Vai ano, vem ano e no mundo da
estética e da beleza sempre surge alguma novidade que promete resolver
problemas e incômodos como num passe de mágica. A cada nova onda, os
especialistas ficam de cabelo em pé. No último verão foi o tal do bronzeamento
com fita isolante, com consequentes relatos de queimaduras grave na pele de
diversos clientes. A bola da vez são as olheiras. As rodelas de pepino e batata
sobre a área - dicas do tempo das avós - foram substituídas por tatuagem na
área abaixo dos olhos para cobrir os tons arroxeados ou amarronzados. Com
custos que variam entre R$ 1 mil e R$ 15 mil, prometem acabar com o semblante
cansado das pessoas.
Não é bem assim. A dermatologista
Livia Pino, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professora da
Universidade de Medicina de Valença, chama atenção para os diversos riscos de
optar por procedimentos como esse.
"Nós dermatologistas
desaconselhamos fazer a técnica da tatuagem nas olheiras. Essa região abaixo
dos olhos é uma das áreas mais finas da pele do nosso corpo, com grande
possibilidade de desenvolver alergias. Mesmo um tatuador muito experiente corre
o risco de colocar algum pigmento ali e estourar um vaso. Isso vai derramar
sangue e vai tatuar um outro pigmento, que é o ferro contido dentro da hemácia
e isso pode deixar a olheira mais escura definitivamente. Neste caso, esse
pigmento é praticamente impossível de tirar", esclarece a dra Livia Pino.
A médica explica que até existem
ácidos que poderiam ser usados para tentar diminuir o efeito de uma tatuagem na
região das olheiras, mas que as respostas não são tão boas assim. Na maioria
dos casos, melhora, mas não resolve totalmente.
Outra observação feita pela
especialista é sobre a dificuldade de achar uma tinta que seja exatamente da
mesma tonalidade da pele de cada pessoa.
"Se com o corretivo, que
temos uma infinidade enorme de opções de cores e marcas já temos essa
dificuldade, imagina uma tinta que fica permanente na pele! E vale lembrar que
as olheiras mudam de cor de acordo com vários fatores, tais como sono e
estresse. Essa olheira pode ficar mais escura um dia e mais clara no outro
tornando muito complicado conseguir colocar uma tonalidade permanente nesta
tatuagem", alerta a dermatologista Livia Pino.
Fator sol - Os especialistas
chamam atenção também para o fator sol; importante de se levar em conta por
vivermos no Brasil, um país tropical com alta incidência de radiação solar o
ano todo.
"Se a pessoa fizer a
tatuagem e se expor minimamente ao sol, a pele vai ficar bronzeada e a área que
tem o pigmento da tatuagem, não. Essa é uma região muito nobre do rosto, no
meio da face, que chama bastante atenção. A tatuagem não muda de cor com o sol
e não o bloqueia. Qualquer intervenção estética tem que se levar em conta que o
organismo nunca vai cessar o processo de envelhecimento. A pele vai envelhecer
e a tinta também. A olheira tatuada terá essa tinta microfagocitada com o
passar do tempo e, como qualquer tatuagem, vai ficando borrada", revela
dra Livia.
As causas das olheiras são as
mais diversas e isso é preponderante para o sucesso de qualquer tratamento. O
escurecimento da área dos olhos pode ocorrer devido a várias circunstâncias
passageiras como cansaço, privação do sono, fatores morfológicos, genéticos,
processo de envelhecimento. O ideal é que se trate essa região e existem vários
tipos de técnicas seguras e com eficácia comprovada como preenchimento e laser.
Perfil – Livia Pino é médica
dermatologista, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, tem pós-graduação em
Dermatologia pela Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Livia atua ainda como
professora da Faculdade de Medicina de Valença e Preceptora do ambulatório de
Pós-Graduação em Dermatologia da Policlínica Geral do Rio de Janeiro.