Os inúmeros malefícios causados pelo tabaco e pela bebida alcoólica em
excesso são bem conhecidos, mas quando o assunto são os cânceres de cabeça e
pescoço o perigo que esses dois vilões da nossa saúde representam – associados
- é impressionante. Alguém que fuma e bebe tem chances até 20 vezes maiores do
que as de uma pessoa saudável de desenvolver algum tipo de câncer em regiões
como boca, língua, palato, gengivas, bochechas, amígdalas, faringe, laringe,
esôfago, tireoide e seios paranasais.
A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) é de 23 mil novos
casos de câncer de cabeça e pescoço, em 2017, no Brasil. Em todo o mundo, o
câncer de cabeça e pescoço é o quinto de maior incidência. São mais de 780.000
casos por ano. De acordo com o INCA, no Brasil, é o segundo de maior incidência
entre os homens, ficando atrás apenas do câncer de próstata. As estatísticas
justificam a iniciativa da Federação Internacional das Sociedades Oncológicas
de Cabeça e Pescoço, que definiu o 27 de julho como o Dia Mundial de Combate ao
Câncer de Cabeça e Pescoço. Foi criada, há 4 anos, a campanha Julho Verde, com
o objetivo de motivar pessoas em idades com maior prevalência da doença (acima
de 40 anos) a realizar exames específicos para detecção precoce da doença, o
que aumenta muito as chances de cura.
O diagnóstico tardio, que representa 60% dos casos, no Brasil, além de
aumentar os índices de mortalidade, significa que o paciente muito
provavelmente terá sequelas. O câncer de cabeça e pescoço afeta diversas áreas
e funções do corpo humano, como a respiração, fala, deglutição, paladar e
olfato. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, os
principais sintomas são nódulo persistente no pescoço, lesão na boca que não
cicatriza (por mais de 20 dias) e rouquidão por mais de três semanas.
“Além de ficar longe do cigarro e bebidas alcoólicas, que são os
principais fatores de risco, todos devem lembrar que a higiene bucal é
importante na prevenção. O dentista é um profissional com papel fundamental no
diagnóstico precoce e deve ser visitado regularmente. O exame clínico do
pescoço, feito por um médico, também é essencial”, alerta a oncologista Bianca
Lastra.
Personagens:
O servidor público Afrânio Brito, de 48 anos, descobriu um câncer de
pele no pálato durante um tratamento dentário. “Tinha uma afta no céu da boca e
pedi um remédio ao dentista. Depois de duas semanas não melhorou e ele decidiu
me encaminhar para um serviço especializado em doenças bucais do hospital
Barros Barreto, onde foi feita a biópsia e confirmado o diagnóstico”, lembra
Afrânio.
A cirurgia para a retirada da lesão foi em abril do ano passado, e
durante os exames de acompanhamento, ele descobriu que as células cancerígenas
se deslocaram para os linfonodos na boca, causando uma reicidiva do câncer.
Afrânio Brito fez outra cirurgia no final de junho deste ano e vai começar o
tratamento com quimioterapia e radioterapia. “Não sou fumante e não costumo
beber, não sei o que causou esse câncer, mas o que que me importa agora é olhar
para frente, meu foco é me fortalecer para enfrentar o tratamento com otimismo
e me curar”, avalia.
Adilson de Souza, 70 anos, se incomodava com uma espinha que crescia na
orelha direita. Ao consultar um dermatologista, descobriu que era câncer de
pele (carcinoma) e precisou fazer uma cirurgia para retirar o tumor e
reconstruir a orelha em outubro de 2012.
Mas apenas um mês após a cirurgia, durante uma consulta a um dentista,
percebeu um nódulo no queixo. O câncer de pele havia progredido para a
mandíbula e ele precisou fazer mais duas cirurgias – para a retirada do nódulo
e depois para retirada das glândulas salivares – em novembro e dezembro de
2012. A quimioterapia e radioterapia foram feitas em fevereiro de 2013 e desde
então, Adilson faz exames de acompanhamento a cada seis meses.
Ele admite que foi fumante desde os 18 anos e só parou depois de
descobrir o câncer. “Graças a Deus, o tratamento foi tranquilo, apesar dos
efeitos colaterais da quimioterapia serem fortes. Hoje, as únicas sequelas são
uma perda parcial do paladar e a diminuição da salivação, por isso tenho que
beber bastante água. Mas me cuido para me manter livre do câncer”, diz Adilson.
Câncer e HPV - Apesar de atingir principalmente fumantes e pessoas que
consomem bebidas alcoólicas, é cada vez mais frequente o diagnóstico da doença
em indivíduos jovens, sem a exposição a esses fatores, com tumores originados
pelo HPV. O Ministério da Saúde estima que cerca de 7% da população brasileira,
mesmo sem saber, podem ter o vírus HPV na boca. “Estudos recentes demonstram
que a infecção oral pelo HPV é um fator de desenvolvimento do câncer de faringe
e de boca. Uma das formas de contágio é por meio da prática do sexo oral sem
proteção”, finaliza a médica.