A responsável técnica pelo Banco
de Olhos do HOL, médica Natércia Pinto Jeha, explica que ainda existe uma
significativa resistência de familiares em doar córneas de parentes falecidos.
“O detalhe que precisa ser melhor entendido pela sociedade é que a retirada
desses tecidos só ocorre quando for constatada a morte cerebral do doador”,
ressalta. Em 2016 foram 121 córneas
captadas no Pará, número recorde de tecidos captados no próprio estado desde a
implantação do Serviço, em 1978, no Hospital de Pronto Socorro, até a transferência
para o Ophir Loyola, em 2001.
O hospital também se tornou
pioneiro, em 2008, na realização do transplante de córnea pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). Em setembro de 2010, o
serviço chegou ao 100º transplante por meio de equipe comandada pela doutora
Natércia. O paciente foi um adolescente de 17 anos, Rones França, natural de
Canaã dos Carajás, sudeste do estado.
De 2008 até 2016 foram realizados
278 transplantes de córnea no HOL, e somente de janeiro a março deste ano foram
13 procedimentos, mais da metade do total dos 19 enxertos realizados no ano
passado.
O Banco de Olhos do Ophir Loyola
é o único do Pará e atua no recolhimento, preservação e destinação de córneas
em consonância com a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos
(CNCDO) do Pará para atendimentos da rede particular, pelo SUS e por convênio.
A instituição também realiza transplantes e oferece ambulatório.
Doação - Familiares de doadores
potenciais que vierem a óbito podem decidir pela doação legal das córneas até
seis horas após o falecimento. Quando confirmada a doação, o Banco de Olhos é
acionado para fazer a captação e o armazenamento do tecido, que tem um prazo
máximo de aproveitamento de catorze dias.
O material recolhido passa por um
processo rigoroso de controle. A córnea é avaliada em um aparelho que checa a
presença ou não de corpos estranhos, infecção ou lesão, antes de ser retirada
do globo ocular.
Após serem processadas em
ambiente estéril e colocadas em frascos de conservação, além de avaliadas
novamente pelos enfermeiros, as córneas são reavaliadas pela equipe médica para
checar se o tecido realmente tem todas as qualidades para ser liberado para o
transplante.
Feitos todos os exames e obtidos
os resultados adequados, o Banco de Olhos entra em contato com a Central de
Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) do Pará, que verifica os
pacientes na fila de espera.
Qualquer pessoa, na faixa etária
entre dois e 80 anos, pode doar as córneas. Há critérios específicos de
exclusão, como pacientes portadores de HIV e portadores de Hepatite B e C. Até duas pessoas podem ser beneficiadas com
uma única doação.
O enfermeiro Rodrigo Pinto
explica que a retirada dos órgãos do doador, de acordo com a legislação
brasileira, exige a realização de exames como a artereografia e
eletroencefalograma para confirmar que não haja fluxo sanguíneo no cérebro do
doador e atestar sua morte cerebral.
Outros exames bioquímicos e gráficos são realizados também para
assegurar a viabilidade dos órgãos para doação.
“É importante engrandecer o ato
porque a morte de um ente querido é um momento muito doloroso para a família.
Mas se não for autorizada por nenhum familiar, a retirada dos tecidos não pode
ser feita de forma alguma. Contudo, alguém que está à espera de um transplante
também perde a oportunidade de enxergar novamente”, ressalta o enfermeiro.
O transplante de córnea pode
corrigir doenças como ceratocone, que provoca alteração na curva da córnea e
eleva o grau do paciente, além da perda da visão causada por traumas e
infecções pelo uso de lentes de contato, por exemplo. No Pará, a principal
indicação de transplante em pacientes mais idosos é ceratopatia bolhosa
(alteração na córnea causada por uma complicação de cirurgia de catarata) ou a
distrofia de Fuchs (uma doença ocular que pode levar à perda parcial da visão).
O procedimento é realizado em
ambiente hospitalar por meio do microscópio cirúrgico, e demora entre uma hora
e uma hora e meia. Remove-se a córnea danificada e, no local, é suturado o
tecido doado. No local é aplicado um tampão, que é retirado no dia seguinte,
quando já começa a utilização dos colírios.
“A recuperação do transplante de córnea dura
de três meses a um ano, porque os pacientes levam em torno de 16 pontos que são
retirados lentamente. O paciente volta a enxergar no primeiro dia de forma
embaçada e vai melhorando gradativamente com a retirada dos pontos”, afirma
Natércia.
No Pará, o transplante de córnea
também é realizado no Hospital Bettina Ferro, Clínica Cinthia Charone (planos
privados e SUS), além de algumas clínicas privadas credenciadas para
transplante de córnea. Em Santarém, por meio do SUS e da rede privada, é feita
a captação de córneas para transplantes.