A energia elétrica faz parte do dia a dia das pessoas de uma forma tão
natural que raramente alguém imagina a vida sem ela. Mas, para quase 40 mil
famílias que moram em unidades de conservação (UCs) da Amazônia, ela ainda é um
sonho. Um sonho que, aos poucos, vem se tornando realidade com a chegada da
energia solar fotovoltaica nas comunidades locais. Na primeira semana deste
mês, a realidade da comunidade Cassianã, na Reserva Extrativista (Resex) Médio
Purus, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), nos municípios de Lábrea, Pauiní e Tapauá, no
Amazonas, começou a mudar com a primeira instalação fotovoltaica em uma escola
que atende a cerca de 60 alunos.
A partir de agora, a escola poderá contar com aulas noturnas e usufruir
de outros benefícios, como ventilador nas salas de aula, pesquisas pela
internet e iluminação adequada, além de economizar despesas com o combustível
usado para gerar energia. Segundo João Araújo, líder da comunidade, “às vezes,
falta inflamável (combustível) e o pessoal fica até três dias sem aulas”.
Somente para as aulas noturnas, são necessários em média três litros de
combustível para o gerador da escola, o que provoca gasto de R$ 450 por mês.
“O combustível vinha certinho para os dias de aula. Agora, vamos ter
mais tempo e luz para pesquisar. Acho que poderemos até ter uma impressora”,
disse Francisca Souza, aluna de Ensino Médio.
O barulho do motor também atrapalha muito as aulas. “Só em pensar que
agora não vamos mais ter mais esse incômodo, pra gente não tem preço. Tinha
noite que faltava voz”, desabafa o professor Cicleude Barroso, de Educação de
Jovens e Adultos. As melhorias são resultado do projeto Resex Produtoras de
Energia Limpa, uma parceria entre o ICMBio e o WWF-Brasil que tem o objetivo de
instalar seis sistemas fotovoltaicos em duas reservas extrativistas do sul do
Amazonas, a Médio Purus e a Ituxi.
Além da instalação do sistema fotovoltaico na escola, o projeto
capacitou moradores das duas reservas, eletricistas da prefeitura e estudantes
da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) para a instalação dos próprios
sistemas.
O conteúdo, de 40 horas, abordou os princípios básicos da eletricidade,
fontes renováveis e não renováveis, os componentes do sistema solar
fotovoltaico autônomo e como planejar e projetar esses sistemas solares, seus
conceitos básicos e a gestão comunitária de tecnologias sociais. Ao final da
atividade, na própria escola, onde todos treinaram na prática a instalação do sistema,
os alunos receberam certificado de participação e festejaram muito quando as
luzes da escola se acenderam.
Próximos passos
As instalações continuarão em setembro, com mais uma escola e um sistema
de bombeamento de água de rio na Resex Médio Purus. Já na Resex Ituxi, também
em Lábrea, serão instalados três sistemas para uso produtivo: bombeamento de
água, refrigeração e funcionamento de equipamentos como despolpadeiras de
frutas e extração de óleos vegetais.
“Com isso, os extrativistas acreditam que aumentarão a produção, poderão
conseguir melhores preços e também terão uma vida comunitária mais dinâmica,
fazendo das escolas centros também de cursos de tecnologia à distância e
espaços de vivência nos finais de semana”, afirmou a analista de conservação do
Programa Clima e Energia do WWF, Alessandra Mathyas.
Além da parceria entre o ICMBIO e o WWF-Brasil, a iniciativa tem o apoio
técnico da empresa Usinazul, do Instituto Mamirauá e o apoio institucional da
Schneider Eletric, J.A. Solar, UEA e da Prefeitura de Lábrea.
Saiba mais:
http://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/9028-energia-solar-ilumina-uc-na-amazonia