Com apenas 10 anos de idade, Jason de
Carvalho tomou uma importante decisão nesta semana. Internado há um mês no
Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, unidade do Governo do Estado do Pará
e gerenciada pela Pró-Saúde, Jason optou por raspar os cabelos, que começavam a
cair com o avanço do tratamento contra o câncer.
O
corte do cabelo foi um pedido do próprio Jason e acabou emocionando a mãe do
garoto, Maria Isabel Freitas, além dos profissionais de saúde e colaboradores
do Oncológico Infantil que acompanharam o momento. Para a mãe da criança, a
decisão do filho se tornou um passo importante e encorajador para enfrentar a
luta contra o câncer.
“Eu me emocionei em acompanhar esse
momento. Eu sabia que iria acontecer, mas não imaginava que seria tão difícil.
Isso significa muito para ele, pois ele queria logo passar essa fase da queda
dos fios. Nós sabemos que faz parte do processo e vamos enfrentar todas as
etapas. Eu sinto que, a cada etapa vencida, mais rápido ele irá se recuperar e
ter alta”, relatou a mãe.
Natural do município de Altamira, na
região sudoeste do Pará, Jason chegou à Belém acompanhado da mãe que buscava
descobrir, desde o início do ano, o que teria causado o surgimento de um
“caroço” no pescoço do filho e o motivo de tanta febre, dores de barriga e
cansaço.
Depois de vários exames e descarte de
várias doenças comuns para a idade de Jason, ele acabou sendo encaminhado para
Belém para novos exames, desta vez no Hospital Oncológico Infantil, unidade que
é referência para o tratamento especializado do câncer infantojuvenil no Pará.
Foi no Oncológico Infantil que Maria Isabel descobriu que os sintomas que o
filho apresentava eram, na verdade, um Linfoma não-Hodgkin, condição rara de de
câncer em crianças, como comenta Fabíola Puty, pediatra oncológica da unidade.
“Linfomas são cânceres que se originam
nos linfonodos (gânglios). Os gânglios fazem parte do sistema imunológico e,
portanto, ajudam o corpo tanto a prevenir como combater doenças. O linfoma pode
surgir em qualquer parte do corpo de uma criança, adolescentes e adultos, e
geralmente um dos primeiros sinais são linfonodos aumentados no pescoço, axilas
ou virilha”, explica a profissional.
A mudança em meia à pandemia do novo
coronavírus deixou Maria Isabel aflita. Sentimento que foi diminuindo com o
acolhimento recebido no Oncológico Infantil. “Apesar de tudo ser muito novo e
difícil para nós dois, todos os dias os médicos vêm explicar cada etapa do
tratamento. Essa paciência e os esclarecimentos me trazem alívio, motivação e
esperança”, relata.
Sobre a atenção e a assistência
humanizada recebida por Maria Isabel e o filho, Fabíola ressalta que ambas
fazem parte de uma linha de cuidado adotada pela unidade que trazem resultados
positivos no tratamento. “Atualmente, as crianças são tratadas com
poliquimioterapia (vários tipos de quimioterapia ao mesmo tempo) para
potencializar a cura.
“Os efeitos colaterais acabam sendo
comuns e um deles é a queda de cabelos que, quando valorizada como nesta ação,
consegue minimizar tanto os efeitos físicos quanto emocionais do momento. Além
do que com um corte de cabelo antecipado ou aos primeiros sinais de queda, o
paciente se sente mais acolhido e atendido nas suas necessidades higiênicas.
Isto ajuda no tratamento global”, ressalta.
Com o novo visual e consciente do que
ainda pode vir pela frente durante o tratamento, e depois de conversar com
outras crianças no Hospital, Jason faz planos para o futuro. “Depois isso vai
passar, vou receber um videogame e vou ser youtuber de jogos”, revela.
**Gesto solidário**
Ao contrário do que normalmente acontece
no Hospital Oncológico Infantil, dessa vez não foi um profissional voluntário
que realizou o corte de cabelo. A ação de solidariedade foi realizada pela Ana
Paula Pinheiro, auxiliar de limpeza há dois anos no hospital.
A colaboradora se disponibilizou a fazer
o corte do cabelo, já que medidas de controle de infecção hospitalar,
implantadas em função da pandemia do novo coronavírus, impossibilitam a entrada
de voluntários no Hospital. Para a colaboradora, atender ao pedido de Jason foi
um momento especial.
“É gratificante poder ajudar. Eu já
tenho amor por crianças e trabalhar aqui e colaborar é especial para mim.
Quando soube do pedido, sabia que seria uma forma de auxiliar no tratamento”,
relatou.
Além de atos solidários, a unidade conta
com o programa de voluntariado, por meio de ações educativas, doações,
atividades e brincadeiras compartilhando amor e carinho, ensinando aos pequenos
à solidariedade ao próximo. Ações como essa ajudam a garantir a alegria das crianças
e jovens em tratamento de câncer.
Para partilhar dessa solidariedade, o
hospital criou o projeto Liga Antivírus, que busca estimular colaboradores e
voluntários a participar de ações que possam ajudar as crianças. Além do corte de cabelo, iniciativas como
formação de caravanas para doação de sangue, entrega de máscaras de tecido
faciais e toucas infantis, entre outras, estão sendo realizadas.
**Atendimento de 0 a 19 anos**
O Oncológico Infantil é uma unidade
pública atende crianças e jovens na faixa etária de 0 a 19 anos e oferece
assistência especializada que garante atendimentos para oncologia pediátrica e
outras especialidades, com uma estrutura voltada ao tratamento humanizado. A
unidade atende cerca de mil crianças de municípios do Pará e de estados
vizinhos, como o Amapá.
Em 2019, o Hospital superou a marca de 1
milhão de atendimentos em quatro anos. No período foram mais de 110 mil sessões
de quimioterapias, 56 mil consultas, 650 mil exames e mais de 5 mil
internações. A atenção prestada aos pacientes é reconhecida pelo alto índice de
aprovação da unidade, sendo de 98% atualmente.
Ainda em 2019, o Hospital se tornou o
primeiro na rede pública do país, com atendimento em oncologia pediátrica, a
conquistar a certificação ONA 3 – Acreditado com Excelência. Esse é o maior
nível de reconhecimento concedido pela Organização Nacional de Acreditação,
entidade respeitada e com atuação nacional responsável pela avaliação dos
serviços de saúde do País, destacando os melhores resultados de gestão, qualidade
e segurança voltados ao paciente.