Há 11 anos, a insônia começou
a afetar a qualidade de vida do pescador Laércio Santos, 63, que se esforçava,
mas não conseguia dormir. O distúrbio o levou a procurar ajuda médica no
município de Óbidos, onde reside com a família. Consultou um neurologista,
passou por alguns exames e o diagnóstico veio com um susto: estava com a Doença
de Parkinson. Esta semana, ele esteve mais uma vez no Hospital Ophir Loyola em
companhia da filha Natália Nascimento, 23, para uma consulta periódica.
A Doença de Parkinson é a
segunda enfermidade neurodegenerativa mais comum da humanidade. É caraterizada
pela morte progressiva dos neurônios responsáveis pela produção de dopamina, um
neurotransmissor que, dentre outras funções, controla os movimentos corporais.
Apesar de ser conhecida como doença da terceira idade, o número de pessoas
abaixo dos 60 anos diagnosticadas vem aumentando.
O Ambulatório de Distúrbios do
Movimento do Hospital Ophir Loyola recebe cada vez mais pacientes na faixa
etária entre 40 e 50 anos. Os principais sintomas característicos são a
lentidão para executar movimentos voluntários, denominada de bradicinesia, além
de tremores, rigidez muscular e instabilidade postural.
A maioria das pessoas associam
a Doença de Parkinson ao tremor, porém o especialista Bruno Lopes, do HOL,
afirma ser a 'lentificação' o sintoma mais comum. "Quando uma pessoa
começa a perder a capacidade de se mover normalmente a exemplo de alguém que
sempre fez caminhada com o cônjuge e começa a perceber a dificuldade de manter
o passo e acompanhar o parceiro, é preciso ficar atento", explica.
Outro exemplo é a dificuldade
em executar atividades manuais, como escovar os dentes e aparar a barba. Ao
perceber que o movimento está mais lento e que precisa de muito mais tempo para
fazer o que fazia antes, um neurologista deverá ser consultado. Em relação ao tremor,
é assimétrico, geralmente ocorre em uma mão de modo mais intenso do que na
outra ou uma mão com e outra sem tremor. Em outras doenças com este sintoma, o
comum é a pessoa tremer de modo igual dos dois lados.
Martinho Cunha, 57, reside em
Abaetetuba. Há algum tempo teve de abrir mão da profissão de carpinteiro que
exercia desde os 17 anos. Atualmente, faz uso de mais de 10 comprimidos por dia
e está aposentado. "Não tenho como continuar trabalhando, toda a
habilidade com as ferramentas ficou para trás. É bem complicado", disse.
Ainda não existe uma causa
definida. Segundo Bruno Lopes, acredita-se que a combinação de vários fatores,
como alguns distúrbios com toxinas ambientais, genética, e inflamação no
sistema nervoso cause a degeneração dos neurônios na parte superior do sistema
nervoso central (encéfalo) e gere o surgimento do Parkinson.
O diagnóstico é clínico. O
médico checa os sintomas, faz testes físicos e solicita outros exames
complementares, como tomografia e ressonância magnética com o intuito de
descartar outras patologias neurológicas e assim fechar o diagnóstico.
"Quando a gente vê um paciente com sintomas de forma bem clara, como o
tremor e a lentidão, a doença já está numa fase intermediária de
desenvolvimento, certamente a morte dos neurônios começou anos antes dos
sintomas", destaca o especialista.
Ainda segundo ele, depois de
diagnosticado, o Parkinson tende a evoluir por se tratar de uma doença
crônico-degenerativa progressiva. O tratamento é feito à base de drogas para
evitar a redução de dopamina e, em alguns casos, é indicada a cirurgia. A
manifestação é amenizada, mas não há cura, o mal continua a avançar.
"Mesmo que seja determinado que uma pessoa tenha risco de quase 100% de
desenvolver a doença, infelizmente, até o momento, não há nada que a medicina
possa fazer para bloquear essa evolução", lamenta.
As medicações prescritas
repõem a falta de dopamina, principal neurotransmissor afetado na doença. A
substância mais eficiente utilizada é o Levodopa, existente em várias formas comerciais
e, geralmente, é combinado com outras medicações para otimizar o efeito. A
maioria dos municípios fornece o medicamento e existe um programa do governo
federal que garante desconto na Farmácia Popular.
Atividade física e intelectual
melhora os sintomas da doença
O especialista Bruno Lopes
recomenda que os pacientes, mesmo com as dificuldades, tentem manter a vida
mais próxima do normal. Não há restrição do ponto de vista intelectual e, se
surgirem as incapacidades, aconselha uma adaptação à nova realidade para
amenizar a situação. "É muito importante que não levem uma vida
sedentária. Existem várias evidências na literatura científica de que a
atividade física melhora os sintomas da doença quando combinada com os
remédios", destacou.
Em Belém, o Ambulatório de
Distúrbios do Movimento do Hospital Ophir Loyola recebe pacientes da Rede SUS,
em fase inicial ou avançada, encaminhados pela Central de Regulação. E, com o
Hospital de Ensino e Pesquisa, há a possibilidade dos enfermos participarem,
caso desejem, de alguns projetos de investigação da Doença de Parkinson.