dos
brasileiros não seja leitor regular. Entre os motivos apontados estão a falta
de tempo e a falta de paciência.
Hoje (7) é o Dia do Leitor, criado em
homenagem ao suplemento literário do jornal O Povo, do Ceará, que ficou famoso
por divulgar o movimento modernista cearense. O jornal foi fundado em 7 de
janeiro de 1928 pelo poeta e jornalista Demócrito Rocha.
Desde então, o Brasil melhorou as taxas
de analfabetismo, mas ainda hoje enfrenta o desafio de fazer com que as pessoas
tenham o hábito de ler. De acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura no
Brasil, do Instituto Pró-Livro, 44% dos brasileiros com mais de 5 anos de idade
não são leitores, o que significa que não leram nenhum livro nos últimos três
meses.
A pesquisa mostra também que ler está
ficando mais difícil para os brasileiros, seja por falta de tempo ou de
paciência. O índice dos que afirmam que não têm nenhuma dificuldade para ler
diminui a cada edição da pesquisa. Eram 48% dos entrevistados em 2007, passando
para 33% em 2015. Entre as dificuldades está a falta de paciência. Em 2007, 11%
disseram não ter paciência para ler. Em 2015, esse percentual subiu para 24%.
"Acho que o desafio da próxima
década é mostrar a importância da leitura, o prazer da leitura, começar a criar
uma nova sociedade leitora. É difícil convencer um adulto que nunca teve o
hábito de ler a começar a ler, [o desafio] é atrair as crianças", diz o
presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Marcos da Veiga
Pereira.
Para chegar às crianças, a Bienal
Internacional do Livro do Rio de Janeiro, organizada pelo Snel, iniciou, neste
ano, o projeto Bienal nas Escolas, que leva autores para escolas públicas. A
intenção é que os encontros ocorram também neste ano e em 2021, até a próxima
Bienal. "Se quer transformar o Brasil, tem que começar a investir nas
crianças", defende Pereira.
Acesso aos livros
A gerente de Cultura do Departamento
Nacional do Serviço Social do Comércio (Sesc), Elisabete Veras, também
considera fundamental a leitura desde a infância. De acordo com ela, a relação
com os livros começa com a proximidade. "O encantamento se dá pela
relação, pelo contato com os livros, pela oportunidade de tocar, de vivenciar
esse universo da imaginação. Por isso o acesso [aos livros] é tão importante",
diz.
Esse contato se dá, para muitos
brasileiros, em escolas e nas bibliotecas. Elisabete defende as bibliotecas
como espaços de diálogo, de palestras, de eventos, de exibições de cinema.
"O acesso [aos livros] não pode ser pontual, tem que ter continuidade,
para criar hábito. Para que se crie hábito, é preciso fazer parte da rotina,
estar inserido no contexto [das crianças] e não ser uma eventualidade".
Uma das metas da Rede Sesc de
Bibliotecas para este ano é a criação de uma grande rede de clubes de leitura,
valorizando a cultura de cada localidade e aproximando os autores dos leitores,
sobretudo do público infantil. A Rede conta hoje com 309 bibliotecas fixas e 57
unidades móveis (BiblioSesc), nas quais estão inscritos 272 mil leitores. Segundo
Elisabete, já existem iniciativas locais, agora a intenção é integrar os
projetos.
Crianças que leem
Não são apenas os adultos que estão
preocupados com a leitura das crianças e jovens. O projeto Pretinhas Leitoras é
prova disso. O projeto nasceu em outubro de 2018, no Morro da Providência, no
Rio de Janeiro, com as irmãs Helena e Eduarda, de 11 anos, e Elisa, 5 anos.
Supervisionadas pela mãe, Elen Ferreira,
e por Igor Dourado, elas compartilham leituras e pesquisam literatura negra. O
que aprendem, as irmãs compartilham com outras crianças e jovens tanto em
clubes de leitura, que reúnem também autores e contadores de história, quanto
pela internet.
"A literatura é a oportunidade de
acessar e compartilhar um pouco daquilo que somos e sabemos. Quando essa
interação acontece, criamos uma forma nova de acolher a história que era do
outro e passa a ser também nossa de um jeitinho único", dizem as irmãs,
por e-mail, à Agência Brasil.
Para a equipe do Pretinhas Leitoras, a
internet é uma grande aliada no incentivo à leitura. “Compartilhamos discussões
sobre obras literárias por meio do cyberespaço para potencializar o acesso à
leitura e sua divulgação pelas redes".
A internet significa também, para elas,
acesso. “Há que se pensar também sobre a importância que a internet assume ao
democratizar o acesso à narrativas distintas e secularmente ignoradas no cenário
literário brasileiro. Outro ponto é o acesso à ebooks, que estão diminuindo o
preço de aquisição de muitos títulos e possibilitando descobertas dos mesmos.
Isso é muito importante em um país no qual o mercado literário é elitista e
caro, enquanto a massa populacional é pobre".
Incentivo familiar
O Ministério da Educação (MEC) lançou,
no mês passado, o programa “Conta pra Mim”, que estimula a leitura de livros
infantis no ambiente familiar. A pasta disponibilizou uma cartilha para
orientar os pais e responsáveis.