Com o objetivo de utilizar o
teatro como ferramenta de transformação social, nove internas custodiadas pela
Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) estão participando
de uma oficina de teatro ministrada pelo professor de Artes Cênicas da
Universidade Federal do Pará (UFPA), Paulo Murat.
Os ensaios são para o espetáculo
"Encontros, Desencontros e Peripécias", uma releitura da obra "A
Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga. As aulas ocorrem de segunda a sexta-feira, no
Centro de Recuperação Feminino (CRF) de Ananindeua, de 13 às 16h. A peça será
apresentada no Teatro Margarida Schivasappa, em novembro.
A dramatização integra o projeto
de remição de pena “A Leitura que Liberta”, desenvolvido pela Susipe há dois
anos em cinco unidades prisionais, envolvendo as disciplinas de língua
portuguesa e história. No projeto, os custodiados escolhem uma obra, dentre
várias que compõem um acervo de livros previamente selecionados, e possuem um
mês para a leitura e a produção de um relatório de leitura ou uma resenha, para
aqueles que possuem ensino superior. A cada obra lida são remidos quatro dias
da pena.
No primeiro momento, as internas
encenaram a peça teatral com fidelidade à obra “A Bolsa Amarela, durante a
Feira-Pan Amazônica do Livro, em maio deste ano. A novidade agora é que haverá
a adaptação da obra com as aventuras reais vividas pelas detentas, como explica
a professora de história que participa do projeto, Elizete Assunção. “O que
vamos levar até o público nesta segunda etapa é a adaptação da obra com base
nas experiências e vivências que as leitoras possuem até chegarem aqui. Cada
uma vai ter a oportunidade de expor um pouco da sua história de vida, que não
se resume apenas ao que está sendo vivido dentro do cárcere.
O teatro surgiu na Grécia e os
seus benefícios são conhecidos em todo o mundo. Estimular o autoconhecimento,
melhorar a autoestima, provocar a auto-reflexão e possibilitar maior
consciência corporal, raciocínio e criatividade são alguns dos benefícios.
Para o professor de artes cênicas
da UFPA, Paulo Marat, o teatro, como a arte em geral, é uma ótima ferramenta de
transformação e também de reinserção social. “O exercício artístico apura a
sensibilidade, antes travada pelas experiências negativas e positivas. O teatro
traz outro olhar para a vida. Isto acontece com elas também. Elas se veem e
veem o mundo de outra maneira. O primeiro passo da mudança está dado”,
ressaltou.
Quando estava em liberdade o
teatro nunca foi algo que interessasse para a detenta Nazaré Pombo, mas depois
do primeiro contato e as descobertas que a iniciativa lhe proporcionou, sua
opinião mudou. “Nunca tinha feito teatro, nunca tinha ido a um teatro porque
achava muito chato. Mas, depois que tu começas a conhecer, a interagir com
outras pessoas, a fazer coisas que nunca tinha feito antes, começa a ter uma
visão totalmente diferente. Eu estou amando fazer teatro, é uma forma de se
conhecer, de se libertar, eu sou tímida, não gostava de falar em público. No
teatro eu posso sorrir, posso chorar e isso me fez ver que não é só fazer a
peça, mas fazer coisas que nunca pensou que ia fazer e conseguir. Está sendo um
momento muito especial”, declarou.
A expectativa para a estreia é
grande. Com a aproximação do espetáculo, cresce também a vontade de não parar
por aí. “A expectativa é maravilhosa, antes fazíamos o personagem e agora a
história que vai ser contada é de cada uma de nós. Todas têm boas histórias
para contar, para fazer rir e até chorar. Quando terminar essa, já penso em
fazer outra. Espero que o povo goste”, disse Elzeman Ledo, outra detenta que
participa dos ensaios.
O espetáculo busca também
alcançar jovens de escolas públicas e alertar sobre determinadas escolhas, como
detalha a diretora do CRF, Carmem Botelho. “Ao fazer com que os jovens assistam
a esta peça que as detentas estão produzindo, estamos buscando alertá-los que o
caminho que eles possivelmente estão tomando acabará em uma prisão, além de
fazer com que as internas se reintegrem na sociedade e não voltem para a
criminalidade”, concluiu.