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Foto: Amanda Lelis |
"Hoje, há uma grande
discussão sobre mudanças climáticas e sabemos que a Amazônia é, de um modo
geral, um sumidouro de carbono atmosférico. Ela sequestra e armazena parte
significativa do carbono da atmosfera, que está causando uma mudança no clima.
Mas os dados são da Amazônia como um todo. Se formos considerar as florestas
alagáveis, temos apenas uma aproximação, uma suposição. Então, queremos refinar
esses números", explicou Jefferson Ferreira-Ferreira, autor da pesquisa e
técnico do Instituto Mamirauá - que atua como uma unidade de pesquisa do
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
O professor doutor do Instituto
de Geociências e Ciência Exatas (IGCE) da Universidade Estadual Paulista
(UNESP), Thiago Sanna Freire, orienta Jefferson na pesquisa. Ele afirma que as
mudanças causadas pelo clima na Amazônia "podem levar a uma reorganização
e redistribuição significativa das comunidades vegetais das várzeas, com
efeitos diretos sobre a biodiversidade e a biogequímica desses
ecossistemas". Segundo o professor, a "análise dos registros
históricos de dados hidrológicos para os grandes rios amazônicos já sugere uma
intensificação do ciclo hidrológico nas últimas décadas, e predições usando
modelos hidrológicos indicam que pode haver uma intensificação e aumento na
frequência e recorrência de eventos extremos de seca e cheia, aos quais a
vegetação não se encontra adaptada".
Monitorando o ambiente
Para realizar uma parte do
trabalho, foram instaladas seis parcelas florestais - áreas delimitadas que
funcionam como "amostras" de florestas na pesquisa - em diferentes
tipos florestais da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá: várzea
baixa, várzea alta e chavascal, que passam por níveis diferentes de alagação.
As áreas estão sendo monitoradas regularmente. São coletadas amostras de
serrapilheira, que é a matéria orgânica depositada na floresta, composta por
folhas, galhos, flores, frutos e outros. A ideia dessa etapa, como explica
Jefferson, é compreender como a floresta devolve, ao ambiente, o carbono
absorvido em forma de gás da atmosfera.
A pesquisa também conta com a
análise de imagens de satélite, visando extrapolar as estimativas para áreas
maiores dentro da Reserva. "A ideia é compreender como diferentes regimes
de inundação influenciam a produtividade de um mesmo tipo florestal e captar
essa heterogeneidade da paisagem. Então,
uma vez que conseguimos mapear a duração da inundação e as fitofisionomias para
áreas maiores, conseguimos expandir este dado, que a gente está olhando só
localmente e em campo, para áreas maiores", comentou Jefferson, que é
geógrafo e também trabalha com Geotecnologias no Instituto Mamirauá.
Previsão da Inundação
Os eventos extremos de cheia e
seca costumam ser características conhecidas das mudanças climáticas. De acordo
com Jefferson, uma contribuição importante da pesquisa será o desenvolvimento
de uma modelagem da inundação na região contemplada pelo projeto. A partir
disto, seria possível prever o período e o nível de inundação das áreas, o que
contribuiria para o desenvolvimento de medidas para conter prejuízos ou para o
planejamento das atividades econômicas praticadas pelas comunidades
ribeirinhas.
Isso será possível com base em
análises estatísticas dos dados de monitoramento do nível da água realizado,
desde 1999, pelo Instituto Mamirauá na unidade de conservação. O modelo poderia
demonstrar espacialmente a duração anual da inundação, de acordo com o
autor. "Se este modelo de inundação
evoluir como estamos esperando, ele pode ser usado para muitas coisas como, por
exemplo, o manejo madeireiro ou para saber se os lagos estão conectados ou
acessíveis num determinado momento do ano e planejar a pesca", contou
Jefferson.
Anéis de crescimento
Outra metodologia utilizada pela
pesquisa será a dendroecologia, que é a análise das informações ecológicas
contidas nos anéis de crescimento de algumas espécies de árvores. Jefferson
comenta que, com as amostras da madeira, é possível reconstruir a história do
crescimento das árvores e também obter informações sobre o ambiente, em cada
ano de vida daquele indivíduo. "Na literatura, temos uma lista de mais ou
menos oitenta espécies cujos anéis de crescimento são marcados pela inundação.
Vamos selecionar as espécies que ocorrem ao redor das parcelas que instalamos,
para amostrar os anéis de crescimento", disse.
O geógrafo acredita que a
pesquisa pode melhorar as estimativas globais sobre o sequestro de carbono e
para apoiar iniciativas como políticas de mitigação de efeitos climáticos
causados pela emissão de carbono a partir da degradação ambiental.
"Queremos refinar esses números e dar um retorno para a comunidade
cientifica do que acontece, afinal, nesses ambientes de florestas
alagáveis", completou.
A
pesquisa é realizada no Instituto Mamirauá, como o projeto de doutorado de
Jefferson na Universidade Estadual Paulista (Unesp) - campus Rio Claro, e conta
com a colaboração de pesquisadores do Instituto Mamirauá, do Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Escola de Superior de Agricultura
"Luiz de Queiroz" na Universidade de São Paulo, da University of California Santa Barbara e
da Jet Propulsion Laboratory da National Aeronautics and Space Administration
(NASA). O estudo é realizado com o financiamento da National Geographic Society
e da NASA.