Dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) apontaram que, em 2014, mais de 40 milhões de brasileiros
demonstravam interesse por cursos de qualificação profissional. A pesquisa
revelou ainda o perfil por trás dessa demanda significativa: a grande maioria
dos preocupados com o tema encontrava-se na faixa etária mais jovem e possuía
bom nível escolar, com 11 anos ou mais de estudo. Ainda assim, do total de
entrevistados, pouco mais de 8% encontrava-se, de fato, realizando alguma
atividade do tipo. Os dados coincidem com o período no qual o país adentrou na
crise econômica e, por consequência, do emprego e ganham ainda mais importância
no cenário atual, onde a falta de especialização reduz ainda mais a
acessibilidade dos mais jovens ao mercado de trabalho.
Faixa etária e escolaridade
Divulgada no último dia 23 de
março, a PNAD (IBGE) demonstrou que 45,4% brasileiros interessados em
qualificação profissional em 2014 possuíam entre 15 e 29 anos de idade,
enquanto as parcelas mais velhas da população, de 30 a 39 anos e de 40 a 59,
representavam, respectivamente, 25,2% e 25,7% do total de interessados. O nível
escolar também ganhou destaque na pesquisa: a grande maioria, 48,1%, possuía 11
anos de estudo ou mais – apontando que quanto maior o grau de instrução, maior
é o interesse pela qualificação.
Curiosamente, a preocupação com o
tema também é maior entre aqueles que já se dedicaram à atividade, ou seja, já
frequentaram algum tipo de curso profissionalizante. Dentre aqueles que estavam
cursando alguma especialização em 2014, mais de 60% afirmava desejar repetir a
experiência, dentre aqueles que já haviam frequentado algum curso
anteriormente, 48,7% exprimiram o mesmo desejo, enquanto apenas 20,7% daqueles
que jamais ingressaram em qualquer qualificação afirmaram ter esse objetivo.
Percepção profissional x
qualificação
De acordo com Tiago Mavichian,
diretor da consultoria Companhia de Estágios, a urgência em ingressar no
mercado de trabalho é uma das principais razões pelas quais essa preocupação é
mais acentuada entre os jovens “De acordo com dados do próprio IBGE, essa
parcela da população é a que mais sofre com o desemprego atualmente. E mesmo
nas modalidades mais vantajosas, como os programas de estágio e aprendizagem,
eles enfrentam uma alta concorrência. Sendo assim, precisam buscar formas de se
destacar e a qualificação é sua principal arma neste momento, uma vez que eles
possuem pouca ou nenhuma bagagem profissional. Portanto, é natural e
extremamente relevante que os jovens tenham maior consciência a respeito da
importância da qualificação, principalmente em tempos de crise”.
Para o diretor da recrutadora,
este fato também está relacionado ao nível escolar “Quanto mais o jovem estuda,
melhor é a sua percepção em relação ao mercado de trabalho. Além de saber
avaliar com mais clareza quais oportunidades realmente são interessantes para
sua carreira, ele saberá direcionar melhor seu empenho para a área que
realmente lhe agrada. Não é a toa que os dados demonstraram que quanto mais
anos de estudo, maior o interesse na qualificação. Até mesmo porque,
atualmente, o investimento no currículo não é apenas um diferencial, mas uma
forma de se manter competitivo num mercado cada vez mais exigente”.
Como superar os entraves
Contudo, um dos fatores que mais
chamou a atenção na pesquisa é que, apesar do número expressivo de
interessados, poucos estavam, de fato, realizando alguma atividade do gênero.
No período, pouco mais de três milhões de pessoas frequentavam algum curso,
enquanto quase 25 milhões afirmaram terem feito alguma profissionalização
anteriormente. E mesmo modalidades que costumam ser alternativas, como cursos
superiores de curta duração, foi possível observar entraves que dificultavam a
obtenção do diploma: falta de recursos financeiros, pouco tempo para se dedicar
aos estudos e, até mesmo, “falta de motivação com o que era aprendido no curso”
– foram os principais pontos elencados por aqueles que abandonaram a graduação
tecnológica.
Para Mavichian, embora essas
dificuldades se acentuem em tempos de recessão, é preciso que o jovem
mantenha-se motivado, focado na qualificação e, principalmente nas atividades
mais flexíveis à sua rotina: “O estágio é, sem dúvidas, uma das principais
alternativas para que o jovem siga se qualificando, pois permite que ele
concilie trabalho e estudo. Além de ajudar no caráter financeiro, programas de
aprendizado podem auxiliar no estímulo ao estudo, pois proporcionam a
experiência prática daquilo que se aprende em sala de aula”.
Qualificação na crise
Contudo, para aqueles que ainda
não conseguiram uma oportunidade, investir em qualificação pode parecer um
grande desafio, sobretudo em tempos de orçamento apertado. Ainda assim, é
possível investir na valorização do currículo – é o que afirma Rafael Pinheiro,
gestor de recursos humanos “Quando afirmamos que a qualificação é cada vez mais
importante, muitos jovens se desanimam, pois imaginam que precisam fazer cursos
especializados e intercâmbios e que isso depende, diretamente, do investimento
financeiro. Porém, as empresas estão valorizando cada vez mais candidatos que
possuam habilidades interpessoais claras, saibam trabalhar em grupo e que sejam
proativos. O trabalho voluntário, por exemplo, é uma excelente forma de
trabalhar essas aptidões sem que o jovem precise, necessariamente, de capital”.
Para o gestor, o mais importante
é que o jovem se mobilize, utilizando, inclusive, os recursos que tem a seu
favor “Atualmente, com uma geração cada vez mais conectada, é muito mais fácil
encontrar oficinas de qualificação e cursos gratuitos. A própria pesquisa do
IBGE indicou que grande parte daqueles que estavam frequentando uma
qualificação no período, o fizeram através da rede pública ou, até mesmo, na
própria empresa na qual estavam trabalhando.” E para concluir a importância
desse quesito na vida profissional, Pinheiro enfatiza “O levantamento
demonstra: mesmo num momento conturbado de crise, mais da metade daqueles que
concluíram a qualificação conseguiram uma oportunidade em sua área. Portanto,
essa é, sem dúvidas, a principal porta para que o jovem consiga ingressar no
mercado de trabalho”.
Fonte: Companhia de Estágios |
PPM Human Resources