Com a pandemia do novo coronavírus
(Covid-19), o uso de máscaras se tornou obrigatório como medida de proteção e
contenção do aumento de novos casos da doença. Para um dos grupos de risco da
Covid-19, formado por crianças em tratamento contra o câncer, a máscara sempre
fez parte do dia a dia, com o mesmo objetivo de proteção, mas agora ela ganhou
um novo significado: inclusão.
O pequeno Noah da Silva, de três anos,
passou a usar máscaras como proteção há oito meses, período em que vem fazendo
tratamento contra uma leucemia no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, em
Belém. A leucemia reduz a imunidade das crianças e a máscara é recomenda por
médicos para proteção dentro e fora da unidade, que pertence ao Governo do
Pará, gerenciada pela Pró-Saúde.
No entanto, devido a desinformação,
antes da pandemia o uso das máscaras era enxergado como algo estranho por
outras pessoas. Amilton Ferreira, auxiliar administrativo, morador de
Abaetetuba, e pai de Noah, lembra dos olhares que recebia sempre que precisava
sair com o filho, e como as interpretações foram mudando com mais pessoas
usando máscaras nas ruas. Para ele, a máscara que antes trazia sentimentos de
desvalorização e preconceito, agora é vista como algo importante e que traz
segurança.
“Nós sempre notamos os gestos e olhares quando
saíamos de casa. No ônibus, supermercado, em todo lugar. As pessoas
discriminavam, se afastavam, tinham medo, e isso abalava a autoestima dele e da
família por usarem máscaras. Agora, nós percebemos que isso diminuiu. As
pessoas não questionam mais, brincam com ele, conversam com a gente, porque
todos entendem que é para sua segurança”, explica Amilton.
Mayara Araújo, autônoma e moradora de
Novo Repartimento, no sudeste do Pará, acompanha o filho Marcus Henrick, de 13
anos, em um tratamento também contra a
leucemia. Para ela, é uma mudança que ressignifica o uso da máscara e impacta
na autoestima das crianças e das famílias. “Muitas amigas que eu fiz no
hospital, relatavam que sofriam com a discriminação e como isso abalava as
crianças e as famílias. Agora, todo mundo entende como é importante usar a
máscara, para nos proteger e para proteger o outro”, afirma.
Thiago Pinheiro faz parte da equipe de
psicologia do Hospital e ressalta que um dos principais desafios para um
paciente oncológico é a autoaceitação da imagem, e a utilização da máscara faz
parte desse processo. Segundo o psicólogo, essa percepção também se estende aos
familiares e à sociedade e que, quando encarada de forma positiva, colabora com
o tratamento do paciente.
“O uso da máscara sempre foi muito
significativo para o tratamento oncológico e a falta de informação sobre esse
tipo de proteção pode fazer com que as crianças e jovens se sintam excluídas.
Agora, com a pandemia, há uma ressignificação dessa máscara e, não só as
crianças, mas os familiares estão se apropriando e motivando seu uso, o que
colabora para o sucesso do tratamento terapêutico, melhora autoestima e impacta
também na saúde emocional de todos”, explica Thiago.
Ilce Menezes, médica infectologista no
Oncológico Infantil, ressalta que essa nova percepção vem para valorizar ainda
mais o uso da máscara como dispositivo de proteção. Por meio das crianças e dos
pais, esse cuidado pode ser difundido para demais familiares e para a
sociedade.
“Os pacientes oncológicos apresentam uma
fragilidade no sistema autoimune e por isso precisam se proteger de infecções,
bactérias e vírus. É importante que possamos valorizar o uso das máscaras com
um olhar positivo e inclusivo, a partir do exemplo das crianças e das
experiências de vida delas diante do tratamento”, destaca a médica.
Para a diretora hospitalar, Alba Muniz,
essa nova percepção do uso da máscara leva um olhar mais igualitário à
população. “A máscara sempre protegeu nossos pacientes. As crianças sempre
foram vozes que disseminavam a importância do uso, e hoje, elas se veem
representadas, e não há diferenciação, todos são iguais, todos precisam de
proteção”, afirma.