As relações entre duas pessoas são
caminhos em constante mudança. Nos tempos que vivemos, a conjuntura está a
obrigar muitos casais a conviverem, a partilharem espaço de uma forma como já
não faziam há muito tempo.
A sociedade moderna levou-nos a ter dois
casamentos, um com o parceiro e outro com o trabalho. Por norma, este último,
tem de quase todos mais empenho e atenção. Segundo o filósofo e psicanalista
Fabiano de Abreu a quarentena pode ser um momento ideal de pausa e avaliação.
"O nosso quotidiano atribulado
torna-nos muitas vezes seres preguiçosos em relação a nós mesmos e a quem
partilhamos a vida. Há uma preguiça instalada nas relações. As pessoas não
param para avaliar, para refletir no porquê de estar com aquela pessoa, se ela
ainda nos supre ou simplesmente cedemos ao comodismo.", refere o
psicanalista.
Contudo, Fabiano de Abreu alerta que não
nos podemos entregar à conjuntura, não podemos confundir sentimento com estado
emocional. O fato de estarmos fechados, de aumentar o nosso nível de ansiedade,
de se avistarem dificuldades a nível económico pode acionar em nós emoções não
desejadas. Essas devem ser filtradas, ponderadas com calma.
"Este tipo de avaliação deve ser
muito cautelosa. Temos que medir, compreender se realmente quem está ao nosso
lado já não tem o mesmo impacto na nossa vida. Se realmente o sentimento findou
mas não tínhamos dado conta. As pessoas muitas vezes ficam juntas por conforto
e segurança mas, em tempos de crise, podem acontecer rupturas definitivas. Por
vezes o medo da solidão pode sobressair.", esclarece.
Por outro lado, segundo a linha do
filósofo há casais onde acontece o oposto. Mesmo tendo sentido uma desconecção
por toda uma rotina, agora, neste momento de paragem a relação se fortalece.
Segundo Fabiano, " Existem casais que na adversidade se fortalecem, que
não cedem aos impulsos e usam o momento para pensar em dupla. Seguem a velha
máxima de que uma cabeça pensa melhor que duas. Usam a quarentena para delinear
estratégias, buscando um ponto de equilíbrio. Juntos irão recuperar e fazer
frente ao que estiver por vir. "
Segundo o filósofo o casamento pode se
transformar em algo mais concreto, sai do abstrato.
“Há quem viva um relacionamento abstrato
pois está com a mente totalmente ocupada em seus afazeres. O concreto é o que
define uma linha racional dentro de uma realidade vivida.”
Estes momentos servem para ter a
percepção real. Ou realmente o relacionamento está acabado ou segue mais forte.
Os momentos de paragem obrigam-nos a olhar para situações que protelávamos há
mais tempo do que o desejável.
Finalizando o tema o filósofo alerta
para outro fator. Segundo o estudioso o mundo caminha para a solidão. As
famílias são cada vez mais pequenas, menos filhos. Há uma individualização
instalada. Estamos nós, enquanto humanos preparados para seguir sozinhos?
" Momentos críticos fazem-nos
refletir sobre as nossas escolhas. Preferimos passar por esta crise apenas por
nossa conta ou, se de facto, a base familiar é uma ajuda. ", indaga.