A ampliação dos impactos econômicos da
crise provocada pelo novo coronavírus tem levado um número maior de donos de
pequenas empresas a buscar empréstimo para manter o negócio. De acordo com
pesquisa realizada pelo Sebrae, com parceria da Fundação Getúlio Vargas,
cresceu em 8 pontos percentuais a proporção de empresários que buscou crédito
entre 7 de abril e 5 de maio. Entretanto, o mesmo estudo mostra que 86% dos
empreendedores que buscaram tiveram o empréstimo negado ou ainda têm seus
pedidos em análise. Desde o início das medidas de isolamento no Brasil, apenas
14% daqueles que solicitaram crédito tiveram sucesso.
A pesquisa, realizada entre 30 de abril
e 5 de maio, ouviu 10.384 microempreendedores individuais (MEI) e donos de
micro e pequenas empresas de todo o país. Essa é a 3ªedição de uma série
iniciada pelo Sebrae no mês de março, pouco depois do anúncio dos primeiros
casos da doença no país. O levantamento do Sebrae confirma uma tendência já
identificada em outras pesquisas do Sebrae, de que os donos de pequenos
negócios têm – historicamente – uma cultura de evitar a busca de empréstimo.
Mesmo com a queda acentuada no faturamento, 62% não buscaram crédito desde o
começo da crise. Dos que buscaram, 88% o fizeram em instituições bancárias. Já
entre os que procuraram em fontes alternativas, parentes e amigos (43%) são a
fonte de empréstimos mais citada, seguidos de instituições de microcrédito
(23%) e negociação de dívidas com fornecedores (16%).
Para o presidente do Sebrae, Carlos
Melles, esse comportamento pode ter diversas razões, entre elas: as elevadas
taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras, o excesso de
burocracia ou a falta de garantias por parte das pequenas empresas. “Por essa
razão, o Sebrae está trabalhando para ampliar o volume de instituições
parceiras para a operação do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas
(Fampe). Já contamos com 12 organizações, entre bancos públicos e privados,
cooperativas de crédito e agências de fomento. Queremos estender esse apoio a
um número maior de empresários”, comenta Melles. Segundo o presidente do
Sebrae, em apenas pouco mais de 10 dias de operação do convênio firmado com a
Caixa para a concessão de crédito assistido, com recursos do Fampe, foram
realizadas 3.104 operações e concedidos R$ 267,9 milhões em crédito para
pequenos negócios.
Agentes financeiros
Analisando particularmente a procura de
crédito junto aos agentes financeiros, a 3ª Pesquisa do Impacto do Coronavírus
nos Pequenos Negócios mostrou que os mais demandados, desde o início da crise,
foram os bancos públicos (63%), seguidos dos bancos privados (57%) e
cooperativas de crédito (10%). Entretanto, avaliando a taxa de sucesso desses
pedidos, o estudo do Sebrae mostrou que as cooperativas de crédito lideram na
concessão de empréstimos (31%) e, na sequência, aparecem os bancos privados
(12%) e os bancos públicos (9%).
Comportamento dos pequenos negócios
A pesquisa revelou que as medidas de
isolamento recomendadas pelas autoridades de saúde atingiram a quase totalidade
dos pequenos negócios. 44% interromperam a operação do negócio, pois dependem
do funcionamento presencial. Outros 32% mantêm funcionamento com auxílio de
ferramentas digitais e 12% mantêm funcionamento, apesar de não contar com
estrutura de tecnologia digital. Apenas 11% conseguiram manter a operação sem
alterações, por outras razões, entre segmentos listados como serviços essenciais.
Com relação ao faturamento do negócio, a
maioria dos donos de pequenas empresas (89%) apontou uma queda na receita
mensal. 4% não perceberam alteração de faturamento, apenas 2% conseguiram
registrar aumento de receita no período e 5% não quiseram responder. Na média,
o faturamento dos pequenos negócios foi 60% menor do que no período pré-crise.
Apesar de preocupante, esse resultado é melhor do que o identificado nas duas
pesquisas anteriores. Em março, a queda havia sido de 64%. No 2º levantamento,
no início de abril, a perda média de receita havia sido ainda maior (69%).
Para tentar superar esse momento, as
empresas estão lançando mão de diferentes recursos. Para 29% delas, a
alternativa foi passar a realizar vendas online, com o uso das redes sociais.
12% disseram ter começado a gerenciar as contas da empresa por meio de
aplicativos e 8% passaram a realizar vendas online por aplicativos de entrega.
Quanto à gestão dos recursos humanos das
empresas, 12% dos entrevistados revelaram que tiveram de demitir funcionários
nos últimos 30 dias, em razão da crise. 29% das empresas com empregados
suspenderam o contrato de funcionários; outros 23% deram férias coletivas; 18%
reduziram a jornada de trabalho com redução de salários; e 8% reduziram
salários com complemento do seguro-desemprego; alternativa permitida pela MP
936.
Análise dos Segmentos
A pesquisa avaliou a perda média de
faturamento semanal dos microempreendedores individuais, micro e pequenas
empresas, de acordo com o segmento de atuação. Embora todos os setores tenham
registrado perdas, elas foram mais sensíveis na atividade da Economia Criativa
(eventos, produções etc) (-77%), Turismo (-75%) e Academias de Ginástica
(-72%). Já os segmentos com menor perda
de faturamento, de acordo com o estudo, foram Pet Shops e Serviços Veterinárias
(-35%), Agronegócio (-43%) e Oficinas e Peças Automotivas (-48%).